Ibovespa: Por que o mercado financeiro está arredio com o novo governo?
Logo no primeiro dia de dezembro, o Ibovespa fechou em queda de 1,33%, recuando de 112.486 pontos, obtidos no fechamento anterior, para 110.984.
Uma movimentação aparentemente normal, afinal, o sobe e desce é algo bastante comum em se tratando de mercado financeiro.
Acontece que a volatilidade observada em novembro deverá se repetir no mês atual por conta de um componente extra: as expectativas em torno da transição de governo.
Há quem não entenda o porquê de uma transição de governo gerar tanta insegurança, já que a troca de governo é inerente ao sistema democrático.
A resposta é simples. O mercado gosta de operar com regras claras. Nem todo investidor é um especulador. Existem aqueles, principalmente estrangeiros, que investem a longo prazo. Ou seja, eles desejam que as regras existentes hoje sejam as mesmas daqui a um ano, 10 anos ou 30 anos.
Ter regras claras e não as alterar no caminho é extremamente importante, porque só dessa forma é possível ter previsibilidade da evolução do capital aportado no país.
E o que vemos é que o momento político do Brasil está conturbado. A exemplo do que acontecia já durante a eleição, o agora candidato perdedor ainda questiona a lisura do processo.
Independente desse fato, a própria equipe de transição do governo eleito tem sinalizado que não deve respeitar muito o teto de gastos. Bom, ainda falta a Câmara dos Deputados aprovar a PEC da Transição.
Já aprovada pelo Senado, a PEC libera ao menos R$ 168 bilhões em despesas para bancar o Bolsa Família de R$ 600 e a elevação do salário-mínimo pelos próximos dois anos.
Considerando que a situação fiscal não é das melhores, o mercado faz o que todo cidadão prevenido deveria fazer. Age de forma contida, esperando para saber com exatidão o tamanho do risco que terá de enfrentar a partir de 1º de janeiro.
As possíveis mudanças geram uma insegurança jurídica, principalmente para o investidor estrangeiro.
E nossa Bolsa ainda é muito dependente do volume de operações do mercado internacional.
O investidor estrangeiro não lida muito bem com esse tipo de insegurança. Tudo o que ele espera na hora de alocar seu capital em determinado país, ainda mais em um país como o Brasil, que é emergente, não é uma nação desenvolvida, e sim que haja segurança jurídica. Que haja cumprimento das regras.
Os grandes fundos de investimentos do mundo têm quantidades gigantescas de dinheiro e eles pensam realmente no médio e longo prazos. Por isso, como já disse, buscam lugares onde as regras sejam muito claras.
Então, essa fase de transição realmente é uma fase muito delicada que nosso País está passando. Essas quedas recentes que nossa Bolsa sofreu estão ligadas diretamente a esta insegurança.
Fernando Haddad, que foi candidato ao governo de São Paulo e que é um político muito próximo do presidente eleito, participou de uma reunião com banqueiros da Febraban, representando Lula.
Ele falou um pouco sobre reforma tributária, o que é importante, mas deixou tudo muito vago. Na sexta-feira (9), o presidente eleito finalmente anunciou que Haddad será o ministro da Fazenda.
Indicação esta que desagradou o mercado pelo fato de ele não ser um liberal, levando a crer que novas privatizações dificilmente vão ocorrer.
E por uma questão de ideologia do futuro ministro da Fazenda, muitas dúvidas estão sendo levantadas quanto à sua atuação.
O novo governo será mais intervencionista nas estatais ou não? Para o mercado, o ideal é que não seja nada intervencionista, mas o PT já governou o país e sabemos como eles administraram as empresas públicas.
Claro que hoje existem regras mais rígidas que dificultam a ação de governos sobre os interesses das empresas, mas não podemos esquecer que, mesmo com regras corporativas mais rígidas, o atual presidente, Jair Bolsonaro, trocou o presidente da Petrobras diversas vezes na tentativa de interferir na política de preços da companhia.
Ou seja, a nova Lei das Estatais até dá alguma proteção, mas até que ponto? Vale lembrar que, para abrigar Aloísio Mercadante como presidente do BNDES o atual Congresso já fez uma pequena modificação nas regras.
Esta é a grande razão para o mercado financeiro se mostrar arredio. E o mercado responde agindo de uma forma defensiva, já precificando as ações prevendo o pior que, no caso, seria uma gestão pública sem nenhuma preocupação com a responsabilidade fiscal.