Invasão da Ucrânia: Brasil condena Rússia na ONU; veja o duro discurso do embaixador brasileiro
Apesar da recente visita do presidente Jair Bolsonaro ao seu colega Vladimir Putin, em que o brasileiro declarou solidariedade ao anfitrião, e de sua posição reticente sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia, o Brasil endureceu seu discurso no Conselho de Segurança da ONU nesta sexta-feira (25).
Ocupando um assento rotativo, o Brasil criticou a invasão, defendeu o fim imediato dos ataques e a retirada das tropas da Rússia do território ucraniano.
“Renovamos nosso apelo para a interrupção completa das hostilidades, a retirada das tropas e a imediata retomada do diálogo”, afirmou o embaixador brasileiro na ONU, Ronaldo Costa Filho. “Não há alternativa à negociação para solucionar a presente crise”, acrescentou.
Costa Filho também foi duro ao tratar das razões da Rússia para justificar o ataque ao país vizinho. “As preocupações com a segurança, expressas pela Federação Russa nos últimos anos, particularmente em relação ao balanço estratégico de forças na Europa, não dão direito à Rússia de ameaçar a integridade territorial e a soberania e outro Estado”, afirmou.
A reunião do Conselho de Segurança da ONU, hoje, tinha o objetivo de aprovar uma resolução condenando o ataque russo à Ucrânia e exigindo a retirada imediata das tropas. O texto recebeu 11 votos favoráveis, mas não pôde ser aprovado, devido ao veto da Rússia, membro permanente do órgão. China, Índia e Emirados Árabes se abstiveram.
Veja o discurso completo de Ronaldo Costa Filho, embaixador do Brasil na ONU, no Conselho de Segurança da ONU:
“Vivemos circunstâncias sem precedentes de ameaça à ordem internacional e à Carta da ONU. Estamos seriamente preocupados com as operações militares russas contra alvos no território soberano da Ucrânia. Acreditamos que este conselho deve se esforçar para mostrar uma decisão unida de buscar soluções diplomáticas a todas as ameaças à segurança internacional e, também, perseguir um acordo para a crise ucraniana, à medida que ouvimos relatos de crescentes vítimas civis, medo e devastação na Ucrânia. É um cenário que toda guerra, inevitavelmente, proporciona. Nosso principal objetivo agora é interromper imediatamente as hostilidades.
Como deveríamos fazer isso? Primeiro, o Conselho de Segurança deve reagir imediatamente ao uso da força contra a integridade territorial de qualquer dos Estados-membro. Uma linha foi cruzada, e este Conselho não pode permanecer em silêncio.
Segundo, e não menos importante, precisamos criar condições para o diálogo entre todas as partes envolvidas. O mundo não pode proporcionar um ponto de não retorno, em que as partes vejam a vitória militar como a única avenida para encerrar o conflito.
Durante a negociação desta resolução, o Brasil tentou buscar esse equilíbrio para manter o espaço para o diálogo, enquanto ainda sinalizava que o uso da força contra a integridade territorial de um país-membro não é aceitável no mundo de hoje.
Estamos, também, profundamente preocupados com a decisão da Rússia de engajar suas tropas em operações militares e com a perda de vidas e com o perigo à população civil. Continuamos a sustentar a firme convicção de que ameaças e força não levarão a crise a uma solução duradoura. A ação militar infringirá danos à fé na lei internacional e colocará milhões de vidas em perigo.
A missão do Conselho de Segurança não terminou, se nossos esforços falharam em evitar a guerra. É nosso dever perseverar e buscar a suspensão imediata das hostilidades. Devemos nos esforçar para encontrar meios de restaurar a paz na Ucrânia e em toda a região.
Renovamos nosso apelo para a interrupção completa das hostilidades, a retirada das tropas e a imediata retomada do diálogo. Não há alternativa à negociação para solucionar a presente crise. As preocupações com a segurança, expressas pela Federação Russa nos últimos anos, particularmente em relação ao balanço estratégico de forças na Europa, não dão direito à Rússia de ameaçar a integridade territorial e a soberania e outro Estado.
O Conselho de Segurança tem a legitimidade e, com a boa vontade de todos, adotar medidas para reparar essa perigosa situação. O sistema coletivo de segurança das Nações Unidas repousa, em última instância, sobre o pilar da lei internacional. A igualdade de soberania e de integridade territorial de um membro da ONU não são palavras vazias.
É nosso dever dar um significado concreto às mais elevadas aspirações aos idealizadores da Carta da ONU. Este é o nosso legado mais precioso. Livrarmo-nos do flagelo da guerra foi a verdadeira razão para o estabelecimento da ONU.
No fim, a paz e a ordem internacionais devem prevalecer, e não devemos descansar até que nossa missão esteja cumprida.”