Incerteza política esfria ofertas de ações, mas mercado ainda espera 17 operações no ano
Por Ângelo Pavini, da Arena do Pavini
O ano marca a volta das ofertas públicas de ações. A melhora da economia, a perspectiva de aprovação das reformas e a queda dos juros fizeram o mercado acionário subir no ano passado e neste, retomando as ofertas. “Esperamos este ano chegar a R$ 25 bilhões em ofertas de ações, tanto aberturas de capital (IPO) quanto captações de empresas já abertas (follow-ons) ”, diz Edemir Pinto, presidente da Brasil Bolsa Balcão (B3), a nova bolsa de valores. Ele estima que 17 empresas venham a mercado com novas ofertas.
Nos últimos meses, porém, a queda das bolsas no Brasil e no exterior e as incertezas políticas provocaram uma interrupção dos processos. “A confiança do mercado está muito atrelada às condições políticas, mais que à economia, e o ambiente politico está impactando o sentimento das empresas”, avalia Edemir. A situação mudou bastante em relação a fevereiro, quando o Ibovespa acumulava alta de 10% no ano e empresas como a Movida, de aluguel de carros, e a Hermes Pardini (na foto), de diagnósticos, abriram seu capital.
Edemir cita as denúncias da Operação Lava Jato, que atingem integrantes do governo, especialmente as da delação da Odebrecht. Há ainda a expectativa de julgamento da chapa que elegeu a ex-presidente Dilma Roussef e o presidente Michel Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “Mas não tenho dúvidas que a confiança voltou, não só para o investidor local como para o estrangeiro, que é quem faz diferença no Brasil, já que não temos poupança interna para financiar os projetos”, diz.
Azul arrisca
Uma das empresas que se arriscou a lançar seus papéis é a Azul, cuja oferta termina dia 5 de abril. A empresa de aviação de baixo custo pretende captar R$ 1,5 bilhão em ações preferenciais, com valor entre R$ 19 e R$ 23.
A oferta causou polêmica por envolver apenas ações preferenciais, sem voto, mas com direitos especiais, como possibilidade de participar de decisões importantes, como saída do Nível 2 de governança da B3. As “super PNs” são alvo de crítica da Associação de Investidores do Mercado de Capitais (Amec), que teme que outras empresas sigam esse modelo. “É uma volta aos anos 1980”, diz Mauro Cunha, presidente da Amec. Ele diz que a entidade está atenta a essa retomada das ofertas e teme a assimetria de informações entre os bancos que fazem as colocações e os investidores e as empresas sobre as condições de mercado.
Segundo semestre
Edemir espera que as ofertas de ações aumentem no segundo semestre, quando as questões políticas estarão mais esclarecidas e as reformas encaminhadas, especialmente a da Previdência. “O juro caindo para um dígito no fim do ano também ajuda, mas a estabilidade política será o principal para a retomada”, afirma.
Janela de captações
Para Luís Gustavo Pereira, responsável pela área de renda variável da Guide Investimentos, a chacoalhada do mercado em março inibe um pouco o apetite das empresas de virem a mercado. Mas ele espera que as operações sejam destravadas. “Há uma janela entre o fim de março e junho que costuma ser positiva para as ofertas, pois tem mais liquidez e não é período de férias nos Estados Unidos”, lembra. A procura por ativos também fica maior e isso deve trazer novas ofertas ao mercado.
Motivos para ofertas
Ele mantém a perspectiva de 17 ofertas este ano, considerando um total de 25 empresas que a Guide está monitorando e que podem abrir capital, ou já tentaram vir a mercado ou foi especulado que viriam.
Ele lembra que ainda há alguns fatores que levam as empresas a abrir seu capital neste momento, como a melhora na estrutura do balanço. “Algumas estão fazendo ofertas restritas, só para grandes investidores, para melhorar o perfil do balanço, como a Alupar, ou para um negócio, como a Lojas Americanas, que tanto pode usar os recursos para comprar a Via Varejo quanto para capitalizar o braço de internet B2W”, diz. Há ainda ofertas iniciais para capitalizar empresas já listadas também. Outras buscam aproveitar a mudança de ciclo, reduzir a dívida ou aproveitar uma oportunidade para comprar ativos que estão depreciados. “Por enquanto não há demanda por recursos para ampliar produção porque há muita capacidade ociosa”, explica.
XP pode levantar R$ 20 bi
A lista de potenciais emissores de ações inclui desde companhias aéreas até corretoras, caso da XP Investimentos. A especulação mais forte é que a oferta da hoje maior corretora independente do mercado deve ocorrer entre junho e julho, com a instituição avaliada em R$ 20 bilhões. Trata-se de um múltiplo elevado, de quase 29 vezes o lucro, para uma empresa que ainda não está consolidada.
Outras candidatas são o Carrefour, agora sob o comando do ex-concorrente Abílio Diniz, e outras farão oferta só lá fora, como a Netshoes.
Mercado mais seletivo
O mercado hoje está bem mais seletivo com as ofertas, avalia Pereira, observando atentamente a oportunidade e o preço. “Como a perspectiva lá na frente é incerta, o investidor olha muito o preço para ver se não está caindo em uma avaliação muito alta”, diz. Há também questões de mercado, como Unidas e Movida, duas empresas de aluguel de carros, que fizeram ofertas quase ao mesmo tempo. A competição pelo mesmo tipo de investidor acabou levando a Unidas a suspender a operação. Ao mesmo tempo, a Movida teve de baixar o preço para captar, o que mostra que o mercado também não está tão afoito para comprar tudo o que aparece. “Os movimentos mostram cautela do mercado e estão se realizando porque são ofertas menores, não são gigantes e não são nomes tão tradicionais”, avalia Pereira.
Algumas operações maiores são esperadas para este ano, caso do Atacadão/Carrefour, que pode atingir um valor de mercado de R$ 20 bilhões. A Caixa Seguridade saiu da pauta de privatizações, mas pode voltar caso as condições de mercado melhorem, segundo afirmou o presidente da Caixa, Gilberto Occhi, em entrevista recente.
Abaixo, uma lista com potenciais ofertas de ações
Abaixo, uma lista com potenciais ofertas de ações
IPO/Follow-on | Empresa | Descrição |
---|---|---|
IPO | Aliança | Empresa de energia |
IPO | Allied | Empresa de tecnologia |
IPO | Atacadão | Braço de atacarejo do Carrefour |
IPO | Bio Ritmo | Rede de academias |
Follow-on | Biosev | Produtora de bioetanol |
IPO | Biotoscana | Farmacêutica de Especialidades |
IPO | Caixa Seguridade | Holding de seguros da Caixa |
IPO | CEDAE | Empresa de saneamento |
IPO | Cruzeiro do Sul | Empresa de educação |
IPO | Eldorado Brasil | Empresa de Papel e Celulose |
IPO | Furnas | Empresa do setor Elétrico |
IPO | Infraero Aeroportos | Subsidiária da Infraero com 19 ativos |
IPO | Hap Vida | Empresa de seguros de saúde |
IPO | NotreDame Intermédica | Operadora de planos de saúde |
IPO | IRB Brasil RE | Empresa de Resseguros |
Follow-on | Lojas Americanas | Comércio Varejista |
IPO | Log Commercial Properties | Galpões logísticos da MRV |
Follow-on | Multiplan | Rede de Shoppings |
IPO | Neoenergia | Holding do setor elétrico |
IPO | Netshoes | Empresa de E-commerce |
IPO | Rede D’or | Empresa de saúde |
Follow-on | Somos Educação | Empresa de Educação (76% Tarpon) |
IPO | Azul | Programa de fidelidade da Azul |
IPO | Unidas | Empresa de Locação de Veículos |
IPO | XP | Corretora de valores |
Fonte: Levantamento Guide Investimentos