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Inteligência artificial: Você está pronto para o novo capítulo desta busca centenária?

08 maio 2023, 11:29 - atualizado em 08 maio 2023, 11:29
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Em 1927, o filme Metropolis antecipou questões que ainda desafiam a inteligência artificial (Imagem: Divulgação/ Warner Bros.)

A ideia de inteligência artificial tomou holofotes graças ao ChatGPT, Midjourney e outros anúncios de modelos de IA que já estão no mercado. A moda agora é essa e muitos a veem como algo novo e do futuro, mas a inteligência artificial é apenas parte de uma busca de quase um século.

A inteligência artificial reflete o desejo de o homem criar algo  que tenha “vida” e “autonomia”. Boa parte do que entendemos hoje como tecnologia vem dessa busca, e ela também se deu por meio da literatura e das artes em geral, que inspiraram os modelos que estão se tornando realidade.

Em 1927, foi lançado Metropolis, o primeiro filme de ficção científica. Metropolis é baseado no livro, publicado em 1925, de mesmo nome coescrito por Thea von Harbou e Fritz Lang, que também dirigiu o filme. A obra retrata um futuro distópico que se passa em 2026.

Não irei aqui discorrer sobre toda a trama, mas algo que merece atenção é que o filme traz o conceito de androide. Muito antes de ser o nome do sistema operacional do Google, a palavra Android já definia um ser mecânico, mas com comportamento e aparência de seres humanos. No filme e no livro, um cientista cria uma androide para substituir a perda da mulher que amava.

Essa visão ajudou a moldar a forma como o ser humano estuda a criação, desenvolvimento e busca nos campos da ciência de tecnologia e robótica. Seria possível chegarmos a 2026 e criarmos essa forma de “vida” vislumbrada em Metropolis?

Essa busca foi aperfeiçoada por Isaac Asimov, conhecido como o maior expoente da literatura de ficção científica. Na obra “Eu, robô”, uma coletânea de contos lançada em 1960, Asimov definiu as três leis da robótica, respeitadas até hoje:

1ª lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal.
2ª lei: Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a Primeira Lei.
3ª lei: Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira e a Segunda Leis.

Essas regras geraram o debate sobre essa busca desenfreada do homem conseguir criar. Por diversas vezes, a cultura pop, principalmente no cinema, desafiou essas regras e isso sempre fascinou as pessoas.

Você me dirá: “legal, mas eu já vi um monte de robôs por aí, atendendo ao público, ou em casa, nem que como seja aspirador. O que isso tem a ver com inteligência artificial?” A resposta: tudo a ver. Por mais que sejam fantásticos, esses robôs ainda não possuem uma inteligência artificial real. Por vezes, são incorporam ótimos assistentes de voz e apenas isso.

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Inteligência artificial: O que é um androide, afinal?

Na base de todo Android, está a ideia de que seja capaz de tomar decisões e aprender. As inteligências artificiais que você vê são resultados da fusão de dois campos da pesquisa que emulam a mente humana.

A capacidade humana de tomar decisões necessita de acesso à informação, somada à capacidade de aprendizagem. Exemplo simples: como você escolhe seu sorvete preferido? Com base em suas memórias (informação), você sabe se aquilo foi saboroso ao paladar (aprendizagem de sabor) e escolhe repetir ou aquela sensação.

Já a inteligência artificial soma a ciência de buscadores para compor sua “memória”. A base de dados é a internet e a ciência e campo da pesquisa é conhecida como machine learning. Antigamente, os buscadores não tinham uma indexação automática. Para ter seu site nos principais buscadores, você precisava pagar para ser inserido manualmente. O Google mudou essa forma de busca e tudo foi elevado ao infinito em sua indexação. E o machine learning dá a capacidade, por meio de algoritmo, de encontrar padrões em massas de dados e assim fazer previsões.

Os pesquisadores desenvolveram as duas estruturas (acesso à informação e capacidade de aprender) de forma separada. Agora, a inteligência artificial promove a união a tecnologia de buscadores com o machine learning. O resultado não é apenas uma máquina capaz de buscar informações, mas também de elaborar ideias e tomar decisões.

Estamos em 2023 e, tal qual em Metropolis, a ciência evolui para que os robôs tenham uma mente autônoma, capaz de decidir com base na inteligência artificial.

Logo, o próximo capítulo será a integração da “mente” e do “corpo” e o Android imaginado no livro de 1925 tomará forma. Não será apenas um assistente de voz, mas um caminhante máquina entre os seres biológicos. Não tenho dúvidas de que veremos isso em breve. Chegaremos, então, ao fim dessa busca humana de criar uma “vida”? Não!

Com certeza, abriremos uma outra frente de questionamentos. Se a máquina puder pensar e agir, ela terá lugar na sociedade? Quais seriam seus direitos? Ou não teria nenhum? Alcançado o sonho do livro de 1925, estaremos cada vez mais perto de discussões trazidas por outras obras, como Matrix, no começo dos anos 2000, ou Blade Runner.

Talvez, essa inteligência artificial dotada de mente e corpo julgue que o ser humano tem mais defeitos que virtudes e, como Ultron, em Os Vingadores, decida nos destruir. Mas, talvez, outros seres artificiais, como Visão, também do universo Marvel, acreditem que somos capazes de evitar a autodestruição.

Essa dualidade de médico e monstro de nossas IAs nada mais é o reflexo da dualidade de seu criador, o homem, dividido entre o Bem e o Mal. Você está preparado para o próximo capítulo da evolução da inteligência artificial? Então, prepare-se: não vai demorar muito!