O impacto da crise da Americanas (AMER3) para os grandes bancos
A crise na Americanas (AMER3) trouxe à tona a discussão sobre investimentos nos grandes bancos, que foram atingidos brutalmente pelos problemas financeiros da varejista.
Sua recuperação judicial envolve uma dívida de R$ 41,2 bilhões, sendo que, deste total, R$ 26,4 bilhões correspondem a débitos com 12 instituições financeiras.
Isso significa dizer que quase todas as grandes instituições financeiras são credoras de empréstimos para as Americanas.
Essa situação, naturalmente, causa preocupação entre os investidores desses bancos, especialmente porque o escândalo veio em um momento em que eles já enfrentavam ceticismo dos investidores por conta de fatores microeconômicos, como o aumento da inadimplência, e macro, na medida em que discussões políticas de temas como reforma tributária, independência do Banco Central e o papel dos bancos públicos na concessão de crédito diminuem a atratividade do setor.
Apesar de o débito ser bastante considerável e de todo o cenário macro que as instituições estão passando, não acho que o investidor deva evitar o setor. Os nossos grandes bancos são muito sólidos e já estão sendo penalizados pelo efeito Americanas. Daqui para a frente, todos vão absorver esse risco e seguir normalmente com suas operações.
Desta forma, mesmo tendo sido atingidos, o efeito Americanas não coloca o setor em risco.
Considero que o maior desafio para os bancos será a precificação correta para a oferta de crédito. As taxas de juros ainda altas e o crédito mais seletivo são o calcanhar de Aquiles para o crescimento da economia em 2023.
De todas as instituições financeiras, o Banco do Brasil (BBAS3) é o que tem a menor exposição ao ‘risco Americanas’. Por conta dessa baixa exposição, ele sofreu menos nos últimos dias e pode ter um desempenho melhor ao longo desse ano.
Desde a descoberta das “inconsistências em lançamentos contábeis” estimado em cerca de R$ 20 bilhões, a Americanas viu suas ações derreterem no mercado acionário e enfrenta uma série de processos de investigação após o escândalo contábil reportado pela companhia no mês passado.
A empresa entrou com pedido de recuperação judicial, que foi aceito no mesmo dia pelo juiz Paulo Assed Estefan, da 4ª Vara Empresarial da Comarca do Rio de Janeiro. A empresa está no chamado ‘prazo de blindagem’, um período de 180 dias no qual todas as suas dívidas ficam suspensas.
Salvar a varejista é o principal objetivo neste momento e credores já se mostram abertos a tentar achar uma solução para o problema.
Representantes das instituições financeiras avaliam emprestar R$ 2 bilhões à empresa. O empréstimo poderia ser feito na modalidade DIP (debtor-in-possession, na sigla em inglês) e ajudaria a manter as operações da empresa.
Vale lembrar que este empréstimo é voltado para empresas em recuperação judicial, o que garante que esses credores passem na frente na fila de pagamentos.
O rumo das Americanas é uma incógnita, o case não me agrada. Em condições normais de mercado, a empresa caminha para o precipício. A não ser que seus sócios/controladores façam aportes bilionários, dificilmente veremos recuperação para a varejista.