Infectologista diz à CPI que deixou secretaria de combate à Covid por veto do Planalto
A infectologista Luana Araújo, convidada pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para assumir uma secretaria especial de combate à Covid-19, disse nesta quarta-feira à CPI que deixou o cargo depois de apenas 10 dias porque não foi aprovada pelo Palácio do Planalto.
Em seu depoimento, Araújo contou que foi chamada por Queiroga e informada que infelizmente não poderia ser nomeada porque seu nome não passaria pela Casa Civil. Em seguida, corrigiu, afirmando não ter certeza se a instância correta era mesmo essa, mas confirmando que havia sido vetada.
De fato, as nomeações para cargos de segundo e terceiro escalão no governo federal passam pela Casa Civil e são assinadas pelo ministro da pasta e pelo ministro da área específica.
Araújo foi escolhida para o cargo pelo ministro da Saúde e contou aos senadores que chegou a trabalhar por 10 dias, mesmo sem a nomeação, até ser dispensada.
Após Araújo ter a nomeação anunciada publicamente por Queiroga, reportagens mostraram as suas posições contrárias ao chamado “tratamento precoce”, defendido pelo presidente Jair Bolsonaro com medicamentos sem eficácia comprovada.
Em postagens em redes sociais, a médica afirmou que o Brasil estava na “vanguarda da estupidez mundial” ao defender esse tipo de terapia, que chamou de “neocurandeirismo”.
A médica afirmou ainda não saber se essa foi a razão do veto a seu nome, mas destacou as reportagens sobre suas posições nos dias anteriores à decisão.
“Não me foi comunicada a razão pela qual a minha nomeação não foi aprovada”, disse aos senadores.
Na semana passada, o ministro da Saúde indicou em audiência na Câmara dos Deputados que houve veto político à Araújo.
“Nós encaminhamos o nome dela para as instâncias do governo. Nós vivemos num regime presidencialista. Eu fui indicado por quem? Pelo presidente da República. É necessário que exista validação técnica e também política”, disse Queiroga.
Questionada sobre se teria falado sobre “tratamento precoce” com o ministro, a médica negou, dizendo que isso nunca foi assunto com o ministro.
“Nunca foi nem uma discussão, esse assunto nunca existiu entre nós. Todos nós somos a favor de uma terapia precoce que exista. Se essa terapia não existe não pode se tornar política pública de saúde”, afirmou. “É uma discussão delirante, esdrúxula, anacrônica e contraproducente. Ainda estamos discutindo uma coisa que não tem cabimento. É como se estivéssemos discutindo de que borda da terra plana vamos pular.”
Araújo disse ainda que, ao tentar montar uma equipe para a secretaria, teve dificuldades porque os melhores nomes não estavam dispostos a trabalhar para o governo pelo que chamou de uma “polarização esdrúxula” e uma “politização sem cabimento”