Ibovespa tem melhor trimestre desde 2003 com liquidez global e Selic baixa
O Ibovespa (IBOV) fechou em queda nesta terça-feira, pressionado por bancos, o que não impediu marcar o terceiro mês seguido de alta e garantir a melhor performance trimestral desde 2003.
A forte recuperação nos últimos meses teve suporte na ampla liquidez global decorrente principalmente de medidas de vários países no combate aos efeitos econômicos da pandemia do Covid-19, mas também na queda da Selic a mínimas históricas.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa encerrou a sessão com declínio de 0,71%, a 95.055,82 pontos, encerrando junho com valorização de 8,76% e o trimestre em alta de 30,2% – melhor resultado trimestral desde o final de 2003 e maior alta percentual para segundo trimestre desde 1997.
O movimento vem após um tombo de quase 37% nos primeiros três meses do ano, quando prevaleceu a aversão a risco por causa do novo coronavírus. E, apesar de representativa, a reação não reverteu o resultado no ano, que permanece negativo (-17,80%). O Ibovespa também continua distante dos 120 mil pontos que ameaçou romper no começo de 2020.
Um dos destaques para a performance das ações brasileiras no trimestre foi o fluxo histórico de pessoas físicas para a renda variável, apesar da forte volatilidade com a pandemia e cenário político turbulento no Brasil. E o mês de junho também mostrava fluxo positivo de estrangeiros até o dia 26.
Na visão do gestor Werner Roger, da Trígono Capital, o mercado tende a continuar com a disputa entre os que consideram a alta das ações exagerada, de que as economias ainda vão sofrer; e aqueles que avaliam que os estímulos e principalmente os juros baixos mudam o cenário.
“Principalmente aqui no Brasil, (a queda dos juros) mudou completamente o cenário, não restou muita opção de investimentos”, acrescentou, avaliando que ficou barato investir em renda variável e afirmando estar do lado do grupo que acredita que os níveis de preço no mercado se justificam.
E mesmo em relação à pandemia de Covid-19, acrescentou, se houver uma nova onda de casos, a percepção é de que os protocolos médicos estão mais preparados, há várias vacinas e medicamentos em estudo com perspectivas positivas. “O mundo não será pego desprevenido como foi com a primeira onda”, afirmou.
O volume financeiro no pregão desta terça-feira totalizou 27,5 bilhões de reais, um pouco abaixo da forte média diária do mês de 32,5 bilhões de reais.
Nesta sessão, o Ibovespa oscilou da mínima de 94.806,47 pontos à máxima de 96.257,30 pontos, com noticiário corporativo também no radar, além de ajustes tradicionais em fechamento de período e tendo ainda Wall Street no radar.
“O Ibovespa permanece travado entre os 94.000-97.700 e precisará romper em um destes extremos”, avalia o analista Fernando Góes, da Clear Corretora, acrescentando que, pela sua leitura do gráfico, há chance maior de que rompa para cima.
“Para anular a probabilidade de alta atual, o Ibovespa precisaria perder o seu suporte mais forte que é o dos 90 mil pontos e seria um banho de água fria no mercado”, observou.
Destaques
– IRB BRASIL (IRBR3) fechou em queda de 11,72%, ao final de sessão volátil, após reportar resultado do primeiro trimestre e republicar balanço de 2019 com forte piora no desempenho em razão de fraude contábil. A resseguradora ainda fará uma captação bilionária de recursos para repor provisões técnicas regulatórias, enquanto reavalia desmobilizar alguns negócios fora da América Latina e recuperar a confiança do mercado. O IRB responde pela maior queda do Ibovespa em 2020, com declínio de mais de 70%.
– Petrobras (PETR4) e Petrobras (PETR3) recuaram 0,51% e 0,98%, respectivamente, na esteira do declínio do petróleo no mercado externo. A companhia prorrogou teletrabalho até fim do ano e disse ver retomada gradual em algumas áreas. No radar do setor, a Royal Dutch Shell disse que fará uma baixa contábil de ativos no valor de até 22 bilhões de dólares após impactos do Covid-19.
– Itaú Unibanco (ITUB4) cedeu 3,89% e Bradesco (BBDC4) perdeu 3,32%, pesando no Ibovespa, em meio a retomada de ruídos sobre aumento na tributação do setor. BTG Pactual (BPAC11) subiu 0,66%, um dia após precificar a 74,40 reais por unit oferta primária com esforços restritos, movimentando 2,65 bilhões de reais, que devem ser, em parte, destinados a acelerar o crescimento da área de varejo digital.
– Vale (VALE3) fechou com acréscimo de 0,52%, apesar da queda dos futuros do minério de ferro na China. Analistas do BTG Pactual afirmaram que saíram “encorajados” de conversa com executivos da mineradora e acrescentaram que consideraram bastante construtivas as mensagens da companhia em várias frentes, incluindo retomada de dividendos, que eles esperam para o terceiro trimestre de 2020. No setor de mineração e siderurgia, Gerdau (GGBR3) subiu 2,04%, Usiminas (USIM5) avançou 1,68% e CSN (CSNA3) ganhou 1,23%
– XP INC. (XP), que negocia em Nova York, fechou em queda de 3,47%. A maior companhia independente de assessoria de investimentos da América Latina anunciou na segunda-feira uma oferta secundária de 19,5 milhões de ações e estimou que o lucro líquido do segundo trimestre pode alcançar até 520 milhões de reais, mais que o dobro do obtido um ano antes. No trimestre, papel valorizou-se quase 118%.