Igor Rodrigues: por que existe tanta expectativa para empresas que compram bitcoin?
Em julho, boa parte da alta do bitcoin (BTC) e de outras criptomoedas foi explicada pela possibilidade da Amazon (AMZN; AMZO34) aceitar pagamentos em bitcoin para seus produtos. O boato foi desmentido pela própria empresa após alguns dias.
É claro que outros fatores também foram importantes para a alta, como o aumento na taxa de hashes, o preenchimento do espaço deixado por mineradores chineses por validadores de outros países e a diminuição na oferta, resultante do aumento dos chamados “hodlers” (que mantêm o ativo em carteira por um longo período).
De qualquer forma, por que uma empresa comprando bitcoin gera tanta expectativa? Uma das respostas pode ser: a adoção em massa das tesourarias e das companhias em geral pelas criptomoedas é uma questão de tempo. Porém, exige uma certa angústia em relação a como esse movimento será realizado.
Em todos os grandes movimentos de mercado, há sempre uma notícia — ou um boato — de uma empresa renomada entrando no mercado cripto.
Foi o caso do Facebook (FB; FBOK34) com a Libra (agora Diem), em 2019, e o Paypal (PYPL34), em 2020. A partir do segundo semestre de 2020, vimos as primeiras empresas de capital aberto investindo parte relevante do caixa em bitcoin.
Esse fato despertou o interesse de outras companhias e de pessoas físicas por criptomoedas, levando as cotações de bitcoin e de altcoins — alternativas ao bitcoin — para os níveis mais altos da História nos meses seguintes.
As primeiras empresas a adotarem criptomoedas em suas tesourarias corporativas — como Microstrategy (MSTR) e Tesla (TSLA; TSLA34) — foram aquelas ligadas à tecnologia e que, por isso, tendem a ser mais abertas à inovação do que algumas empresas em setores mais antigos da economia.
Essas empresas estão sempre ativas na nova economia por meio de investimentos diretos ou por passarem a aceitar criptomoedas como meio de pagamento no intuito de obter conhecimento, além de se proteger de uma possível inflação.
Em conversas com grandes empresas, alguns gestores declaram que existe o desejo de investir parte dos recursos de tesouraria em criptomoedas para aprender sobre esta inovação.
No entanto, desafios — rígidas políticas corporativas de investimentos, o desconhecimento sobre a custódia e a forma de escriturar o ativo em seus livros contábeis — acabam desacelerando esse processo.
Outro fato que dificulta a adoção é a volatilidade de preços inerente ao mercado de curto prazo das criptomoedas.
Apesar das barreiras tão complicadas e da dificuldade no processo de decisão, quando uma grande companhia anuncia que possui planos de participar da criptoeconomia, gera-se grande expectativa no mercado, pois pode ser um catalisador de adesão em massa.
Embora ainda tenhamos desafios para a adesão do mercado corporativo, a questão não é “se” ocorrerá, e sim “quando”.
Regramentos de compliance, diretrizes contábeis e possível regulamentação dessa classe de ativo estão sempre em discussão e trarão impulso para a adoção de criptomoedas e blockchain por empresas em níveis muito robustos nos próximos anos.
Igor Rodrigues é head de trading da MezaPro, unidade de negócios da 2TM voltada a clientes institucionais e de alta renda.