Ibovespa sobe com foco na articulação para aprovar reforma da Previdência
Os bulls foram predominantes na formação do preço dos ativos no Brasil e no exterior na semana, com poucas informações bearish que não comprometeram os ganhos. No Brasil, houve a movimentação em Brasília em torno da articulação política para a aprovação da reforma da Previdência. No exterior, cresceu a perspectiva que as negociações entre EUA e China terminem em acordo que cesse a disputa comercial entre os dois países.
O Ibovespa encerra a semana com ganhos 1,78% a 97.108,17 pontos, com três sessões no azul e duas no vermelho, sendo que uma delas refletiu dúvidas dos investidores quanto à capacidade do governo do presidente Jair Bolsonaro de criar uma base necessária na Câmara e no Senado para aprovar as novas regras previdenciárias. A desconfiança é presente entre cientistas políticos desde a vitória eleitoral de Bolsonaro em outubro, mas começaram a mensurar a formação de preço a partir de março entre os analistas de mercado.
A Política em Brasília
Nesta semana, a troca de farpas entre o ministro da Economia Paulo Guedes com deputados federais da oposição na audiência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara na quarta reforçou essa percepção – apesar de sua atuação ser vista como uma importante defesa da reforma pelo mercado. A audiência havia iniciado às 14 horas com o Ibovespa com alta acima de 1%, mas reverteu os ganhos.
Mas a reunião de Bolsonaro com caciques da “velha política” na quinta-feira dissipou a avaliação negativa, embora muitos questionamentos continuem. Participaram da reunião com Bolsonaro Geraldo Alckmin (PSDB), ACM Neto (DEM), Romero Jucá (MDB), Gilberto Kassab (PSD), Marcos Pereira (PRB) e Ciro Nogueira (PP). Segundo o presidente e os participantes, não foram abordados a oferta de cargos por apoio, apenas o interesse, tanto do Palácio do Planalto como dos partidos, de aprovar a reforma da Previdência, mas com os caciques exigindo alterações do texto, como retirada de novas regras para a aposentadoria rural e ao Benefício de Prestação Continuada (BPC).
Tampouco houve partido demonstrando interesse em compor a base aliada do governo, todos reivindicando independência. Resta saber se a intenção de Bolsonaro de criar conselhos políticos com estes caciques e lideranças partidárias do Congresso que têm adesão à pauta do governo pode se transformar em uma base aliada.
Nesta sexta-feira, os presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), defenderam a necessidade de uma reforma da Previdência e de o presidente Jair Bolsonaro tomar à frente no processo de comunicar a proposta e articular sua aprovação no Parlamento.
No mesmo evento, o ministro da Economia, Paulo Guedes, evitou especular quando a reforma será aprovada, mas disse não ser inteligente do ponto de vista político deixar a medida para o segundo semestre.
Bolsonaro afirmou, durante café da manhã com jornalistas, que o governo espera que a proposta seja aprovada da forma que foi enviada pelo Executivo, mas que “com toda certeza” será modificada pelo Congresso Nacional. Além disso, o presidente ressaltou aos jornalistas que as negociações com os partidos não serão regidas pelo “toma-lá-dá-cá”.
Dólar e os principais papéis
O dólar terminou a semana com queda de 1,08% na semana, apesar da alta de 0,4% a R$ 3,873 na sexta. Os investidores montaram posições para se protegerem de notícias políticas durante o final de semana, o que explica a desvalorização do real no último pregão da semana.
A Petrobras foi um dos destaques da semana no Ibovespa. A PETR4 subiu 2,57% a R$ 28,78 com agentes financeiros ainda atentos a desdobramentos relacionados à cessão onerosa. O ministro de Minas e Energia, almirante Bento Albuquerque, disse na quinta que está otimista quanto a um acordo sobre o tema na próxima semana. Na sexta, a estatal vendeu a TAG por US$ 8,6 bilhões à francesa Engie (EGIE3). As ações da petrolífera também seguiram a alta do preço do petróleo no exterior, a quinta consecutiva.
A Sabesp (SBSP3) perdeu 3,76% a R$ 40,42 com a declaração do secretário da Fazenda de São Paulo sobre a desestatização da empresa. Henrique Meirelles, afirmar que a desestatização da companhia deve ficar para início de 2020, sem especificar o modelo a ser adotado – venda ou capitalização. O mais provável é que o governo paulista opte pela capitalização, que deve levantar aproximadamente R$ 5 bilhões, sendo que R$ 4 bilhões serão destinados aos cofres públicos e o restante para investimentos.
A Suzano (SUZB3) acumulou perdas na semana de 2,9% a R$ 45,20, decorrentes do relatório do Credit Suisse sobre o setor. O banco suíço classificou o setor de papel e celulose com forte concorrência em meio a um cenário de demanda fraca, especialmente na China, reduzindo as margens. Inclusive, o banco suíço mudou a recomendação de Suzano de compra para neutra, reduzindo o preço-alvo de R$ 62 para R$ 53.
E a Linx (LINX3) pode se juntar a PagSeguro (NYSE:PAGS), Stone e Netshoes e ser listada em Nova York. A empresa planeja fazer emissão de novas ações e lista-las na Nasdaq, segundo o Estadão de quinta-feira. O objetivo é levantar por volta de US$ 300 milhões para financiar a expansão da empresa.
Exterior
O mundo foi embalado pela perspectiva de um desfecho positivo nas negociações comerciais entre EUA e China. Fontes do Financial Times e do Wall Street Journal afirmam que 90% do acordo está concluído, resta o consenso para o estabelecimento de mecanismos de fiscalização para aplicação do acordo. O presidente dos EUA Donald Trump afirmou que o acordo pode ser celebrado em quatro semanas, enquanto líder chinês Xi Jinping ordenou que o acordo seja fechado rapidamente, segundo a agência de notícias chinesa Xinhua.
Contribuíram para o bom humor externo indicadores positivos na China e nos EUA que dissiparam percepção de desaceleração econômica global. Na Europa continua, entretanto, emitindo sinais de desaceleração com os dados econômicos, além do impasse com o Brexit.