Inflação

Inflação na América Latina aumenta chance de mais altas de juros

08 abr 2022, 15:03 - atualizado em 08 abr 2022, 15:03
renda fixa
Inflação na América Latina aumenta chance de mais altas de juros (Imagem: Divulgação / MF Press Global)

Os bancos centrais da América Latina estão enfrentando uma pressão renovada para estender os aumentos agressivos das taxas de juros depois que os preços ao consumidor ultrapassaram as estimativas em toda a região, impulsionados pelo aumento dos custos das matérias-primas.

A inflação de março superou até mesmo as previsões mais pessimistas no Brasil e no Chile, de acordo com números oficiais divulgados na sexta-feira (08). Isso segue dados de preços piores do que o esperado na Colômbia, Peru e México. A região está sendo atingida pelo aumento dos custos de combustível e alimentos devido à invasão russa da Ucrânia.

As autoridades monetárias da América Latina foram as primeiras no mundo a começarem a aumentar os custos do dinheiro à medida que as restrições globais de oferta e, em alguns países, medidas de estímulo contra a pandemia reacenderam a inflação.

Novas pressões sobre os preços estão agora desafiando os planos do Brasil e do Chile de encerrar o aperto. Elas também correm o risco de alimentar a agitação social, que explodiu na forma de protestos em massa no Peru.

O IPCA de março no Brasil registrou maior alta mensal de preços desde 2003, com a gasolina saltando 6,95%. Os preços ao consumidor do Chile registraram o maior ganho mensal em cerca de três décadas, com o pão subindo 5,9% e a energia subindo 2,6%.

O gás de cozinha e a gasolina impulsionaram a inflação no México, com o valor anual atingindo a maior alta em 21 anos.

Mesmo assim, os aumentos de preços poderiam ter sido muito piores.

“Os preços do gás e da gasolina subiram muito menos do que as referências internacionais”, Alonso Cervera, economista-chefe para a América Latina do Credit Suisse, sobre o México. “A inflação seria muito maior, quero dizer, muito, se não fossem os subsídios.”

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Orientação desafiada

A inflação de março põe à prova a estimativa do presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, que tem repetidamente sinalizado planos para um aumento final em maio, e da presidente do banco central do Chile, Rosanna Costa, que disse semana passada que os formuladores de políticas serão capazes de desacelerar o ritmo de aumentos futuros das taxas.

Por outro lado, alguns economistas não têm tanta certeza de aumentos ainda mais agressivos de juros. “Em vez de olhar para a inflação atual, eles estão olhando para a inflação de 12 a 24 meses à frente. Isso é o que realmente importa para eles”, disse Alejandro Arreaza, economista do Barclays.

Há sinais crescentes de que a indignação com os preços está repercutindo na política. O presidente peruano Pedro Castillo decidiu impor um toque de recolher em Lima nesta semana, depois que os protestos contra a inflação se transformaram em violentos confrontos com a polícia.

No Brasil, a  Petrobras (PETR3PETR4) anunciou em março que aumentaria os preços dos combustíveis em até 25%. O presidente Jair Bolsonaro, que se candidata à reeleição em outubro, demitiu o presidente da empresa duas semanas depois, quando as pesquisas mostraram que os eleitores estavam furiosos com a inflação.