Índice de estresse de mercado dos EUA tem padrão parecido a 2008
Investidores estudaram tudo, desde o consumo de energia até a curva de infecção, para descobrir se a atual recuperação do mercado é algo temporário após o crash do coronavírus.
Também pode valer a pena revisar a história, onde os sinais parecem ameaçadores.
Apesar de todo o entusiasmo causado pelas políticas de estímulo sem precedentes, as condições financeiras dos Estados Unidos têm se comportado de maneira estranhamente semelhante a 2008. Se esse padrão continuar, pelo menos mais uma onda vendedora está a caminho.
O índice Bloomberg United States Financial Conditions, uma medida de estresse dos mercados de ações, títulos e monetário, iniciou a onda vendedora com queda de um mês até a terceira semana de março, antes de recuperar cerca da metade do valor no mês seguinte.
Esse é quase exatamente o padrão seguido pelo indicador durante a crise de crédito. Preocupante para investidores de 2020 que tentam navegar na estimada recessão de US$ 6 trilhões causada pela pandemia, em 2008 o indicador voltou a cair e ficou em queda por mais um mês.
Evidentemente, as circunstâncias que cercam esta crise são muito diferentes da situação em 2008. O mundo não havia vivenciado uma pandemia desta natureza, e os investidores nunca haviam enfrentado uma retração tão grave ou rápida da atividade econômica. Ao mesmo tempo, a resposta dos bancos centrais foi mais rápida e mais ampla do que qualquer outra vista antes.
Mesmo assim, as semelhanças entre as condições naquela época e agora serão munição para os pessimistas. A decisão dos governos de reduzir as medidas de confinamento para conter o surto pode desencadear uma recuperação econômica ou outra onda do vírus.
“O risco de outra baixa das ações aumentou após o forte rali”, disse Christian Mueller-Glissmann, responsável por alocação de ativos do Goldman Sachs, em Londres. “Ainda temos que ver a extensão do choque de crescimento e possíveis efeitos secundários” do vírus, disse em entrevista.
Mueller-Glissmann faz parte de uma lista crescente de especialistas do mercado preocupados com outra baixa dos ativos de risco.
O bilionário Carl Icahn disse à Bloomberg Television na sexta-feira que tem aumentado suas posições em dinheiro e evitado ações enquanto se prepara para mais estragos causados pela pandemia.
O S&P 500 avançou com base em uma visão excessivamente otimista da rapidez com a qual as economias podem se recuperar, avalia, o que significa que as ações estão muito caras.
Até agora, grande parte do estresse no sistema foi contido pelas medidas do Federal Reserve, que ofereceu diversos tipos de suporte aos mercados, incluindo financiamento, títulos municipais e dívida corporativa. Para otimistas como Vasileios Gkionakis, estrategista de câmbio do Banque Lombard Odier & Cie, as medidas monetárias e a reabertura das economias significam que o pior já passou.
“Não acredito que teremos outro mergulho como em 2008”, disse o estrategista. “Precisaríamos ver um sério revés na curva de infecção para que os bloqueios continuassem na Itália, Espanha, EUA, Reino Unido e França.”