Inflação nos EUA cai em ritmo tímido demais para mudar a cabeça de membros do Fed
Boas notícias sopram da terra do Tio Sam nesta sexta-feira (27): o PCE divulgado mais cedo mostra que a inflação nos Estados Unidos continua regredindo. Mas isso não quer dizer que o processo desinflacionário esteja ocorrendo no ritmo que o mercado quer.
O PCE, que é o indicador favorito do Federal Reserve para acompanhar a evolução dos preços, mostrou um alta de 0,4% em setembro. Com isso, o PCE desacelera a 3,4% no acumulado dos 12 meses.
Já o núcleo da inflação, que revela os componentes mais “pegajosos” da inflação, cresceu 0,3% no mês passado, deixando o acumulado dos 12 meses praticamente inalterado. Entre agosto e setembro, o núcleo do PCE oscilou de 3,8% para 3,7%.
O dado foi fortemente influenciado por um aumento dos gastos com consumo, refletindo a forte leitura do PIB no terceiro trimestre. A inflação de serviços aumentou 4,7% em setembro, abaixo dos 4,9% registrados em setembro. Já o preço de bens de consumo subiu para 0,9%, de 0,7%.
Embora o núcleo tenha regredido a menor marca desde maio de 2021, Rafael Passos, analista da Ajax Capital, vê um ritmo de mensal incompativelmente forte para que a inflação retorne à meta dos 2% definida pelo Banco Central norte-americano.
Segundo Passos, este “último quilômetro” na corrida contra a inflação será o mais difícil de vencer e é bom o investidor se preparar para um ambiente persistente de juros altos nos EUA.
- Vale pagará R$ 2,33 por ação em dividendos e JCP: é hora de comprar as ações da mineradora para aproveitar os proventos? Confira a resposta do analista Ruy Hungria no Giro do Mercado desta sexta-feira (27):
Combate à inflação: “Atividade atingiu pico no 3º trimestre”
Do lado mais promissor, Passos destaca que a pressão de consumo atingiu o pico no terceiro trimestre, junto ao pico da atividade econômica. No trimestre passado, os Estados Unidos cresceu 4,9%.
A partir de agora, o analista vê uma intensificação da dinâmica de queima das poupanças, que foram acumuladas durante os dois anos da pandemia de Covid-19.
Michael Pearce, economista da Oxford Economics, traça um cenário parecido com o colocado por Passos quanto à próxima fase do consumo americano. “Embora reconheçamos um estoque de poupança ainda grande sobrando, ele está mais concentrado em famílias de alta renda. Este acúmulo deverá ser tratado cada vez mais como patrimônio”, diz em nota.
Na prática, isso significa que esse dinheiro deverá ser destinado a atividades de remuneração financeira, não impactando mais diretamente na inflação da economia.
Pearce também nota que as famílias norte-americanas estão começando a ver ganhos salariais menores. De acordo com os dados liberados hoje pelo Departamento de Análises Econômicas dos Estados Unidos, o consumo pessoal cresceu 0,7%, acima do avanço de 0.3% dos salários, em uma indicação de um mercado de trabalho que já aponta para alguma desaceleração.
Depois da decisão do Federal Reserve, marcada para semana que vem, as atenções do mercado se voltarão para a divulgação do payroll no próximo dia 3.