Ibovespa: já podemos dar adeus ao rali de fim de ano da Bolsa? Veja o que dizem os analistas
O mercado reage muito mal à proposta do Governo Federal de aumentar o auxílio pago para R$ 400 no ano que vem, sendo parte composta pelo orçamento do Bolsa Família e parte por um auxílio temporário que, por não ser estruturado como despesa continuada, não precisará de definição de fonte de receita.
Dessa forma, o Ibovespa desabou 3% enquanto o dólar disparou 1,35% a R$ 5,59.
Segundo fontes, o novo programa manterá seu orçamento de R$ 34,7 bilhões previsto para o ano que vem. Porém, o auxílio será vitaminado por R$ 50 bilhões: parte será pago dentro do teto de gastos e parte fora. Por ter duração delimitada, esse gasto não precisa, pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), de compensação.
Para o economista e CEO da iHUB Investimentos, Paulo Cunha, a proposta sinaliza uma falta de responsabilidade fiscal e com o teto de gastos, tanto do Congresso quanto do governo.
“O governo prefere mexer na própria lei mas não pensa na contrapartida de corte de gastos ou aumento de receitas via aumento de impostos. Isso tira muito da confiabilidade do governo”, disse ao Money Times.
Ainda segundo ele, o mercado encara a proposta como fura teto.
Bolsa
Nas últimas semanas, o Ibovespa vinha ensaiando uma recuperação mais acentuada. Segundo analistas gráficos, o índice estava na iminência de quebrar tendência de baixa.
“Na volta do feriado, o índice apresentou força compradora e performou melhor que seus pares mundiais, encerrando o pregão com quebra da importante resistência aos 113.100 pontos”, destacam os analistas Maurício A. Camargo, Ernani Reis e Henrique P. Colla, da Ágora Investimentos.
Porém, essa alta pode ser freada com a proposta do governo, afirma Cunha. “O Ibovespa sinalizava um rali de alta de final de ano que estava começando a se formar e acabou com tudo”, diz.
Além disso, o economistas lembra que a curva de juros futuro inclinou. “Você já tem juros com vencimento lá para 2029 chegando a quase 11,5% ao ano”, completa.
Real tem pior desempenho do mundo
Quem opera há algum tempo no mercado financeiro já está familiarizado com o Índice DXY — que representa a força do dólar americano no mundo, ao mostrar a relação do ativo contra uma cesta de moedas de países desenvolvidos.
O dólar está caindo no resto do mundo, mas só no Brasil a moeda norte-americana tem se valorizado com grande força. Mas por quê?
O diretor de operações da Câmbio Curitiba, Lucas Schroeder, explica que o cenário doméstico já penaliza do Brasil há algumas semanas, e mais recentemente, falas do presidente Jair Bolsonaro sobre programas sociais reforçaram o tom de aumento dos gastos públicos.
“Mas ainda não existe solução para a famosa PEC dos Precatórios [que pode liberar valor de dívidas da União já em julgamento para a criação do Auxílio Brasil ou mesmo extensão do Auxílio Emergencial], que inclusive pode ser votada a qualquer momento na Câmara dos Deputados”, disse Schroeder.
O aumento da incerteza dos investidores em relação a se o governo federal respeitará o teto de gastos tem provocado estresse não somente ao dólar, como também ativos em geral negociados na Bolsa de Valores brasileira.