Iene, a moeda japonesa, pode ser uma boa oportunidade de ganhos. Veja por quê
Eu sempre tive (e ainda tenho) a vontade de conhecer o Japão. Parte considerável da minha infância foi consumindo produtos e assistindo os mais diversos desenhos animados japoneses. E, recentemente, descobri que também existe uma possibilidade de o investidor auferir ganhos apostando no iene, a moeda do país (o que não quer dizer que ele VAI ganhar dinheiro, deixando claro).
Isso porque, diferentemente dos Bancos Centrais das maiores economias do mundo, o Banco do Japão tem mantido sua política monetária expansionista intacta, com os juros básicos ainda no campo negativo.
Já o gráfico dos juros de longo prazo da economia nipônica é, sem dúvidas, um dos mais peculiares que já tive a oportunidade de analisar.
Gráfico 2. Taxa de juros de longo prazo do Japão desde setembro de 2016 | Fontes: Bloomberg e Empiricus
E um dos pontos que mais impressiona para essa abordagem do Banco Central japonês está relacionado ao fato de que, assim como os seus pares desenvolvidos, a inflação na Terra do Sol Nascente atingiu os maiores níveis desde o final da década de 80.
Gráfico 3. Núcleo da inflação (Core CPI) anual nos Estados Unidos (azul claro), Zona do Euro (roxo), Inglaterra (azul) e Japão (vermelho) | Fontes: Bloomberg e Empiricus
A próxima reunião do BoJ, que ainda será comandada pelo atual presidente da instituição, Haruhiko Kuroda, não deve trazer novidades quanto ao nível da taxa de juros nem ao programa de controle da curva de juros (yield curve control, em inglês).
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Mesmo assim, muitos analistas consideram que esse programa para controle dos juros está com seus dias contados, dado ao grande montante que o Banco está utilizando para manter os juros nos patamares desejados.
Ainda que o principal candidato a assumir o cargo de Kuroda, o economista Kazuo Ueda, já tenha se posicionado contra uma mudança drástica na atual política monetária, o fato é que a troca no posto de chefe do Banco Central sempre pode trazer surpresas não tão agradáveis para os investidores.
Isso porque, segundo Ueda, a alta recente na inflação está calcada em fatores externos como o aumento no preço do petróleo, e não em questões ligadas à demanda doméstica. Assim como o mandatário do Banco Central americano, Jerome Powell, tratava após os meses mais duros da pandemia, para Ueda a inflação japonesa hoje seria muito mais transitória do que estrutural.
Mas alguns dados recentes indicam que essa inflação pode passar a ter pontos importantes ligados a fatores internos.
As notícias recentes apontam que os principais sindicatos de trabalhadores do país estão demandando o maior aumento nos salários em mais de duas décadas.
De acordo com a pesquisa feita pela Japanese Trade Union Confederation (JTUC) com mais de 2 mil sindicatos, o aumento solicitado médio ficou nos 4,49% para esse ano — primeiro ano acima dos 4% desde 1998 (quando atingiu 4,36%) e maior nível desde meados da década de 90.
Gráfico 4. Aumento salarial (“shunto”) anual demandado pelos sindicatos japoneses | Fontes: JTUC-Rengo e Empiricus
Apesar dos maiores custos com pessoal decorrente desses aumentos, as principais empresas japonesas se comprometeram com altas substanciais nos salários para tentar reter ao máximo seus funcionários, uma vez que estão encontrando dificuldades para novas contratações.
A maior montadora de carros do mundo, a Toyota, aceitou na semana passada o maior pedido de aumento salarial em 20 anos. Isso logo após a Honda, uma de suas principais concorrentes, ter fechado acordo para ganhos salariais de 5% aos seus funcionários.
Outras empresas aceitaram altas ainda maiores, como no caso da produtora de games Nintendo (+10%) e a varejista Fast Retailing, dona da marca Uniqlo (+40%).
A JTUC, popularmente conhecida como “Rengo”, é a maior organização de trabalho do país e representa cerca de 7 milhões de funcionários. Ainda que aqueles que trabalhem em empresas menores, em trabalho temporário ou até mesmo sem estarem sindicalizados recebam aumentos menores (quando não recebem nenhum aumento), os resultados dessas conversas são vistos como uma tendência para os salários em todo o país.
Iene: Vem aí uma guinada na trajetória frente ao dólar?
Em 2022, os sindicatos e empresas entraram em acordo para uma aumento médio de 2,07% nos salários, nível maior do que o observado nos dois anos anteriores, mas ainda assim em patamares abaixo do desejado pelo primeiro ministro Fumio Kishida para auxiliar no crescimento do país.
E as estimativas do Japan Economic Research Center apontam que as maiores companhias oferecerão aumentos da ordem de 2,85% esse ano, o que seria o maior acréscimo desde 1997. Segundo membros do Banco do Japão, o resultado dos acordos salariais é um critério importante para o curso da política monetária.
Ainda que fatores externos tenham um peso considerável na inflação atual, não podemos descartar a possibilidade dos formuladores da política monetária japonesa terem que reverter seu curso atual. E isso poderia fazer com que a moeda japonesa, o iene, mude sua trajetória recente de desvalorização frente ao dólar — decorrente da política de juros austera tomada pelo Fed.
Gráfico 5. Cotação do iene frente ao dólar desde 1990 | Fontes: Bloomberg e Empiricus
Uma das formas de apostar na valorização da moeda japonesa é por meio do ETF Invesco CurrencyShares Japanese Yen Trust (NYSE: FXY), cujo objetivo é acompanhar a variação no preço do iene. Infelizmente esse ativo só é negociado nas Bolsas americanas — que você pode adquirir pelas principais plataformas voltadas ao investidor brasileiro que queira diversificar seus ativos no exterior.
Se antes a brincadeira era que as coisas aconteciam antes no Japão do que no resto do mundo, parece agora que no quesito “política monetária” o jogo virou. E o investidor pode se aproveitar disso para diversificação do seu portfólio.
Enzo Pacheco é formado em Administração pela Universidade Federal do Espírito Santo e pós-graduado em Operador de Mercado Financeiro pela FIA. Um entusiasta do assunto “investimentos” — tendo se interessado desde os tempos de universitário —, desde 2017 foca exclusivamente na análise dos mercados internacionais nas séries da Empiricus voltadas a esse propósito (Investidor Internacional e MoneyBets).