Ibovespa derrete quase 5% com risco político; Petrobras perde R$ 74 bi
O Ibovespa (IBOV) fechou em forte queda nesta segunda-feira, com Petrobras (PETR4) perdendo 74 bilhões de reais em valor de mercado e investidores enxergando aumento relevante de risco de interferência do governo em estatais. Banco do Brasil (BBAS3) desabou 11,65%.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 4,87%, a 112.667,70 pontos, menor patamar de fechamento desde 3 de dezembro de 2020. Foi também a maior queda percentual diária desde 24 de abril do ano passado.
Influenciado pelo vencimento de opções sobre ações, units e cotas de ETFs na B3 (B3SA3) nesta sessão, o volume financeiro atingiu 84,5 bilhões de reais, superando o recorde de dezembro do ano passado, quando registrou 81,5 bilhões, em sessão marcada pelo vencimento de opções sobre o Ibovespa.
O entendimento no mercado é o de que as declarações de Bolsonaro elevam de forma expressiva o risco político e se somam a incertezas já relevantes nas áreas da saúde e fiscal, bem como no cenário prospectivo para a agenda de reformas. Para alguns, o problema não é uma mudança na Petrobras, mas como aconteceu.
Além do efeito de curtíssimo prazo, executivos de bancos de investimento e gestores temem que a forte reversão das políticas favoráveis ao mercado do Brasil por Bolsonaro possa impactar o recente renascimento das ofertas de ações por empresas no país.
“Há uma aumento de aversão a risco relacionado a Brasil com as dúvidas sobre o que podem ser essas medidas do Bolsonaro…”, disse o diretor de investimentos da Reach Capital, Ricardo Campos. “Fica um pouco em suspenso o cenário (de IPOs) até todo mundo entender exatamente o que está acontecendo.”
Destaques
Petrobras (PETR4) caiu 21,51%, a 21,45 reais, voltando para níveis de novembro do ano passado, assim como Petrobras (PETR3), que recuou 20,48%, a 21,55 reais.
Foi o pior desempenho percentual diário das ações desde março de 2020. Uma bateria de analistas cortaram a recomendação e os preços-alvo dos papéis da companhia, citando aumento de incertezas com a maior interferência do governo na petrolífera de controle estatal.
Para o Credit Suisse, as principais dúvidas agora se referem à continuidade da política de preços da Petrobras atrelada à paridade internacional; e a mudanças no plano de negócios.
Nesta segunda-feira, a Petrobras perdeu cerca de 74 bilhões de reais em valor de mercado.
Banco do Brasil (BBAS3) recuou 11,65%, a 28,83 reais, mínima desde maio do ano passado. Foi também a maior queda percentual diária desde abril, equivalente a uma perda de valor de mercado de 10,9 bilhões de reais.
O BB também sofreu com o aumento da percepção de risco de interferência política em entidades estatais após decisões ligadas à Petrobras, com o BB já sob os holofotes após ruídos com Bolsonaro por causa da reestruturação do banco.
O Itaú BBA reiterou visão cautelosa para as ações, enquanto o Credit Suisse cortou a recomendação para ‘neutra’ e reduziu o preço-alvo para 38 reais.
Entre os bancos, Bradesco (BBDC4) caiu 6,56% e Itaú Unibanco (ITUB4) cedeu 7,28%.
Eletrobras (ELET3) e Eletrobras (ELET6) perderam 0,69% e 0,17%, respectivamente, também contaminadas pelas declarações de Bolsonaro sobre energia, embora tenham se afastado das mínimas durante o pregão. O índice do setor elétrico recuou 3,48%.
Para o Bradesco BBI, o risco de interferência regulatória contundente é baixo, embora o regulador tenha atualmente um incentivo para mitigar os aumentos das tarifas de eletricidade em 2021 porque a economia e a população ainda estão enfrentando impactos negativos da Covid-19.
BR Distribuidora (BRDT3) caiu 7,22% e Ultrapar (UGPA3) fechou com declínio de 7,83%, também afetadas pela verborragia de Brasília relacionada aos combustíveis.
Mais cedo nesta segunda-feira, Bolsonaro afirmou a apoiadores que é possível reduzir em 10% o preço dos combustíveis intervindo na bitributação e em mudanças no ICMS.
Lojas Americanas (LAME4) saltou 19,88%, maior alta desde março de 2020, fechando a 28,95 reais, máxima desde outubro.
B2W (BTOW3) subiu 1,15%. As companhias anunciaram na sexta-feira que estão avaliando uma combinação de suas operações.
A B2W é atualmente controlada pela Lojas Americanas em 62,5%.
Embraer (EMBR3) valorizou-se 7,4%. A fabricante de aviões afirmou em comunicado que tem discutido com a Lufthansa uma potencial venda de aeronaves.
A Embraer ponderou, contudo, que tais discussões não estão em um estágio avançado, “e não há qualquer compromisso firme de concretização de tais vendas neste momento”, segundo comunicado na sexta-feira.