Influencers preenchem lacunas na educação financeira, mas exigem atenção dos reguladores, diz presidente da Anbima
A recente marca histórica de 4 milhões de contas de pessoas físicas na B3 e o crescimento no número de investidores dos fundos de investimento imobiliários (FIIs) mostram que cada vez mais brasileiros têm ido além da poupança e da renda fixa para construir seu patrimônio.
Porém, a chegada de um público mais amplo a produtos mais complexos também aumenta a demanda por informações sobre as vantagens e riscos de cada alocação. E é em meio a esse contexto que se populariza uma figura que surgiu há poucos anos no mercado de capitais.
“Há uma demanda do cliente por informação e assessoramento que vem sendo atendida pelo influenciador digital”, aponta Carlos Ambrósio, presidente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), na edição desta semana do RadioCash, podcast da Empiricus Research apresentado por Felipe Miranda, CIO e estrategista-chefe da Empiricus, e Jojo Wachsmann, sócio-fundador da Vitreo.
Um estudo da associação mostrou, por exemplo, que 266 influenciadores financeiros atingem um total de 74 milhões de seguidores no Twitter, Instagram, Facebook e YouTube.
“No nosso entendimento, isso é ótimo para o desenvolvimento do mercado, ajuda na educação financeira, e chama a atenção do investidor. Mas sempre tem uma pequena parte que talvez ultrapasse o papel da educação, e a ideia é, sem dúvida nenhuma, trazer a regulação para esse ambiente”.
Educação ou conselho financeiro?
Ambrósio salienta que a Anbima ainda não tem uma opinião formada sobre o tema, mas monitora os players constantemente e compartilha as informações com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), “que tem atuado quando acredita que alguém ultrapassou essa fronteira”.
Para ele, é a figura do consultor de investimentos, que deve ocupar o espaço entre a educação e o aconselhamento financeiro.
“Diferente do agente autônomo, cujo alinhamento está ligado à instituição com a qual ele está vinculado, a relação do consultor tem um vínculo direto com o investidor”.
Fuga para a renda fixa?
Apesar da popularização do mercado de ações e de FIIs, as seis altas seguidas da taxa Selic conferem taxas mais atrativas aos investimentos conservadores e trazem o risco de uma debandada para a renda fixa.
Para Ambrósio, essa ameaça não deve se concretizar. À frente da entidade há quase quatro anos, ele acredita que, mesmo com alocações menores na renda variável, a diversificação veio para ficar. “Olhando para o futuro, teremos ciclos de rebalanceamento de carteiras, mas acho pouco provável que voltemos para aquela realidade de poupança, renda fixa e nada mais”.
O executivo explica que a fase prolongada de queda de juros que atravessamos anteriormente acelerou a popularização do mercado de ações e fundos imobiliários e ajudou na fixação da lição sobre a importância de um portfólio diversificado.
O presidente da Anbima ressalta que essa diversificação tende a aumentar ainda mais com o crescimento da tendência de internacionalização dos investimentos – inclusive com produtos atualmente restritos ao varejo. “Na nossa opinião, todo investidor deveria ter direito ao acesso a todos os produtos, desde que na proporção correta”, indica.
Ouça abaixo a íntegra do podcast RadioCash.