Economia

Incerteza sobre inflação nos EUA é maior do que no Brasil; entenda o impacto sobre seus investimentos

10 fev 2022, 8:42 - atualizado em 10 fev 2022, 8:42
Para especialista, o fato de no exterior o aperto monetário estar no início torna a incerteza maior. Na foto, o presidente do Fed, Jerome Powell. (Imagem: Twitter/Federal Reserve)

A incerteza sobre inflação e a política monetária é maior nos Estados Unidos do que no Brasil, mas o cenário no exterior pode acabar impactando emergentes por tabela, dizem analistas ouvidos pelo Money Times.

Os EUA divulgam nesta quinta-feira (10) o CPI (índice de preços ao consumidor) de janeiro, que deve apresentar alta de mensal 0,5% e avanço de 7,3% na base anual, segundo analistas ouvidos pela Reuters. No Brasil, o IPCA subiu 0,54% no mês passado, chegando a 10,38% em 12 meses.

“Proporcionalmente é muito mais surpreendente para o americano a inflação atual do que para o brasileiro”, resume o chefe da área de investimentos do Daycoval, Mauro Rached, destacando o impacto da política monetária nos EUA é “potencialmente maior do que aqui”.

Para o especialista, o fato de no exterior o aperto monetário estar no início torna a incerteza maior. “Para nós, tem um impacto indireto sobre a moeda”, lembra.

“Uma alta de juros nos EUA tenderia a desvalorizar o real e fomentar a inflação mais à frente”. Hoje, o dólar em patamar elevado já um dos elementos que contribuem para a alta de preços no Brasil.

Rached vê o mercado acionário norte-americano sofrendo mais com a alta de taxa de juros, “porque os múltiplos ainda estão muito altos”

Para o analista, pouco da alta de preços no país está sujeita a alguma ação do governo. “É uma inflação importada e de mão de obra – não tem como fazer baixar o custo da mão de obra de uma hora para outra”, afirma.

O especialista diz que não vê o Ibovespa sofrendo tanto com a alta de juros porque há ações que compõem o índice que se beneficiam do aperto monetário, como a dos bancos, enquanto as commodities servem como proteção contra a inflação.

“Acredito que uma parte do movimento que aconteceu em janeiro [de entrada de estrangeiro na bolsa brasileira] persista, provavelmente não de forma tão intensa quanto foi até agora”, afirma. “Para quem está posicionado, o incentivo a vender a posição aqui é muito pequeno”.

Efeito China

A economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta, diz que vê uma influência maior do afrouxamento monetário na China sobre o fluxo estrangeiro no Brasil. “A reversão [do fluxo] fica mais difícil, porque é um recurso que tem uma liquidez muito grande”.

Para a especialista, pode ser que haja uma migração de recursos para fora no curto prazo, mas não para elevar demais o patamar do dólar no Brasil.

Argenta destaca que o consenso sobre a política monetária norte-americana tem mudado mais rapidamente, considerando o nível de atividade e o mercado de trabalho, e que é possível ter uma taxa real de juros no Brasil “muito baixa”.

A economista diz ainda que, se houver uma surpresa inflacionária nos EUA, ela seria para cima, considerando o reajuste de preços automotivos e a alta do petróleo WTI.

O economista e sócio da BRA, João Beck, diz que o mais urgente é entender como será o ciclo de alta de juros nos EUA, enquanto no Brasil já há uma desaceleração dos preços nos núcleos.

Para o especialista, é difícil entender o fluxo estrangeiro para a bolsa brasileira porque já faz bastante tempo que os ativos estão baratos.

No entanto, ele destaca que a situação do país é melhor do que no passado: do ponto de vista eleitoral e de perspectiva de crise energética. “Os problemas foram resolvidos, de certa forma”.

“A gente ainda pode esperar que esse dinheiro que está entrando seja mais pontual” afirma. “Não vai continuar entrando enquanto os emergentes não crescerem, o que é difícil de acontecer sem melhorar a arrecadação”.

Beck vê no preço do petróleo e das commodities um elemento decisivo para a inflação nos EUA. No Brasil, o analista vê a elevação da Selic com forte impacto no setor de serviços, compensando a alta dos preços em canais de distribuição do petróleo. “A gente contratou uma recessão forte”, diz.

Segundo o economista, um evento extraordinário no exterior, como um conflito entre países, poderia jogar o preço do petróleo para US$ 150 o barril, o que então poderia levar a uma elevação mais forte dos juros nos EUA, com impacto na valorização do dólar.

Uma entressafra mais difícil no Brasil, diz, também poderia ter impacto sobre a inflação local.

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Editor
Jornalista formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com MBA em finanças pela Estácio. Colaborou com revista Veja, Estadão, entre outros.
kaype.abreu@moneytimes.com.br
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Jornalista formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com MBA em finanças pela Estácio. Colaborou com revista Veja, Estadão, entre outros.
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