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Inversão de ciclo, oferta, consumo e China: Qual a tendência para o boi no 2º semestre de 2023?

04 jul 2023, 9:32 - atualizado em 04 jul 2023, 10:11
Boi Gordo Gado Agropecuária
De acordo com Rabobank, fatores como os elevados índices de abate de fêmeas e a queda nos custos de produção pressionam os preços do boi (Imagem: Unsplash/@tumbao1949)

Ao longo dos seis primeiros meses de 2023, você acompanhou aqui no Agro Times alguns fatores que mexeram com o mercado do boi gordo neste ano. Entre eles: exportações de carne para China, inversão do ciclo pecuário e custos de produção em queda.

No entanto, o segundo semestre parece mostrar uma nova tendência para a oferta de animais, assim como a dinâmica de preços.

Sobre o cenário para a arroba, ouvimos Wagner Yanaguizawa, analista econômico de proteína animal no Rabobank.

Preços e abate de fêmeas

Para Yanaguizawa, está claro que existe um movimento de recuperação para os preços da arroba, muito por conta da recuperação da retomada dos embarques para China, principal cliente do Brasil, com o fim do embargo que perdurou entre fevereiro e março, após um caso atípico de “mal da vaca louca”.

“No acumulado de junho até o dia 23, houve um incremento de 33% no volume de carne in natura do Brasil que foi exportada, na comparação com o mesmo período do ano passado. Assim, de acordo com as previsões, junho deve superar 200 mil toneladas exportadas, o que é um grande avanço em termos de oferta”, explica.

Se para a oferta de animais há uma melhora, para demanda, por outro lado, há uma limitação, cenário que pressiona ainda mais os preços para a China.

“Isso acontece por conta dessa inversão de ciclo, com a redução de animais a pastos e a projeção de um menor abate de fêmeas já nos próximos meses. Basicamente, o produtor que reteve fêmeas até agora, deve esperar pela estação de monta entre setembro e outubro. Assim, devemos ver uma menor oferta de fêmeas, e isso é um limitador e deve implicar em maiores preços”, discorre.

Oferta do boi

No lado da oferta, houve um enxugamento em algumas regiões. “Estamos vendo uma redução nas escalas de abate pelos frigoríficos, basicamente por conta de um momento de transição, com a redução dos animais engordados no pasto, para um volume maior de animais confinados”, comenta.

Outro ponto destacado pelo analista do Rabobank fica para o abate de fêmeas, que ficaram em patamares muito elevados no 2º trimestre do ano.

“Junho marca o quarto mês seguido em que os abates de fêmeas estão acima dos de macho no Brasil, na casa dos 52%, o que é bem atípico e deixa nítido esse cenário de inversão de ciclo e maior atratividade para o abate”, diz.

Demanda e exportações para China

Entretanto, no curto e médio prazo, a China deve sustentar a demanda brasileira, ainda que os preços de exportação estejam menores do que os praticados no mesmo período do ano passado, quase 30% menores.

“A China deve continuar com um apetite acelerado, muito em função do feriado da Golden Week (1º a 7 de outubro). Dessa forma, o grande desafio para demanda continuará sendo o mercado doméstico, é o que continuará trazendo uma pressão negativa em termos de fundamentos, mas, no âmbito da sazonalidade, vemos uma recuperação nos preços”, aponta.

Confinamento

Para o Rabobank, o momento atual conta com estímulos para o confinamento de animais.

“Com a queda dos custos da reposição, a gente vê um cenário positivo, com o preço bezerro em tendência de queda, chegando mais próximo de um limite, mas ainda com espaço para queda (o que estimula o abate de fêmeas). Além disso, o preço da ração tem caído de maneira intensa nos últimos 2 meses, com o mês de maio apresentando a menor média desde agosto de 2020, uma queda muito significativa dos principais componentes de custos”, diz.

Porém, para os produtores que não tiveram uma comercialização muito boa em termos de reposição e que tiveram uma exposição maior para compra de ração, existe um fluxo de caixa mais apertado em termos de atratividade para colocar animais no cocho.

Novos destinos de exportação e consumo no Brasil

Na semana passada, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) sinalizou uma possível abertura para exportar carne bovina para Coreia do Sul e Japão.

“Esses dois destinos são mercados de muito valor agregado, que todo exportador que ter acesso, porque pagam muito bem. Para o Brasil, seria ótimo, principalmente para avançarmos no embarque de carnes premium, que temos incrementado nossa produção nos últimos anos”, diz.

Por fim, Yanaguizawa acredita que o consumo doméstico no Brasil deve ser o principal desafio do setor em 2023.

“A tendência de perda de poder de compra deve se manter nesse ano, mesmo com maior oferta e preços menores de carne bovina, o que não deve permitir recuperação do consumo per capita. Em termos de fundamento pode ser um fator de pressão negativa nas cotações do boi gordo”, conclui.

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