Indústria de café do Brasil vê alívio na oferta só em 2024, diz presidente da Abic
Com a colheita de uma safra abaixo do potencial em 2022, o Brasil deve ver um aumento na produção de café em 2023, mas um alívio para os estoques apertados só deve ser sentido a partir de 2024, avaliou o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).
Pavel Cardoso, eleito em junho para comandar a associação das empresas torrefadoras do Brasil até 2025, comentou em entrevista à Reuters que a firmeza das exportações e do consumo nacional de café não dá margem a problemas climáticos, o que explica os preços futuros sustentados da commodity, enquanto o mercado físico não recua apesar da colheita já avançada no país.
Desde o final de março, quando os produtores no Brasil começam a se preparar para a colheita, os preços do café arábica subiram cerca de 100 reais por saca, para cerca de 1.350 reais, segundo indicador do Cepea/Esalq. Até momento, o total colhido está próximo de 50% da produção prevista.
“A partir de 2024, é possível que tenhamos oferta maior, mas no horizonte de 18 meses não se vislumbra mudança no cenário de aperto”, disse ele à Reuters.
Para justificar sua avaliação, Cardoso citou projeções da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que em seu último levantamento reduziu a previsão para a safra nacional de 2022 a 53,4 milhões de sacas, com a colheita de arábica sentindo os efeitos de geadas e seca de 2021.
Ele disse ainda que o país tem exportado 40 milhões de sacas ao ano, enquanto a demanda brasileira se aproxima de 22 milhões de sacas ao ano, o que resulta na redução de estoques.
As projeções da Conab tradicionalmente ficam abaixo das do mercado. O Rabobank, por exemplo, projeta a safra nacional deste ano em 64,5 milhões de sacas –ainda assim, o saldo é relativamente apertado, considerando exportações e consumo.
O presidente da Abic avalia que as geadas de 2021 colaboraram para uma inversão de ciclo bianual do arábica em 2022, o que o leva a crer que em 2023 a produção poderá superar a deste ano.
“Mesmo com uma boa oferta em 2023, considerando safra de 65 milhões de sacas, por exemplo, a exportação de 40 e consumo de 22… dentro deste cenário, se não tiver boas chuvas na florada (para 2023) e se tiver qualquer evento climático negativo, novamente teremos oferta justa na próxima safra”, afirmou.
Desafios
Cardoso, sócio-gestor da torrefadora Sobésa, maior indústria de café da Bahia e uma das maiores do Brasil, disse que o setor ainda não conseguiu repassar todos os custos da matéria-prima, que subiram mais de 150% em 12 meses –desde as geadas–, tendo repassado cerca de um terço disso.
Assim, o cenário é de preços sustentados também para os consumidores do Brasil, segundo maior mercado global em consumo de café, atrás apenas dos Estados Unidos.
Cardoso comentou ainda que uma das diretrizes de sua gestão à frente da Abic será promover o café torrado e moído brasileiro internacionalmente, cujas exportações giram em torno de apenas dezenas de milhares de sacas ao ano, enquanto os embarques do produto verde somam dezenas de milhões.
“Produzimos não só a maior quantidade, mas temos os melhores café, e esta qualidade é percebida aqui, mas não é percebida pelo consumidor do mundo”, disse, afirmando que este plano de marketing ainda está sendo elaborado.
A indústria de Cardoso, a Sobésa, já exporta café torrado e moído aos Estados Unidos e está trabalhando na abertura de mais dois mercados, cujos nomes não foram revelados.
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