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‘Efeito Mercadante’ afeta Ibovespa (IBOV), e índice fica mais próximo dos 100 mil pontos

13 dez 2022, 18:07 - atualizado em 13 dez 2022, 18:28
Ibovespa
Nomeação de Aloizio Mercadante para o BNDES abala mercado, e Ibovespa reage (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

O Ibovespa (IBOV) terminou mais um dia com perdas. Nesta terça-feira (13), o principal índice da Bolsa brasileira seguiu em trajetória negativa, derretendo para os 103 mil pontos.

O Ibovespa fechou em queda de 1,71%, a 103.539,67 pontos, após a confirmação de Aloizio Mercadante para a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O presidente diplomado Luiz Inácio Lula da Silva confirmou nesta terça, durante apresentação de relatório com resultados do governo de transição, que o ex-ministro do governo Dilma será o novo presidente do BNDES.

Mercadante era cotado para o comando do banco. Seu nome também foi levantado como uma possibilidade para a presidência da Petrobras (PETR4), o que arrastou o Ibovespa para baixo no pregão anterior.

Mercadante faz parte da coordenação da transição do governo Lula e ocupou três cargos de ministro durante o governo de Dilma Rousseff: Educação, Ciência e Tecnologia e Casa Civil.

Seu nome é mal recebido pelo mercado por estar associado à crise econômica durante o governo Dilma. Segundo Mauro Morelli, estrategista da Davos, a aparição de Mercadante faz o próximo governo ser cada vez mais comparável com a gestão de Dilma do que com o governo Lula 1.

Recentemente, Mercadante fez críticas à TLP, taxa de juros do BNDES introduzida pelo governo Temer que tirou os subsídios concedidos pelo Tesouro aos empréstimos feitos pela instituição.

Em entrevista, Mercadante, de perfil mais desenvolvimentista, comentou que o BNDES deve ficar vinculado ao novo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, junto com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex).

Elcio Cardozo, sócio da Matriz Capital, avalia que a reação do mercado nesta terça se deve à expectativa de que a nomeação para o BNDES seria de nomes alinhados ao mercado financeiro para as pautas econômicas, visando políticas mais liberais.

Lana Santos, especialista de Renda Variável e sócia da Acqua Vero Investimentos, comenta que a indicação de Mercadante após a nomeação de Fernando Haddad para o ministério da Fazenda indica que o novo governo está acenando muito mais para as antigas políticas do governo petista do que para o mercado e para o ambiente corporativo.

“A presença de uma figura muito ligada à política econômica do governo Dilma, como Mercadante, à frente de uma instituição central no desenvolvimento do país, gera certo receio aos investidores”, pondera.

Santos diz que é preciso ter mais informações e clareza sobre o novo plano de governo para mensurar os programas de financiamento do BNDES e os impactos setoriais específicos.

Para Ricardo Lacerda, CEO do BR Partners, Lula perdeu “grande oportunidade de ver um rali histórico após sua eleição”.

Segundo Lacerda, até recentemente, todos viam uma clara distinção entre o pragmatismo de Lula e a teimosia de Dilma.

Bancos sofrem

O setor bancário teve um dia ruim na Bolsa, com Itaú Unibanco (ITUB4), Bradesco (BBDC4) e Santander Brasil (SANB11) perdendo 3,78%, 2,97% e 3,51%, respectivamente.

O Banco do Brasil (BBAS3) fechou em queda de 4,89%. Marcus Labarthe, sócio-fundador da GT Capital, destaca que a desvalorização reflete a afirmação de Lula sobre acabar com as privatizações no Brasil.

Lula disse hoje que, quem quiser vir ao Brasil, que venha, mas as empresas públicas “não estão à venda”.

“Tem trabalho, tem projetos novos para investimento”, afirmou. “Mas não venham aqui para comprar nossas empresas públicas, porque elas não estão à venda”.

As ações preferenciais da Petrobras (PETR4) terminaram a sessão em queda de 2,34%.

Além de Mercadante, investidores estão de olho em novos desdobramentos da PEC da Transição. O foco também recai sobre o recém-anunciado ministro da Fazenda do governo eleito. No fim do dia, Haddad concederá entrevista à imprensa.

Haddad confirmou que o economista Gabriel Galípolo será seu secretário-executivo, número dois na hierarquia da pasta.

Nesta terça, o Banco Central divulgou a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que veio em linha com esperado. Na semana passada, a autoridade manteve a Selic em seu atual patamar de 13,75% ao ano.

Na ata, o BC segue destacando que a política fiscal do novo governo é a sua principal preocupação.

“O Comitê avaliou que mudanças em políticas parafiscais ou a reversão de reformas estruturais que levem a uma alocação menos eficiente de recursos podem reduzir a potência da política monetária”, apontou o documento.