Ibovespa cai mais de 2% com pacote fiscal e sem apoio de Nova York; dólar renova recorde a R$ 5,98

O Ibovespa tombou dos 127 mil para os 124 mil pontos com escalada da aversão ao risco com o anúncio da isenção do IR; bolsas de NY permaneceram fechadas por feriado de 'Ação de Graças" (Imagem: Pixabay)

Sem o apoio das bolsas de Wall Street por conta do feriado do “Dia de Ação de Graças”, Ibovespa (IBOV) perdeu mais de 3 mil pontos com a escalada da aversão ao risco após o anúncio do pacote fiscal.

Nesta quinta-feira (28), o principal índice da bolsa brasileira caiu 2,40%, aos 124.610,41 pontos. Essa foi a maior perda diária desde 2 de janeiro de 2023, quando o índice caiu 3,06%.

Já o dólar à vista (USBRL) terminou a sessão a R$ 5,9895 (+1,29%) —  e renovou a máxima nominal histórica para a divisa desde a criação do real pela segunda sessão consecutiva. Durante a sessão, a moeda norte-americana superou o nível de R$ 6. 

No cenário doméstico, os investidores reagiram ao pacote de corte nos gastos públicos. Ontem (27), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou o corte de e R$ 71,9 bilhões nos próximos dois anos, sendo R$ 30,6 bilhões em 2025 e R$ 41,3 bilhões em 2026. O impacto estimado até 2030 é de R$ 327 bilhões.

Mas o que pesou foi a isenção do Imposto de Renda (IR). para salários de até 5 mil mensais.

Segundo o chefe da pasta econômica, o impacto da isenção do IR será “neutralizado” por um aumento na taxação de salários acima de R$ 50 mil — o que tem sido considerado “insuficiente” pelo mercado.

Nas contas do economista-chefe da Warren Investimentos, Felipe Salto, o pacote fiscal anunciado produzirá uma economia de 62,7% do estimado pelo governo.

Leia também

Dólar

Dólar sobe a R$ 5,98 e renova recorde histórico de fechamento pela 2ª vez consecutiva

Economia

Selic nas alturas: JPMorgan já vê taxa terminal de 14,25% após anúncio de pacote fiscal

“Nossa avaliação é que o efeito fiscal será de R$ 19,2 bilhões em 2025 e de R$ 25,9 bilhões em 2026, totalizando R$ 45,1 bilhões. Esse montante é inferior ao esperado pelo governo (R$ 71,9 bilhões), mas é relevante e está na direção correta”, afirma Salto.

Segundo o economista-chefe, o anúncio da medida de mudança da faixa de isenção do IR acabou ofuscando o eventual efeito positivo do pacote.

“O segundo problema é que os efeitos fiscais são menores do que os esforços requeridos para se cumprir a meta fiscal do ano que vem. Também são insuficientes, mesmo no caso da estimativa do governo, para produzir superávit primário em horizonte próximo. Esta última uma condição indispensável para estabilizar a dívida sobre o PIB”, diz.

• Junte-se à comunidade de investidores do Money Times para ter acesso a reportagens, coberturas, relatórios e mais

Altas e quedas do Ibovespa

Com a aversão ao risco (quase) generalizada, as ações cíclicas, mais sensíveis a fatores macroeconômicos, caíram em bloco com a disparada dos juros futuros. As taxas de Depósitos Interfinanceiros (DIs) aceleraram o ritmo de altas e atingiram 14% nos vencimentos de longo prazo.

Entre os destaques da ponta negativa, CVC (CVCB3) tombou mais de 12%, também pressionado pela forte valorização do dólar.

Os papéis da Natura (NTCO3) apagaram os ganhos da véspera e caíram cerca de 6%, mesmo com o acordo com o Comitê de Credores Quirografários da Avon Products e suas afiliadas devedoras, conhecidas como “Devedores Avon”, considerado positivo pelos analistas.

Na avaliação do Bradesco BBI, o aumento de US$ 4 milhões no acordo foi substancialmente menor do que as expectativas do mercado. Os analistas, porém, mantiveram-se otimistas com o valor potencial que a Natura pode gerar com a integração da Avon na América Latina nos próximos anos e com a conclusão de seus processos de simplificação corporativa.

Entre os pesos-pesados, Vale (VALE3) foi pressionada pelo ‘mal-estar’ do mercado e terminou as negociações com leve recuo a despeito do desempenho do minério de ferro na China. Petrobras (PETR4;PETR3) ignorou a leve recuperação do petróleo e fechou em queda de mais de 1% — a quarta baixa consecutiva.

Já a ponta positiva foi liderada pelas companhias exportadoras, que possuem receitas dolarizadas.  JBS (JBSS3), Suzano (SUZB3), Klabin (KLBN11) e WEG (WEGE3) figuraram as maiores altas da sessão com ganhos acima de 2%.

As bolsas de Nova York retomam as negociações nesta sexta-feira (29), mas com período reduzido — com abertura às 11h30 e fechamento às 13h (horário de Brasília).