Inflação abaixo de 2%? Pode esperar sentado; veja por que Powell está cético
Presidentes dos bancos centrais da Europa, da Inglaterra, dos Estados Unidos e do Japão participaram mais cedo de um painel organizado pelo próprio Banco Central Europeu, na cidade de Sintra, em Portugal.
Os chefes das autoridades monetárias responderam perguntas sobre a sincronia dos ciclos de juros, quais forças inflacionárias ainda atuam na economia e por que o cenário ainda pede novos aumentos no custo do capital em 2023.
Em uma mensagem inequivocamente hawkish aos mercados, os presidentes do Fed, BCE e BoE deixaram claro que ainda há terreno a ser coberto na luta contra a inflação (lê-se mais aumento de juros), até que a meta comum de 2% seja alcançada.
“Não estamos vendo evidências tangíveis suficientes do fato de que a inflação subjacente, particularmente os preços domésticos, está se estabilizando e caindo”, disse a presidente do BCE, Christine Lagarde, ao Fórum sobre Bancos Centrais.
EUA: Inflação abaixo de 2% pode chegar só em 2025
Para Jerome Powell, o presidente do Federal Reserve, o processo de convergência da inflação pode perdurar até 2025 para ser completado. Perguntado se isso significa juros mais altos por mais tempo, Powell respondeu “não necessariamente”.
Por ora, Powell vê espaço para novas altas no segundo semestre de 2023 e descartou cortes na taxa do Fed Funds — um cenário aventado pelos mercados. Junto a Lagarde, o chefão do Fed reforçou que as autoridades monetárias e os mercados olham para nortes diferentes.
Para o BC norte-americano, o pedaço que falta para completar o quebra cabeça da queda inflação é o arrefecimento do mercado de trabalho. O mercado de trabalho aquecido — visto pela criação média próxima de 300 mil empregos por mês — continua impulsionando a demanda por serviços, mesmo diante da alta dos juros.
Esse comportamento ‘teimoso’, por fim, atua sobre a inflação de diversos serviços, que representa quase metade da cesta de itens do núcleo da inflação. Atualmente, o núcleo do CPI dos EUA está em 5,3%.
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Recessão não é mais o cenário-base para os BCs Ocidentais
Em um dos blocos da sabatina, Powell, do Fed, disse ver a recessão nos Estados Unidos como um cenário pouco provável, mas “certamente possível”. A expectativa para o PIB americano no segundo trimestre do ano é de crescimento de 1,9%, segundo a projeção atualizada do Fed de Atlanta.
“O cenário menos improvável é que encontremos nosso caminho para um melhor equilíbrio sem uma crise realmente severa”, disse ele, distanciando-se dos que acreditam em um hard landing (cenário de contração econômica, por razão dos juros) na economia americana.
Também nesse sentido, veio como uma surpresa a fala de Andrew Bailey, o presidente do Banco da Inglaterra, que declarou não prever um cenário de recessão na economia britânica. De toda forma, a situação macroeconômica do país requer um “acompanhamento cuidadoso”, complementou.
No Reino Unido, a taxa de refinanciamento do Banco Central da Inglaterra está em 5%.
BoJ: Problemas do Japão são de outra natureza
Destoando do discurso duro dos seus homólogos, o presidente do Banco do Japão, Kazuo Ueda, disse manter uma política monetária mais acomodatícia, uma vez que a inflação subjacente do país encontra-se abaixo dos 2%. Isso, mesmo que a inflação cheia esteja transitando em uma faixa acima dos 3%.
Ainda assim, Ueda não hesitou em reconhecer que o BoJ poderia abandonar a sua política monetária de ‘juro zero’ se entender que a inflação acelerará em 2024, depois de um período de moderação.