Insumos pesam mais na cana, mas diesel em SP pode fazer movimentação volta à ponta
Os efeitos da expressiva depreciação do real sobre os insumos fizeram os produtores de cana gastarem mais do que com a tradicionalmente mais elevada despesa de movimentação da matéria-prima. De agora para frente poderá haver empate, no mínimo, com o aumento do diesel que virá em São Paulo com a nova alíquota do imposto estadual.
O aumento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre adubação e defensivos foi suspenso pelo governador João Doria, mas não a alta de 12% para 13,3% sobre o combustível de petróleo – e sobre o etanol.
O custo de transbordo e transporte (CTT), via tratores e caminhões nas lavouras e pátios das usinas, poderá ter impacto com a nova taxa sendo repassada em cascata até chegar ao produtor, avalia Dênis Arroyo Alves, diretor-executivo da Organização das Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana) e ex-executivo do Grupo Zilor.
Na média da safra 20/21, o CTT esteve numa faixa de 27% a 29%, enquanto o custo de produção com tratos culturais (fertilizantes e agroquímicos) já alcançou a banda de 30% a 33%, segundo o consultor Ricardo Pinto, da RP Consultoria. A responsabilidade é da dolarização de boa parte da matéria-prima importada para produção desses agentes.
Luiz Carlos Dalben, proprietário da Agrícola Rio Claro, com sede em Lençóis Paulista, concorda. E ainda lembra que, na sua região, o custo de aplicação sai em torno de R$ 250 por hectare.
Em termos gerais, no plantio, a adubação custou, na última safra, R$ 2,399 e os defensivos (inseticidas e herbicidas) R$ 764 por hectare para o produtor e ex-presidente da Ascana (associação do Médio Tietê). Nos tratos da cana soca (acima do segundo corte) o valor caiu um pouco, respectivamente R$ 1,250 e R$ 500.
Naturalmente isso varia também com o perfil produtivo de cada temporada, de acordo com clima, e também com a quantidade relativa do perfil da cana, se de ano e meio ou se de ano, conforme diz Ricardo Pinto.
Além da distância e das escolhas do produtor. Nesse caso específico, o produtor e presidente da Associação dos Fornecedores de Cana da Região Oeste Paulista, Apolinário Pereira da Silva Jr, acredita que sobre o valor relatado por Dalben tem o custo do frete para os produtores de Valparaíso e Araçatuba, entre outras micro-regiões. Pesa o frete da distância dos centros produtores próximos a São Paulo, Campinas e Paulínia, entre outros.
“Eu também costumo usar praticamente tudo de primeira linha e muita coisa de origem orgânica, o que encarece um pouco mais meu custo particular”, afirma ele.
Se não fosse suspenso o ICMS paulista sobre esses itens indispensáveis na produção, o CEO da RP Consultoria vê duas situações relativas ao impacto. A cana soca de 2020 de começo de safra, e colhida neste ano, já foi tratada em boa parte de suas necessidades de adubação e herbicidas, restando mais na frente um pouco mais de inseticida próximo à colheita.
Portanto, o fornecedor venderia esta cana – e as indústrias, seu mix -, este ano com pouco impacto do novo imposto.
Mas se eles fossem plantar cana de 1,5 ano, para ser cortada em 2022, os valores de gastos seriam impactados, avalia Pinto.
O empate ou novamente o CTT assumindo a liderança entre os mais significativos custos de produção, como lembrou Dênis Arroio Alves, da Orplana, ainda não leva em conta as altas do diesel através dos aumentos do petróleo, alvo de nova tentativa de paralisação dos caminhoneiros.