Inflação na UE reproduz a mesma ‘paúra’ que os EUA para o agro. Gasta-se mais do que compra
O segundo maior destino das exportações brasileiras do agronegócio, a Europa, entrou no radar das atenções. A inflação na Zona do Euro atingiu o recorde de 8,9% em julho.
Mesmo que não represente a totalidade da União Europeia (UE) – 27 membros contra 19 que utilizam a moeda única -, a contaminação do custo de vida é geral e acende alerta sobre o possível impacto sobre o consumo de alimentos.
A disparada da energia, exacerbada pelo conflito na Ucrânia, pegou todo o continente.
O Reino Unido, por exemplo, nem faz mais parte do bloco, e teve inflação de pouco acima de 10% em julho, a maior em 40 anos.
O reflexo temido é o mesmo que se avizinha em relação aos Estados Unidos, o terceiro maior importador de produtos agropecuários brasileiros. O custo de vida ascendeu também para máximas, o Federal Reserve (Fed) alargou as altas dos juros – e ainda pode continuar – e a desaceleração da economia está no radar. A autoridade monetária da UE também eleva as taxas.
E como a maior economia global, os países da Europa compram mais valor agregado.
Em paralelo, ainda tem a China com um grau de preocupação por dados econômicos mais fracos, embora “hors concours” na liderança na corrente exportadora do Brasil.
No primeiro semestre, dos US$ 79 bilhões em receita aferidas pelo agronegócio com exportações, a UE representou 16%. Individualizando o Reino Unido, 5ª maior economia global e 15º maior comprador de produtos brasileiros em geral, as vendas agropecuárias giraram em US$ 450 milhões, aproximadamente.
Importadores gastam mais
Vale destacar que a alta de 26% para o bloco gerenciado por Bruxelas, sede da UE, se deu muito mais pela valorização dos produtos – como, inclusive se registra para todos os destinos – que vem crescendo desde as disrupturas das cadeias globais de suprimento, a partir da pandemia da covid. E a partir do final de fevereiro, pelos custos agregados pela crise no Leste da Europa.
Os principais produtos negociados com os europeus são papel e celulose, café e suco de laranja em volumes. Também são os maiores compradores desses itens do Brasil, como nas frutas.
Carnes de aves tem uma boa representatividade, sendo as demais rubricas da pauta mais tímidas, como farelo de soja, soja em grãos, etanol e carne bovina – esta sempre uma promessa, mas pouco concretizada.
“Pelo que temos escutado, a situação na Europa está um pouco mais crítica agora, com inflação recorde e seus consequentes impactos, como, por exemplo, o aumento no preço do gás às vésperas do inverno europeu, mas mantemos o otimismo porque o café é resiliente”, diz Gunter Häusler, presidente do Conselho de Exportadores de Café (Cecafé).
Além de se referir à história das relações do café brasileiro com a Europa, ele se atém ao acumulado de janeiro a junho, quando as 10,351 milhões de sacas (52% do total exportado) representaram 4,8% sobre os mesmos meses de 2021. As receitas somaram US$ 2,4 bilhões, quase 81% superior.
Aí que mora o risco, afinal. As despesas dos importadores ficaram muito elevadas foram despejadas nos preços finais, alimentando a inflação.
Não à toa, os dados da Eurostat, o gabinete de estatísticas de Bruxelas, registraram que o núcleo alimentos e bebidas da inflação na Zona do Euro foi bastante presente, excluindo-se os itens mais voláteis, como energia.
Os casos de exportações de carne bovina e de frango são igualmente emblemáticos. A disparada do custo das importações da Europa é muito desproporcional à melhora da quantidade.
De proteína de boi, de janeiro a julho foram exportadas 66,7 mil toneladas, menos de 6 mil/t acima de igual período de 2021, mas geraram perto de US$ 90,5 a mais, para US$ 447,6 milhões, segundo dados da Abrafrigo, cuja presidência não atendeu o pedido de Money Times para opinar sobre as tendências do comércio neste semestre.
Em aves, até que a relação volume-receita foi mais curta, proporcionalmente aos outros setores, mas ainda tem expressão. Sobre levantamento da Secex, a ABPA, que reúne as empresas exportadoras, informa 109,4 mil/t para 140 de janeiro a julho, enquanto a receita a alta foi de 73,2%, chegando a 73,2%.
Mas situações mais emblemáticas, quando os volumes caíram mas os gastos dos importadores da UE e Reino Unido aumentaram.
No suco de laranja, a relação foi de menos 5,64% (614,1 mil toneladas) na safra 21/22, e de mais 5,87% em faturamento, acima de US$ 981 milhões. Todo o bloco europeu participa com pouco mais de 57% das exportações do suco.
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