3 pontos para entender por que a bolsa brasileira não decola, mesmo barata, segundo Rodolfo Amstalden
O mercado observa uma tempestade há dias. O Ibovespa (IBOV), que ainda não viu um dia de céu azul em junho, já acumula seis quedas consecutivas e perdeu o patamar dos 122 mil pontos no pregão desta quarta-feira (5).
A cotação de 132,6 mil pontos do índice no começo de 2024 e as projeções ainda mais otimistas superiores a 150 mil pontos viraram coisa do passado. Os analistas já esperam que o IBOV entregue menos retorno no ano.
Para o sócio-fundador da Empiricus, Rodolfo Amstalden, não há nenhuma grande notícia no radar que possa levar a bolsa para cima dos 130 mil pontos no curto prazo. Por outro lado, ele diz também que dificilmente o índice cairá aquém dos 120 mil pontos.
Mesmo barata, o Ibovespa não engata novas altas, uma vez que “não funciona por osmose”, diz Amstalden. “O fato da B3 estar barata não é uma condição suficiente para que ela fique cara”, ressaltou no programa do Money Times, Giro do Mercado.
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“A bolsa precisa de energia de ativação para se encarecer, representada por fatos/gatilhos e narrativas. Hoje, não há fatos novos e, pior do que isso, a gente perdeu a narrativa”, lamenta.
“A gente tinha três narrativas econômicas razoavelmente claras e convincentes, mas elas se perderam e nenhuma entrou no lugar. Hoje, a gente está completamente sem narrativas’, afirma.
Por que a bolsa não decola, mesmo barata?
O sócio-fundador da Empiricus destaca que três pontos travam a bolsa brasileira hoje: gringos apáticos, perspectivas deterioradas de corte de juros e arcabouço fiscal como risco de cauda.
Amstalden destaca que, quando Lula venceu a eleição em 2022, havia uma simpatia dos investidores internacionais, uma vez que nos dois primeiros mandatos ele conseguiu melhorar a imagem do Brasil lá fora.
No entanto, isso não se repetiu no terceiro governo. “O Brasil perdeu a narrativa do gringo olhar para o Brasil, pelo menos, como uma força neutra e amistosa. Talvez a gente consiga retomar isso, mas o contexto não é muito encorajador”, diz.
Segundo ele, os estrangeiros estão “apáticos” e “não têm nenhum motivo para olhar para o Brasil agora”. “O dinheiro do gringo seria muito importante para nós. A pessoa física está firme e forte e o institucional local não tem capacidade de reação”, afirma.
O segundo ponto está relacionado à narrativa pré-contratada de queda de juros no Brasil. Ela partia da premissa de que o Banco Central brasileiro, ao elevar a taxa rápida e intensamente, teria o mérito de colher os frutos desse movimento antes. “Isso, no entanto, foi jogado no lixo”, ressalta.
Antes, a Selic terminal era entendida entre 8% e 9% ao ano, mas, agora, existe um consenso de que ela não vai ficar muito longe do patamar de 10%.
Por fim, Amstalden destaca o novo arcabouço fiscal, que “foi rasgado rapidamente”. As metas de déficit ou superávit passaram por uma primeira revisão e ficaram mais modestas, o que abalou a perspectiva do mercado.
“Ninguém tinha morrido de amores pelo arcabouço fiscal, mas, com as revisões, ele está no risco de cauda. Ele não consegue mais evitar esse risco no imaginário do investidor”, diz.