Inteligência artificial: Bancos conseguirão evoluir sem perder a humanidade?
“Mitigar o risco de extinção pela inteligência artificial deve ser uma prioridade global, ao lado de outras ameaças em escala social, como pandemias e guerra nuclear”. A curta e direta recomendação do Centro de Segurança de Inteligência Artificial (Cais) – instituição sem fins lucrativos que tem entre os seus membros o fundador do OpenAI, Sam Altman, e executivos da Microsoft e Google – repercutiu nos últimos dias como um alerta.
O tema ganhou uma proporção ainda maior quando Estados Unidos e União Europeia anunciaram a elaboração de um código de conduta voluntário para regular a inteligência artificial. Essa articulação evidencia a necessidade de compreender todas as nuances do avanço tecnológico e principalmente os seus riscos.
A inovação precisa ser usada em favor dos setores produtivos, com respeito à vida, à legislação e aos direitos universais. Talvez as palavras mais indicadas para traduzir a recomendação de especialistas no assunto sejam responsabilidade e bom senso.
O fato é que a evolução digital está em curso e é irreversível. A expansão de chatbots que usam IA superou recordes de acessos que pareciam imbatíveis. Nem o TikTok foi tão veloz em popularização: demorou nove meses para alcançar seus primeiros 100 milhões de seguidores, enquanto o ChatGPT bateu a mesma marca em apenas 60 dias. Analistas do banco suíço UBS chegaram a afirmar que, em 20 anos, nunca identificaram um aplicativo que tenha chegado tão rápido ao consumidor.
Instituições financeiras estão preparadas para a inteligência artificial?
Os bancos estão atentos desde 2010, aproximadamente, às infinitas possibilidades da inteligência artificial. Um exemplo disso são as famosas fichas cadastrais gerenciadas por algoritmos, que analisam e unem dados para identificar padrões de comportamento e tendências ligadas à renda e ao próprio risco de inadimplência.
Outra utilização já consolidada está no atendimento aos clientes. Ao longo dos anos, os correntistas se habituaram a tirar dúvidas com a Bia, do Bradesco (BBDC4), ou com a Olivia, do Credicard Beta. Até bancos públicos aderiram ao modelo, como a Bah, do Banrisul (BRSR6), que está em processo avançado de implementação.
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Agora, o principal desafio está em antecipar a reação de investidores. O JPMorgan, um dos maiores bancos de investimento do mundo, já avalia declarações e discursos de membros do Federal Reserve – o banco central dos Estados Unidos – por meio de inteligência artificial proprietária.
O objetivo é detectar os impactos dos discursos no mercado financeiro. Algumas instituições empregam a mesma tática para decifrar documentos complexos ou interpretar as atas do Comitê de Política Monetária, por exemplo.
A inteligência artificial representa, de fato, um marco no sistema bancário brasileiro, assim como foi a criação do Pix, em novembro de 2020. Sobre isso, o próprio Banco Central elaborou um estudo, denominado “Evolução de Meios Digitais para a Realização de Transações de Pagamento no Brasil”, com uma análise sobre a transformação do mercado financeiro diante da novidade.
Saques em dinheiro em caixas eletrônicos e agências caíram de R$ 3 trilhões, em 2019, para cerca de R$ 2 trilhões em 2022. O certo é que, cada vez mais, as pessoas estão gerindo suas finanças na palma da mão, no celular. A inteligência artificial deve reforçar esse comportamento.
IA e bancos: Pessoas importam
Parece a oitava maravilha do mundo, mas ainda não é. Informações compartilhadas pelo ChatGPT foram destaque no noticiário, após um advogado usar os dados para desenvolver um processo judicial contra a Avianca. A peça, com uma série de citações falsas, foi contestada no tribunal e, isso sim, serve de alerta para profissionais do Direito e outras áreas.
Já um prefeito australiano foi considerado “preso por escândalo de corrupção nos anos 2000” pela ferramenta, quando na verdade foi o responsável por denunciar o caso às autoridades de seu país.
Usar a inteligência artificial de forma errada é a principal ameaça que podemos prever. Ela não é uma divindade e também comete equívocos. Por isso é tão fundamental continuar apostando em bons profissionais e especialistas.
Se há uma tendência de digitalizar serviços bancários e análises financeiras, também cresce o anseio dos clientes em falar com pessoas e resolver problemas “olho no olho”, com acolhimento de verdade. A evolução não está na mecanização e no distanciamento. A evolução está na humanidade.