Coluna do Daniel Abrahão

Ibovespa tem a perder ou a ganhar com recessão nos EUA? A resposta vai te surpreender

11 maio 2023, 12:34 - atualizado em 26 maio 2023, 10:11
Calote dos EUA
Investidor não sabe se é hora de comprar ou vender Ibovespa  em 2023 às véspera de uma recessão nos EUA. Colunista sinaliza a resposta. (Imagem: REUTERS/Dado Ruvic/Ilustração)

O mês de abril foi mais um período positivo tanto para o Ibovespa (IBOV) quanto para as bolsas globais. Mas será que a recessão nos Estados Unidos vai atrapalhar ou favorecer as ações brasileiras?

Apesar do mercado ter ficado em compasso de espera por grande parte do mês, dados energéticos ainda sólidos e resultados positivos das empresas no primeiro trimestre de 2023 trouxeram um sentimento mais otimista aos investidores.

O Brasil registrou retornos positivos no último mês, com uma valorização de 2,5% do Ibovespa, em reais. Essa performance foi impulsionada por dois fatores principais.



IPCA e arcabouço fiscal

A desaceleração da inflação, que trouxe um ambiente mais favorável para o mercado.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a opinião oficial do país, registrou uma variação de 0,21% em abril, abaixo das expectativas dos analistas e do resultado de março (0,93%).

O anúncio do novo arcabouço fiscal pelo governo federal, que trouxe mais segurança e previsibilidade para os investidores.

O novo conjunto de medidas incluiu uma reforma administrativa, uma reforma tributária e uma revisão do pacto federativo, entre outras iniciativas.

Esses dados positivos mostram que os mercados seguem desafiando o pessimismo com relação à economia.

Apesar das incertezas e dos desafios ainda existentes, as perspectivas para os investimentos continuam sendo promissoras, principalmente em países emergentes como o Brasil.

Selic contra o Ibovespa

A relação entre a taxa de juros e a bolsa de valores pode ser complexa e variar de acordo com as circunstâncias do mercado.

Em geral, uma taxa de juros mais alta tende a desestimular os investimentos em ações.

Pois os investimentos em renda fixa passam a ser mais atrativos em relação aos investimentos em renda variável.

Isso porque a taxa de juros é o custo do dinheiro, e quanto maior for esse custo, menor será o apetite dos investidores por riscos.

Por outro lado, uma taxa de juros mais baixa tende a incentivar os investimentos em ações, já que os investidores podem obter um retorno mais atraente do que em investimentos em renda fixa.

Além disso, uma redução na taxa de juros pode aumentar a disponibilidade de dinheiro no mercado, o que pode levar a um aumento na demanda por ações.

No entanto, é importante lembrar que a relação entre a taxa de juros e a bolsa de valores não é uma relação linear e pode ser influenciada por diversos outros fatores, como a situação econômica do país, a política monetária do governo, as condições do mercado internacional, entre outros.

Setores mais amassados

Os ciclos de corte de juros podem ter um impacto significativo no desempenho da renda variável.

A queda dos juros pode beneficiar alguns setores e ações da bolsa brasileira de diferentes maneiras, dependendo do contexto do mercado.

Em geral, setores que são mais dependentes de crédito e financiamento, como o setor imobiliário e de construção civil, costumam apresentar melhor desempenho em períodos de queda na taxa de juros no Brasil.

Isso ocorre porque a redução dos juros torna o crédito mais barato e acessível, o que estimula o consumo e os investimentos.

Outros setores também podem se beneficiar da queda na taxa de juros, como o varejo, o setor de transportes e logística, e o setor de saúde.

O varejo pode se beneficiar da redução dos juros porque o crédito mais barato estimula o consumo das famílias, enquanto o setor de transportes e logística pode se beneficiar da redução dos custos de financiamento para o rendimento da frota de veículos e equipamentos.

No que diz respeito às ações desses setores na Bolsa de Valores, existem várias empresas que podem ser interessantes para investimentos.

Recessão nos EUA ajuda ou atrapalha

Para os investidores preocupados com o desempenho das ações brasileiras durante uma recessão nos Estados Unidos, existe uma resposta.

As ações brasileiras e de mercados emergentes podem ter um desempenho superior ao do S&P 500 em períodos de contração da economia dos EUA, surpreendente não?

Um estudo realizado com dados do índice ISM de manufatura revela o que pode ajudar na tomada de decisão do investidor.

Após até seis meses do índice cair abaixo do limite de 50, as ações brasileiras têm um desempenho superior em relação ao S&P 500.

Portanto, os resultados sugerem que, em momentos de recessão nos EUA, investir no Ibovespa é uma forma de diversificar e ter ganhos maiores.

Ibovespa ainda está barato?

Para os investidores que buscam por oportunidades na Bolsa brasileira, o valuation atual continua atraente.

A relação Preço/Lucro (P/L) das ações brasileiras está em torno de 7,0 vezes.

Consequentemente, isso representa um desconto de mais de 30% em relação à média dos últimos 15 anos, que ficou em 11,0 x.

Logo, os números sugerem que as ações brasileiras estão subvalorizadas em relação ao seu histórico recente.

Portanto, o Ibovespa pode representar uma oportunidade interessante para os investidores que buscam retornos a longo prazo.

Além disso, os analistas mantêm o valor justo do Ibovespa em 128 mil pontos para o final do ano.

Assim, temos um potencial de valorização significativo em relação aos níveis atuais.

Dinâmica própria

Ao analisar o desempenho do Ibovespa em relação a diferentes referências, como o mês de abril, a taxa de juros, a recessão americana e o valuation, podemos observar a volatilidade e sensibilidade do mercado de ações brasileiro.

Embora o Ibovespa possa ser afetado por fatores externos, como a economia americana, também é importante observar a sua própria dinâmica interna e seu desempenho em relação a si mesmo.

Investir na bolsa de valores requer uma avaliação cuidadosa de diversos fatores e uma estratégia bem planejada para minimizar os riscos e maximizar os retornos.

Em resumo, os dados indicam que a bolsa brasileira continua com uma avaliação atrativa, e que os investidores devem considerar as oportunidades oferecidas pelos diferentes setores da Bolsa.

No entanto, é importante lembrar que o desempenho passado não é garantia de desempenho futuro, e que é fundamental realizar uma análise cuidadosa dos fundamentos das empresas antes de tomar decisões de investimento.

Dessa forma, os investidores podem aproveitar as oportunidades oferecidas pelo mercado e construir uma carteira de investimentos sólida e compartilhada, capaz de gerar bons retornos no longo prazo.

*Daniel Abrahão, novo colunista do Money Times, possui mais 15 anos de experiência no mercado financeiro; atuou nos maiores bancos privados do país. Atualmente, é assessor e sócio sênior na IHUB Investimentos, sendo responsável por uma carteira superior a R$ 140 milhões. Sempre traduzindo conhecimento técnico e “difícil” do mercado para facilitar a vida do investidor.

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