Ibovespa (IBOV): Arcabouço fiscal ganha pontos com mercado e leva índice para 5ª alta seguida
O Ibovespa (IBOV) entregou sua quinta alta consecutiva nesta quinta-feira (30), quando o mercado conheceu, enfim, as metas do novo arcabouço fiscal.
O índice de referência da Bolsa brasileira terminou o dia em disparada de 1,89%, a 103.713,45 pontos. Além do movimento positivo dos índices norte-americanos em Wall Street, a apresentação da nova regra fiscal que substituirá o teto de gastos atenuou as incertezas que vinham impactando o sentimento do mercado ao longo das últimas semanas.
A proposta apresentada nesta quinta limita o crescimento dos gastos a 70% da alta na receita gerada pelo Estado.
No entanto, a regra traz exceções para o crescimento da dívida. A primeira delas tem relação com o compromisso de entrega de superávit primário: a meta é gerar um primário de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2026, com uma tolerância de 0,25 pontos percentuais para mais ou para menos.
Além disso, a regra fiscal possui dois mecanismos anticíclicos, que estabelecem um crescimento real da dívida pública entre 0,6% e 2,5%.
Caso a receita não cresça, os gastos ainda poderão ser elevados em 0,6% acima da inflação.
Apesar da reação positiva, agentes do mercado parecem divididos sobre o arcabouço. A Guide Investimentos avalia que a regra tem um claro objetivo de garantir a estabilidade das contas públicas, com a missão de zerar o déficit para 2024 e gerar superávits a partir de 2025.
“Considerando que a estimativa para o déficit primário para este ano é de R$ 100 bilhões, é um objetivo bem ambicioso – principalmente quando levando em conta as sinalizações iniciais desse governo”, afirma a corretora, em relatório.
Carlos Hotz, planejador financeiro e sócio-fundador da A7 Capital, afirma que a parte positiva do anúncio é que o mercado saiu do “breu” em que se encontrava.
Hotz ressalta que faltam mais detalhes da proposta, como o que o Ministério da Fazenda planeja para chegar aos números projetados.
O economista André Perfeito destaca que, pelos comentários do ministro da Fazenda, fica “evidente que se buscará aumentar a arrecadação buscando quem não paga impostos ou que está sonegando”.
De acordo com o especialista, a busca por “justiça tributária” é inteligente, uma vez que o ajuste se dará não aumentando as alíquotas ou criando novos impostos, mas trazendo para o Fisco setores que estavam favorecidos ou completamente fora.
No entanto, reonerar ou começar a tributar setores é uma briga política “com P maiúsculo”, ressalta Perfeito.
E agora, Banco Central?
Grande parte da expectativa do mercado sobre o arcabouço está no que o Banco Central (BC) pode decidir nas próximas reuniões de definição da Selic, a taxa básica de juros do Brasil.
Neste mês, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a Selic no patamar de 13,75%, onde está estacionada desde agosto do ano passado.
Em comunicado divulgado na época, a autoridade monetária citou a incerteza sobre o arcabouço fiscal e “seus impactos sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública”.
Na ata da última reunião do Copom, o BC sinalizou que, caso o novo arcabouço fiscal viesse bom, haveria espaço para cortar a Selic nos próximos meses.
Nesta quinta, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, declarou em coletiva sobre o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) que o arcabouço fiscal parece bastante razoável, embora falte analisar os detalhes da proposta.
Apesar das boas sinalizações, a previsão de Simonte Tebet de que a Selic pode começar a cair em maio não deve se realizar.
Além da falta de maiores detalhes do arcabouço, o mercado precisa rever suas expectativas de inflação.
Para economistas da Guide, a expectativa é de que o Copom terá espaço para derrubar a Selic em setembro, encerrando o ano com a taxa a 12,25%. No Relatório Focus desta semana, a projeção do mercado para a taxa básica de juros segue em 12,75% para 2023.
Altas e baixas
As ações da Rede D’Or (RDOR3) dispararam quase 9% nesta quinta, seguidas da valorização de 8,57% da Dexco (DXCO3).
Papéis do setor de consumo, em especial o turismo, figuraram entre os destaques positivos do Ibovespa na sessão, com Gol (GOLL4) e CVC (CVCB3) subindo 5,52% e 8,28%, respectivamente.
Outro papel que saltou foi o da Usiminas (USIM5), com ganhos de 7,03%. O grupo Ternium fechou um acordo com a Nippom Steel para assumir o controle da empresa siderúrgica brasileira.
Do mesmo setor da Usiminas, Vale (VALE3) avançou 1,63%. A gigante Petrobras (PETR4), apesar de uma reação mais tímida, conseguiu fechar no campo positivo, mostrando alta de 0,29%.
Embalados pelo bom humor do mercado com o cenário econômico brasileiro à frente, os bancos subiram.