Inflação no Brasil não só está alta, como também bastante disseminada, diz Goldman Sachs
Os dados mais recentes do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (11), mostram que a inflação não só está “muito alta”, como também “bastante disseminada”, afirma o Goldman Sachs.
O indicador que mede a inflação ao consumidor brasileiro acelerou o crescimento para 1,01% em fevereiro, ante alta de 0,54% no mês anterior. Esse é o maior nível para fevereiro em sete anos.
O resultado veio acima das projeções. A expectativa era de uma alta de 0,95%, de acordo com uma pesquisa da Reuters.
Nos últimos 12 meses até fevereiro, o IPCA registra uma elevação de 10,54%, ante 10,38% em janeiro e expectativa de 10,5% pelo mercado.
A pressão vem principalmente por parte dos combustíveis, que acumulam um crescimento de mais de 33% em 12 meses. Nem mesmo o recuo em fevereiro conseguiu frear a escalada dos preços.
Em fevereiro, especificamente, a inflação foi puxada pelas altas de 5,61% nos custos de Educação e de 1,28% de Alimentação e Bebidas. Juntos, os dois grupos representaram cerca de 57% do IPCA do mês.
No caso da categoria de alimentos, a pressão é explicada pelo impacto do excesso de chuvas e também de estiagens, prejudicando a produção em diversas regiões de cultivo no Brasil.
Segundo Gustavo Cruz, economista e estrategista da RB Investimentos, os preços dos alimentos vão se normalizar com o tempo. A parte “incomum” dos dados divulgados hoje é o setor de educação.
De acordo com o especialista, mesmo que a inflação desacelere muito ao longo dos próximos meses, o setor de educação não deve revisar para baixo os preços.
“[As escolas, o ensino superior] dificilmente fazem isso. Se subiu agora, é daqui para cima”, destaca.
Como o Goldman, Cruz chama atenção para a difusão da inflação em diferentes categorias.
“Muitos itens subiram ao mesmo tempo, não está concentrado. Se a difusão estivesse mais baixa, você falaria: ‘Poxa, realmente, é por conta das chuvas’. Mas quando está muito disseminado, você vê que a economia brasileira está realmente em um ano de pressão inflacionária”, completa.
Cruz ainda lembra que os níveis atuais da inflação não consideram boa parte do que será o efeito do conflito entre Rússia e Ucrânia.
Reajuste da Petrobras
Ontem, a Petrobras (PETR3;PETR4) anunciou a elevação dos preços da gasolina em quase 19% em meio à escalada do petróleo no mercado internacional, motivada pelo conflito que se desenvolve no Leste Europeu.
Os preços do diesel também sofreram reajuste, de cerca de 25% nas refinarias, informou a companhia.
Com a revisão dos valores, o diesel passa de R$ 3,61 para R$ 4,51 o litro. Já a gasolina aumenta de R$ 3,25 para R$ 3,86.
Além da gasolina e do diesel, a Petrobras elevou o preço médio de venda do GLP, o gás de cozinha, para as distribuidoras, de R$ 3,86 para R$ 4,48 o quilo.
Segundo o Goldman, o recente aumento dos preços dos combustíveis, orientado pela escalada das commodities, deve botar mais pressão na inflação no curto prazo.
“Contra esse panorama, existe um risco crescente de que os mecanismos de fixação de preços e salários em retrocesso (com a redefinição de contratos salariais incorporando ajustes de custo de vida) continuem mantendo a inflação cada vez mais inercial (fixa)”, comenta o banco.