Economia

Invasão da Ucrânia aciona alerta sobre inflação; saiba se existe impacto sobre a Selic

25 fev 2022, 16:45 - atualizado em 25 fev 2022, 16:47
Banco Central
Saiba se o Banco Central do Brasil (BCB) pode agir de maneira mais forte nas próximas reuniões com a escalada das tensões na Ucrânia (Imagem: Agência Brasil)

A invasão na Ucrânia aciona um sinal de alerta nos mercados quanto à possibilidade de uma mudança no posicionamento dos bancos centrais em relação à inflação.

O ataque do governo russo contra o país ucraniano tem a capacidade de pressionar ainda mais a inflação no mundo, segundo especialistas da assessoria de investimentos Blue3.

Isso já é visto nos preços das commodities, com o petróleo chegando a atingir acima dos US$ 105 o barril nesta quinta-feira (24), e deve pesar ainda mais na cadeia energética global.

“Os países já vêm sofrendo com pressão inflacionária da Covid. A gente vê todos os bancos centrais ainda brigando contra essa inflação, com vários tomando ações diferentes: aumento da taxa básica de juros, incentivos… Estamos brigando contra a inflação da Covid e entra no cenário esse problema de cadeia de suprimento mundial, principalmente energético, na Rússia, que vai pressionar ainda mais a inflação em todo o mundo”, comenta Fernando Bueno, da área internacional da Blue3.

A Rússia responde por aproximadamente 15% do balanço de carvão metalúrgico e térmico do mundo, sendo responsável por 30% e 60% das importações europeias.

Em relação à oferta de energia, o país é o terceiro maior produtor de petróleo e o segundo maior produtor de gás natural do mundo.

Na produção de metais, a Rússia é responsável por cerca de 5-10% da produção global de metais básicos, com destaque para alumínio e níquel.

Muda alguma coisa para a Selic?

De acordo com Victor Licariao, sócio e líder de produtos e alocação de renda varíavel da Blue3, o cenário global atual liga um sinal de alerta, principalmente para o Brasil, um país com forte ligação a commodities.

Na avaliação de Licariao, a “grande baliza” dos próximos dias são os preços dos commodities.

“O banco central brasileiro vai estar muito de olho nisso. Preço do petróleo, da soja, do milho, do boi… Porque, realmente, esse choque inflacionário pode perdurar mais tempo com os preços mais altos”, explica.

De acordo com o especialista, se o desarranjo na cadeia de suprimentos persistir, é possível que o Banco Central do Brasil (BCB) aja de maneira mais forte nas próximas reuniões.

Licariao afirma que é importante observar o tom da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) para ver se as autoridades continuarão subindo os juros (na última reunião, a Selic teve uma revisão de alta de 1,50 ponto percentual, para 10,75% ao ano) ou se a expectativa de corte de juros no fim do ano vai, de fato, se materializar.

“Acho bem difícil já no fim do ano ter uma materialização de corte, porque provavelmente a inflação vai demorar mais tempo para arrefecer”, opina.

De acordo com Alexsandro Nishimura, economista, chefe da área de conteúdo e sócio da BRA, o potencial impacto gerado pela cotação do petróleo pode ser mais um fator para pressionar o Copom a alongar o ciclo de aperto monetário.

Já João Beck, economista e sócio da BRA, acha pouco provável que o Copom suba ainda mais os juros do Brasil, visto que os impactos da alta da taxa de juros “já são muito presentes” na economia.

“A gente já está tratando a recessão, os salários não estão subindo muito. A geração de emprego não está subindo, a produção industrial, a atividade do setor de serviços… Ou seja, há vários elementos da economia brasileira que mostram que já estávamos em início de desaceleração – muita taxa de juros rolando aqui”, diz Beck.

Para alguns especialistas, o agravamento do conflito no Leste Europeu não afeta tanto a Selic.

Mauro Rached, chefe da área de investimentos do Daycoval, afirma que, em um cenário de resolução rápida – visto como o mais provável -, as tensões na Europa possuem pouca ou nenhuma influência. Já em um cenário em que o conflito pode se prolongar ou agravar, há a possibilidade de impacto no crescimento e inflação globais.

Federal Reserve
O Fed vai ter que ser muito contido no tom e na própria ação para não assustar o mercado, diz especialista (Imagem: REUTERS/Chris Wattie)

A incógnita Fed

No caso dos EUA, Beck afirma que a situação é mais complexa, uma vez que o país está atrasado na decisão de iniciar um ciclo de alta de juros.

“Muitos países subiram a taxa de juros também atrasados, mas de forma mais acentuada para compensar esse atraso. Os EUA não iniciaram o ciclo ainda”, destaca o economista.

A ata da última reunião do Federal Reserve (Fed), o banco central norte-americano, indicou uma postura mais hawkish (agressiva em relação à inflação) por parte das autoridades monetárias, que decidiram manter inalterada a taxa de juros do país entre 0-0,25% e sinalizaram a primeira elevação em março.

Na reunião, o Fed também sinalizou que espera dar início à redução do seu balanço patrimonial logo após a alta dos juros.

Na opinião de Beck, o Fed está em uma sinuca de bico. Segundo o especialista, se ele fizer um arrocho muito forte, ou seja, subir a taxa de juros de forma muito acentuada, poderá desestabilizar a economia do país, que está endividada (as empresas, principalmente).

Para Beck, o Fed vai ter que ser muito contido no tom e na própria ação para não assustar o mercado.

“Pode ser que o Fed, na prática, acabe entregando mais alta de juros, porque a inflação vai bater. Só que ele não pode subir muito o tom”, destaca o economista. “Se tiver arrocho, será algo muito pequeno, justamente para não causar um risco moral muito grande de uma fuga de investidores no país”.

Com colaboração de Kaype Abreu

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