Invasão da Ucrânia: Brasil não pode ser ambíguo, diz Aloysio Nunes, ex-chanceler, ao MT
Em entrevista ao Money Times na manhã desta quinta-feira (24), o ex-chanceler brasileiro Aloysio Nunes, do governo Michel Temer (MDB), afirmou esperar que o Itamaraty tome uma posição, sem nenhuma ambiguidade, condenando a ação da Rússia contra a Ucrânia.
Durante a madrugada, o presidente russo, Vladimir Putin, autorizou uma operação militar no leste da Ucrânia. Após a invasão, segundo o país, já são ao menos 64 mortos, entre civis e militares, e 30 feridos.
Para Nunes, as pretensões russas não deixam de ser justas, que é garantir a segurança de suas fronteiras ocidentais. Ele destaca que historicamente o país lidou com invasões que ameaçavam a sua soberania.
No entanto, o ex-ministro pondera que a ação militar unilateral é “fazer justiça com as próprias mãos” sem o amparo da lei para defender uma pretensão, ainda que seja legítima. Ele chamou de “passo aventureiro do presidente Putin”.
“A partir dessa madrugada, a Rússia deu um passo adiante, ela agrediu, ela exerceu arbitrariamente as suas próprias razões”.
“Eu acompanhei as declarações e as manifestações do embaixador [do Brasil da ONU] Ronaldo Costa Filho, que absolutamente afirmam a linha tradicional da diplomacia brasileira, que é a defesa da ordem internacional, a solução dos conflitos pela diplomacia e o repúdio por ações unilaterais”.
Sobre uma reação por parte da comunidade internacional, não apenas do Ocidente, Nunes afirmou ser necessário. “Os países da União Europeia estão se movimentando para encontrar uma solução diplomática, [com] o Emmanuel Macron [presidente da França] e o Olaf Scholz [primeiro ministro da Alemanha]”.
China mantém silêncio sobre Ucrânia
O ex-ministro mencionou que ainda não havia visto nenhuma declaração por parte da China, mas disse que o país tem razões históricas para repudiar a agressão à soberania de qualquer país.
“Penso que a memória dos chineses é longa e [o país] ainda mantém no seu espírito a invasão da Manchúria[região leste da Ásia] pelos japoneses. Espero que a China tenha uma posição de prudência para promover ao menos a retirada das tropas russas”.
Na manhã de hoje, o país não quis chamar os ataques de “invasão” e apelou para que todos os lados exerçam contenção.
Sobre o que pode ser feito a partir de agora, o ex-chanceler acredita que tanto as razões da Rússia, sobre promover a segurança da sua fronteira, e a soberania da Ucrânia, são direitos legítimos dos países. Para ele, isso é muito difundido entre a comunidade internacional.
“São, portanto, duas linhas vermelhas que não devem ser atravessadas, [porém] uma delas já foi atravessada, que é a violação da soberania ucraniana. Por isso [a importância] do esforço da comunidade internacional, para ao menos congelar a situação militar e abrir espaço para os diplomatas trabalharem”.
Celso Amorim
Em declaração ao Money Times, o ex-ministro Celso Amorim, do governo Lula (PT), também condenou a situação.
“Isso não é admissível, como nós não admitimos também quando os norte-americanos atacaram o Iraque, entre outras situações. Eu pelo menos secundaria o apelo do secretário-geral da ONU pela paz, mas isso só pode ser obtido por negociações”.
“Agora têm que se negociações de boa fé, que levem em conta, naturalmente, os princípios de direito internacional, que são fundamentais, inclusive a integridade dos Estados, mas também leve em conta as legítimas preocupações de segurança de todos os envolvidos”.