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Ibovespa vai embicar? ‘Não nos enganemos’, diz gestora de ex-BC

24 fev 2025, 19:39 - atualizado em 24 fev 2025, 19:43
Ibovespa queda
Segundo escreve os economistas, a situação do Brasil não teve um ponto de inflexão (Imagem: REUTERS/Carla Carniel)

Dezembro foi o mês do pânico, janeiro o da descompressão e fevereiro o da invariabilidade. Assim descreve a carta escrita pela Rio Bravo, gestora do ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, dos três primeiros meses do ano.

Nesse meio tempo, a curva de juros se manteve próxima a 14% nos prazos de vencimentos mais curtos, o dólar continua estável em torno de R$ 5,70, e o Ibovespa segue na faixa dos 127 mil pontos.

Pelo menos até agora. Isso porque a gestora alerta que nada mudou e que a piora pode voltar. “Depois de vários meses consecutivos de muita volatilidade e notícias desesperadoras, a “calmaria” de fevereiro, se é que podemos chamar assim, parece estranha”, diz.

Nesta segunda, o Ibovespa caiu mais de 1% e agora já está no patamar de 125 mil pontos. Já o dólar subiu 0,81% e já encosta nos R$ 5,8.

Segundo escreve os economistas, a situação do Brasil não teve um ponto de inflexão. Na verdade, dizem, o prognóstico da economia continua preocupante.

“Os juros devem continuar subindo nas próximas duas ou três reuniões do Copom. A dívida mantém uma composição preocupante, e não há nenhuma perspectiva de melhora fiscal no horizonte. Quando olhamos por esse ângulo, o natural é nos perguntarmos por que vivemos essa estabilidade em fevereiro”.

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Ibovespa: Dominância fiscal

Para a gestora, o mais lógico é observar como o termo “dominância fiscal” desapareceu repentinamente dos jornais, e a consequente crise de confiança que evoluiu com a aparição desse termo foi parcialmente revertida, o que pode explicar a melhora dos últimos meses.

Dominância fiscal é quando as medidas tradicionais de política monetária tornam-se ineficazes ou até contraproducentes no controle da inflação.

“Os dados de atividade mais recentes explicam um pouco o porquê, com os resultados de novembro e dezembro sugerindo desaceleração da economia na margem”, afirma.

Os economistas recordam que do lado do mercado de trabalho, a PNAD registrou o aumento da taxa de desemprego pela primeira vez em 10 meses, enquanto se observa redução no ritmo de crescimento dos salários.

Além disso, a PMS, referente ao volume de vendas no varejo, e a PIM, referente à produção industrial, também mostraram retrações de -0,5% e -0,3%, respectivamente.

“Apesar de todos esses dados já estarem dessazonalizados, seria ingênuo desconsiderar a possibilidade de que esse recuo da atividade seja algo temporário, e não necessariamente uma materialização agressiva dos juros restritivos”.

Mas a realidade…

De acordo com os economistas, mesmo assim a inflação apresenta grande resiliência no núcleo de serviços, e a divulgação do IPCA de janeiro registrou incremento considerável nos preços dos alimentos.

“Mesmo com o arrefecimento da carne bovina, os agropecuários ainda avançam fortemente”

O destaque, explica, segue sendo o núcleo dessazonalizado de serviços, reflexo do mercado de trabalho apertado. A categoria supera os 8% na variação acumulada em doze meses, “e essa resiliência dificulta fortemente o processo desinflacionário”.

“Tudo isso para dizer que a inflação de janeiro não é necessariamente uma boa notícia”.

Nesta segunda, inclusive, as taxas dos DIs fecharam em alta firme após o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, antecipar que foram criadas mais de 100 mil vagas formais de emprego no Brasil em janeiro, o que favorece a leitura de que pode não haver tanto espaço para desaceleração da alta de juros.

Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022, 2023 e 2024. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
renan.dantas@moneytimes.com.br
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022, 2023 e 2024. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.