Inflação já não é mais um problema para o Copom? ‘Nunca podemos baixar a guarda’
Os últimos dados da inflação mostraram uma tendência mais positiva do que o esperado. O IGP-10 de setembro, inclusive, registrou alta mensal de 0,18%, conforme divulgado na segunda-feira (18). O resultado abaixo das expectativas foi explicado por surpresas nos segmentos alimentício, de indústria de transformação e minério de ferro.
Os números colocam em xeque a magnitude do corte da taxa Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta semana. Entretanto, o otimismo não deve contagiar o Banco Central.
O economista-chefe da Nova Futura, Nicolas Borsoi, lembra que “um problema menor não é o mesmo que não existir problema”. Ele destaca que houve uma melhora nos últimos Índices Nacionais de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), mas segue em níveis incompatíveis com o cumprimento das metas.
“Houve uma melhora no IPCA desde a última decisão, em 26 de julho, mas ela está longe dos níveis ‘ideais’ para o Copom”, avalia.
O chefe de renda variável da A7 Capital, Andre Fernandes, por sua vez, destaca que, ao longo dos anos, o Brasil conseguiu lidar com o IPCA, de maneira “muito melhor” que países desenvolvidos. No entanto, ele ressalta: “nunca podemos baixar a guarda quanto a inflação”.
“Não diria que podemos contar com um controle inflacionário, mas estamos vislumbrando um cenário mais benéfico em relação a inflação para os próximos anos”, diz.
Inflação vai voltar a surpreender negativamente?
Os especialistas afirmam que o principal risco para a inflação, no momento, é o petróleo. A dispara da cotação — que bateu os US$ 95 ontem — deve gerar efeitos secundários nos preços globais, dizem.
Ferndandes, da A7, afirma que a alta pode afetar os preços dos combustíveis no futuro. “Não só na gasolina e no diesel, mas também no querosene de aviação, o que pode encarecer as passagens aéreas, além de impactos por toda cadeia produtiva, devido a um aumento no custo logístico”, afirma.
Borsoi, da Nova Futura, ainda ressalta que o mercado de trabalho aquecido, com taxa de desemprego local abaixo do nível de equilíbrio, pode levar a compensações salariais. Isso manteria a inflação de serviços pressionada, resultando em uma inflação mais persistente.
O economista ainda afirma não ver ao IPCA voltando à meta nem em 2025. A desancoragem das expectativas e a resiliência do mercado de trabalho, segundo Borsoi, devem aquecer a inflação de serviços, resultando em uma convergência lenta à meta.
Apesar de seguirem em queda, as expectativas do relatório Focus para a inflação de 2023 são de 4,86%. Já para 2024, as projeções estão em 3,86%.