Açúcar

Índia sabe como e por que fazer mais etanol e visita do Bolsonaro não a apressará

20 jan 2020, 9:19 - atualizado em 20 jan 2020, 10:34
Cortador de cana na Índia, de pequenas propriedades que é a base produtiva, em plena safra atual (Imagem: REUTERS/Amit Dave)

Jair Bolsonaro até pode tentar tocar no tema etanol com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, falando da importância do aumento da produção local do biocombustível, mas será um desses temas inócuos que entram obrigatoriamente nas agendas diplomáticas. Os indianos, que receberão a visita do presidente brasileiro esta semana, já sabem muito bem fazer e por que aprontar mais biocombustível.

Os anfitriões já fabricam etanol e naturalmente estão a par das necessidades de diminuir a poluição emitida pela frota do Ciclo Otto (motores a combustão), a segunda maior consumidora de petróleo do mundo. Mais ainda – e aqui sim interessa ao Brasil – a Índia certamente reconhece que produzindo mais biocombustível, enxugará a colocação de açúcar no mundo, melhorando as cotações que ela própria deprime e ajudando a diminuir os subsídios aplicados na produção de cana, transportes e na manutenção das exportações de 5 milhões de toneladas anuais.

O governo tem intenção de elevar para 10% a mistura na gasolina até 2023. Mas é intenção para inglês ver e não meta compulsória.

O problema não é fazer – dos 2,4 bilhões de litros atuais para os mais de 5 bilhões/l que seriam necessários, segundo alguns levantamentos – mas como adaptar a frota veicular atual e futura a rodar com maior nível de etanol nos motores. Em três anos.

E esse é o foco principal hoje da União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica), que no final de fevereiro volta em missão técnica à Índia (além de China e outros), levando especialistas inclusive de outros segmentos da cadeia. Como lembrou Eduardo Leão Souza, diretor-executivo da entidade, em entrevista ao Money Times (9/1), é a experiência brasileira no aumento da porcentagem de mistura que conta agora nas conversas com os produtores e governo locais.

Quando muito, nessa missão da Unica, o Brasil desenvolverá melhor temas sobre o etanol de segunda geração, o 2G. Este, sim, a Índia precisa aprender com os brasileiros, tanto que no time que irá ao país estará o professor Gonçalo Pereira, da Unicamp, um dos pesquisadores pioneiros no Brasil desse produto extraído do bagaço da cana.

No agronegócio, o Brasil ainda tem um ‘mundo’ para desbravar na segunda maior população mundial, com vistas a ser a primeira em poucos anos, e o governo do país asiático ainda não tem o timing decidido para mudar aumentar o etanol anidro no mix das usinas.