Interrupções de contêiners no Mar Vermelho vão pesar no bolso do brasileiro? Entenda
Nesta segunda-feira (06), a Maersk anunciou que as interrupções no transporte de contêineres na região do Mar Vermelho estão aumentando, um problema que deve continuar até o final do ano e que influencia também o Brasil.
Segundo a empresa, os ataques do grupo Houthi no Mar Vermelho, afetando o Canal de Suez, elevou fretes, com tempos de viagem maiores, e gastos de combustível por viagem.
Além dos gargalos no Canal de Suez, as secas observadas no Canal do Panamá, influenciadas pelo El Niño, também afetaram o trânsito pelo local.
Conflitos no Mar Vermelho afetam fretes marítimos
Marcio Dias, diretor comercial (CCO) da Craft, multinacional brasileira especializada em transporte internacional, explica que o Canal de Suez é responsável por cerca de 12% do tráfego marítimo mundial, sendo uma rota crucial para navios que viajam entre a Europa e a Ásia, por encurtar as distâncias durante a viagem.
Ele também cita dados do Datamar, consultoria de inteligência de dados de comércio marítimo, que apontam o fato de cerca de 9% de toda a carga brasileira de contêineres utilizarem o Canal de Suez.
Já o Canal do Panamá realiza o tráfego entre a costa leste dos Estados Unidos (EUA) e a costa oeste da América do Sul.
Jackson Campos, diretor de relações institucionais da AGL Cargo, complementa que ambos os canais são utilizados por navios, não necessariamente brasileiros, que vem para o Brasil ou conectam carga com o país.
“Na maioria das vezes, os navios brasileiros estão fazendo cabotagem na nossa costa”, afirma.
- Receba matérias especiais do Money Times + recomendações de investimentos diretamente em seu WhatsApp. É só clicar aqui e entrar na In$ights, comunidade gratuita.
Fernando Blasi, gerente de importação FCL da Craft, afirma que as obstruções podem ter impactos indiretos na economia brasileira.
“Os dois canais são importantes para o transporte marítimo global, e as interrupções podem afetar de maneira significativa o fluxo de mercadorias e o custo do transporte, resultando naturalmente em elevação nos preços dos produtos importados e exportados pelo Brasil”, afirma Blasi.
Ele afirma que a mudança de rota causada pelos ataques do grupo iemenita no Mar Vermelho, fazendo com que navios precisassem contornar o Cabo da Boa Esperança, na África do Sul, aumentou o tempo de viagens em 15 dias, afetando também os fretes marítimos, que tiveram um aumento de até 60% na rota.
“Embora o Brasil não seja diretamente afetado, uma interrupção prolongada poderia levar a aumentos nos custos de transporte e atrasos nas entregas de produtos importados e exportados, o que poderia ter impactos na economia brasileira”, complementa.
Ele finaliza afirmando que o Brasil possui diversas rotas alternativas para o comércio internacional, com os impactos das obstruções dependendo de inúmeros fatores, desde a duração da interrupção até questões econômicas.
Jackson também cita a geração de custos extras para os navios parados, que aguardam para atracar nos portos, incluindo despesas com combustível e pessoal.
Entre outras consequências para os navios, Marcio Dias cita o acionamento de seguros para cobrir custos associados a atrasos e interrupções causados por obstruções, “o que pode resultar em aumentos nos prêmios de seguro no futuro”.
Soja e milho estão entre os produtos que passam pelas localidades
Sobre os produtos brasileiros que transitam pelas localidades, o diretor de RI da AGL Cargo afirma que são itens essenciais.
“No Canal de Suez, por exemplo, todos os produtos importados e exportados da Índia passam por lá, assim como as transações para o Oriente Médio, tanto na importação quanto na exportação”, afirma.
Já sobre o Canal do Panamá, ele complementa que muitos produtos que passam pela América do Sul e pelo Caribe são afetados, como tecidos, carnes, peixes, entre outros.
- Não sabe onde investir neste momento? Veja +100 relatórios gratuitos da Empiricus Research e descubra as melhores recomendações em ações, fundos imobiliários, BDRs e renda fixa
Marcio arremata com outros produtos, como grãos e alimentos, citando, entre outros, soja, milho e café, minérios e produtos manufaturados.
Para mitigar os impactos negativos, Dias reitera a necessidade de planejar com antecedência as rotas de transporte e operações logísticas.
Além disso, diversificação de rotas de transporte, uso de tecnologias que permitam a melhor coordenação de operações em caso de interrupções e contratos de transporte mais flexíveis, que permitem ajustes em operações, também ajudam a lidar com entraves.