Ibovespa hoje: Gringo loves Lula; Faria Lima não
O Ibovespa não conseguiu estancar a sangria ontem (10) e derreteu quase 4 mil pontos, em uma situação típica causada pelos investidores locais. As declarações do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva provocaram dor na Faria Lima, acabando um romance que mal tinha começado.
O forte fluxo vendedor nas ações foi acompanhado pela busca por proteção no dólar. Ao mesmo tempo em que o prêmio nos juros futuros subiu forte, afastando a chance de corte na Selic em 2023. Esse ajuste de risco dos ativos locais aconteceu no mesmo dia em que o alívio com a inflação ao consumidor nos Estados Unidos fez a festa em Wall Street.
Lá fora, o apetite por risco segue firme nos mercados globais, ajudado também pelo afrouxamento das medidas de restrição de viagens internacionais para a China por causa da covid-19 – só que, uma vez lá dentro, vale o jogo de testes e quarentena. Em reação, a Bolsa de Hong Kong liderou os ganhos na Ásia, saltando mais de 7%, enquanto o minério de ferro subiu mais de 3% em Dalian, indicando um dia positivo para a Vale e, de quebra, na B3.
Porém, para entender o movimento do mercado doméstico ontem e vislumbrar o que pode acontecer com o Ibovespa hoje é preciso ter em mente o que aconteceu na segunda-feira pós-eleição, quando mesmo com Nova York em baixa, o Ibovespa subiu.
Gringo comprou vitória de Lula
O fato é que desde o resultado das urnas, o investidor estrangeiro injetou mais de R$ 6 bilhões na bolsa brasileira. A forte entrada de recursos externos alimentou esperança de que o dólar poderia furar a marca de R$ 5,00 mais cedo do que tarde, com o gringo comprando a vitória de Lula.
Em evento da Empiricus no último dia de outubro, Rogério Xavier, sócio-fundador da SPX, explicou: “O estrangeiro tem preferência por Lula, pela agenda mais amigável do meio ambiente, das ideologias de gênero, da questão das armas e da política externa”. O próprio petista criticou o mercado ontem, dizendo “que não ficou nervoso com Bolsonaro por quatro anos.”
Mas a Faria Lima está preocupada com o malabarismo a ser feito nas contas públicas para incluir gastos (leia-se agora investimentos) com saúde e benefícios sociais. Foi, portanto, um choque de realidade para os investidores locais e institucionais, que estão apreensivos quanto à nova matriz fiscal.
Afinal, diante de uma equipe de transição econômica excessivamente heterogênea, fica difícil descobrir qual será o rumo da política econômica a partir de 2023. Mais que isso, tem uma questão de fundo bem simples: quem irá comandar a economia? O problema é que se tentar brigar com o mercado, a situação pode acabar mal.
Ou seja, enquanto o próximo governo não buscar uma abordagem mais moderada, atenuando o discurso sobre a agenda fiscal, qualquer alívio nos negócios locais, como o que se espera para hoje, será como usar band-aid para curar gangrena.
A seguir, veja o desempenho dos mercados financeiros por volta das 8h00:
EUA: o futuro do Dow Jones subia 0,36%; o do S&P 500 avançava 0,36%; enquanto o Nasdaq tinha alta de 0,50%;
Europa: o índice pan-europeu Stoxx 600 subia 0,11; a bolsa de Frankfurt ganhava 0,37%; a de Paris tinha alta de 0,46%, enquanto a de Londres caía 0,24%
Câmbio: o índice DXY tinha queda de 0,81%, a 107.34 pontos; o euro subia 0,53%, a US$ 1,0263; a libra subia 0,10%, a US$ 1,1723; o dólar caía 0,90% ante o iene, a 139,71 ienes.
Treasuries: o rendimento da T-note de dez anos estava em 3,819%, estável em relação à sessão anterior; o rendimento da T-bill de 2 anos estava em 4,324%, também estável
Commodities: o futuro do ouro subia 0,58%, a US$ 1.763,80 a onça na Comex; o futuro do petróleo WTI subia 3,41%, a US$ 89,43 o barril; o do petróleo Brent ganhava 3,05%, a US$ 96,53 o barril; o contrato futuro mais líquido do minério de ferro negociado em Dalian (China) fechou em alta de 3,34%, a 697 yuans a tonelada métrica.
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