Selic a 12,25%: Veja como podem reagir o Ibovespa, o dólar e a curva de juros
Em última reunião de Roberto Campos Neto como presidente do Banco Central, o Copom elevou, como parte do mercado precificava, a Selic, a taxa básica de juros, em 1 ponto percentual.
Mas não só isso: o BC contratou mais duas altas de 1 ponto percentual para as próximas reuniões, o que significa uma Selic terminal em 14,25%, algo não visto nem durante o pós-pandemia, quando os juros chegaram a 13,75% e o mundo vivia um choque inflacionário.
Apesar da pancada, os ativos podem reagir de forma positiva. Lá fora, o EWZ, também chamado Ibovespa em dólar, chegou a subir mais de 1,5%, após fechar a sessão em alta de 2,71%.
De acordo com economistas, a decisão de elevar os juros ancora as expectativas. Após a apresentação do corte de custos de R$ 70 bi, que veio junto com a surpresa da isenção do Imposto de Renda, houve piora do cenário, com o dólar na casa dos R$ 6.
“Com essa decisão extremamente acertada, devemos ver uma melhora nos ativos. Óbvio que a curva curta deve abrir um pouco porque talvez não tivesse os 100 pontos na reunião de março. Mas a curva longa tende a fechar, o câmbio tende a apreciar”, disse Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital ao Giro do Mercado, que você pode assistir na íntegra clicando abaixo:
No caso da bolsa, Damico afirma que os sinais são mais mistos, já que a alta dos juros costumam pressionar as ações. Por outro lado, com esse aumento de juros, vem uma credibilidade da política monetária.
“Por isso tenho alguma dúvida sobre o sinal da bolsa. Teoricamente, deveria ser bolsa para baixo. A rigor, teria espaço para queda. Só que ao entregar os 300 pontos, ele entregou a sua credibilidade. É um BC que não vai deixar a inflação a ermo”, justifica.
Alexandre Brito, sócio e gestor da Finacap, vai na mesma linha ao dizer que o Banco Central reforçou muito a própria responsabilidade da perseguição do regime da meta de inflação.
“Acho que é possível que o maior endurecimento da trajetória dos juros de curto prazo pode trazer algum alívio na trajetória da curva a mais de longo prazo, esperando que o Banco Central vai ser mais austero nesse controle da inflação no curto prazo”.
Marcelo Bolzan, sócio da The Hill Capital, também sustenta que o mercado irá reagir bem a essa política monetária mais pesada.
“Mesmo que juros elevados sejam ruins para a bolsa, comunicado vai passar um recado importante de que o Banco Central vai buscar convergir a inflação para o centro da meta, então acho que o mercado vai ver isso com bons olhos”.
Para ele, a tendência é que a bolsa abra o dia de forma positiva, com o dólar recuando um pouco mais. Nesta quarta, a moeda fechou cotada a R$ 5,9557 (-1,53%) — abaixo de R$ 6 pela primeira vez desde o início de dezembro.
“Então penso que o mercado, apesar de ser uma decisão dura, hawkish, vai ver isso com bons olhos. Comunicado me surpreendeu positivamente. Precisava ser duro e realmente foi”.
De acordo com, Flávio Serrano, do BMG, a ação mais agressiva de política monetária deverá ter efeitos positivos sobre a dinâmica de expectativas de inflação, evitando que elas continuem piorando de maneira tão intensa como vínhamos observando recentemente. Com isso, ele espera um real mais valorizado.
Mais forte que o esperado; Ibovespa para baixo?
Já Idean Alves, planejador financeiro e especialista em mercado de capitais, afirma que o tom do comunicado do comitê veio mais hawkish (duro) que o esperado, com o objetivo de ancorar as expectativas de inflação que saíram dos trilhos nos últimos meses, e que só deve ficar dentro do esperado no médio prazo.
“Com esse alinhamento de expectativas mais longo, além de outros fatores, o Copom preferiu dar um “choque” de alta de juros, para evitar que esse cenário tenha que se perpetuar por mais tempo lá na frente”.
Assim, em sua visão, a bolsa amanhã deve abrir em baixa, por conta da pressão dos juros locais, assim como os juros futuros precificando um cenário de mais altas.
“Acredito que o real deve se valorizar perante o dólar pela atração de fluxo com juros mais altos, que remunera melhor o capital estrangeiro”, afirma.