Impacto do vírus pode ser ainda pior, diz gestor do Goldman
Um gestor de recursos do Goldman Sachs que acertou na previsão do rali das ações do ano passado diz que o mercado acionário é muito complacente em relação aos possíveis efeitos do coronavírus e que pode enfrentar mais quedas.
“Não achamos que o mercado acionário tenha precificado o pior resultado do vírus, pois as medidas de contenção podem continuar se estendendo, refletindo o que vimos na China e na Itália”, disse Shoqat Bunglawala, que lidera o grupo global de soluções de portfólio para Europa, Oriente Médio, África e Ásia-Pacífico do Goldman Sachs Asset Management. “Portanto, reconhecemos que ainda existem riscos de baixa de agora em diante”, afirmou em entrevista.
O grupo global de soluções de portfólio do Goldman reduziu a exposição às ações mundiais de “overweight” para “neutra” nas últimas semanas devido à rápida propagação do vírus fora da China, com surtos na Europa e EUA, o que ameaça o crescimento global e os lucros.
A unidade de investimento mantém a posição “overweight” em renda fixa e faz alocações em estratégias alternativas, como acompanhamento de tendências. A estratégia inclui posição comprada em juros e vendida em ações.
A gestora, que administra US$ 1 trilhão em ativos, entra para a lista de grandes investidores e estrategistas que adotam postura mais cautelosa em relação aos ativos de risco diante da crescente incerteza.
Embora a combinação do temor do coronavírus e guerra de preços do petróleo tenha eliminado US$ 11 trilhões do índice MSCI All-Country World, as ações estavam em recordes de alta e os valuations de empresas dos EUA estão acima da média histórica.
Por isso, participantes do mercado estão preocupados com a possibilidade de mais perdas.
Grandes empresas, como Apple, BASF e Adidas, alertaram sobre o impacto nos lucros. O bloqueio na Itália e cancelamento de voos em todo o mundo afetam setores como luxo e viagens.
O Goldman agora espera que o crescimento do lucro por ação nos EUA fique entre zero e 2% este ano e prevê retração de 6% do LPA para a Europa.
Bunglawala diz que, devido ao atraso, os dados econômicos não conseguem refletir toda a extensão dos danos causados pela epidemia, por isso é muito importante rastrear outros fatores, como a velocidade da propagação do vírus, medidas de contenção e sinais de estresse nos mercados financeiros.
Embora o grupo global de soluções de portfólio do Goldman Sachs Asset Management seja cauteloso em relação às ações, monitora o surto e o mercado para pontos de entrada.
“Se observarmos uma estabilização da propagação do vírus, poderemos sair do posicionamento defensivo e aproveitar oportunidades táticas”, disse Bunglawala.