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Ibovespa: Gringos compram a rodo; é hora de você comprar também? Veja o que esperar do 2º semestre

30 jun 2023, 19:00 - atualizado em 30 jun 2023, 19:38
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Ibovespa encerra o primeiro semestre em alta de 7,68% (Imagem: Tuane Fernandes/Bloomberg)

O Ibovespa encerra o primeiro semestre de 2023 com saldo positivo de 7,68%. Em pouco mais de um mês, o índice saltou 10%, de 108 mil pontos em 31 de maio para os atuais 118.087 pontos. Nesse meio tempo, a agência de classificação de risco S&P elevou a perspectiva de rating do Brasil de neutro para positivo, coroando a aprovação de medidas como o arcabouço fiscal e a intenção de se aprovar a reforma tributária.

Mais do que isso, indicadores, como o IPCA, o principal índice para medir a inflação, mostrou desaceleração do processo inflacionário que levou o Banco Central a elevar os juros para 13,75%. O discurso de Roberto Campos Neto na última quinta-feira (29) também deu esperanças de que a entidade monetária enxerga cenário melhor daqui para frente.

Diante do cenário, o que esperar do Ibovespa para o segundo semestre? O Money Times conversou com analistas de corretoras, gestoras e casas de análises e a visão é de que alta recente do índice não é um voo de galinha, ou seja, há motivos para que a bolsa tenha disparado 20% desde as mínimas do ano, quando perdeu os 100 mil pontos.

“Produtos de renda fixa estão pagando menos. Então fica uma competição cada vez mais igual, o investidor está mais atento às oportunidades de renda variável.  As gestoras gostariam até de aplicar mais”, observa Gustavo Cruz, Estrategista Chefe da RB Investimentos.

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Gringos compram a rodo

E um dos principais fatores para a arrancada do Ibovespa é a chegada dos gringos. Em meio aos conflitos geopolíticos, com a guerra da Ucrânia causando estragos e uma China com problemas para crescer, o Brasil surge como ‘porto seguro’. Além da estabilidade das instituições, se tudo se confirmar o país pode ser o primeiro a iniciar o corte dos juros.

Até o último dia 28, o saldo de investidores estrangeiros era de R$ 17 bilhões, sendo que só em junho foram colocados R$ 8 bilhões. Em episódio do podcast Market Makers, o economista Sandro Sobral, head de tesouraria do Santander, explica que houve um pico de otimismo com o Brasil enquanto os investidores locais ‘dormiam’.

“O que está acontecendo agora? Inverteu. Os brasileiros estão no pico do otimismo, e os estrangeiros tirando o pouco o pé porque acham que o nível de preço está um pouco exagerado”, argumenta.

Para ele, há um ‘shy buying’, ou uma compra envergonhada de investidores que enxergavam uma situação mais complicada para o país após a eleição do presidente Lula.

“As pessoas estão comprando o Brasil de forma envergonhada; está todo mundo comprando e não está escrevendo porque muitos deles estavam há 60 dias apregoando o caos. E, agora, como o cara justifica que não comprou a bolsa a 97 mil pontos? Está acontecendo uma alocação envergonhada de Brasil”, diz.

Por que o Ibovespa pode subir mais?

Um dos argumentos sustentados pelos analistas para afirmar que o Ibovespa tem potencial de alta no segundo semestre é o fato dele estar nas mínimas históricas. E o P/L (preço sobre o lucro) atual do índice se encontra em 5,5 vezes, o mesmo patamar de 2003, que coincidentemente era o primeiro ano do governo Lula 1.

“Historicamente, a relação preço/lucro neste grupo de empresas nunca ficou muito tempo abaixo de
10x, nível que foi observado no final de 2022 e início de 2023”, destaca a Guide em relatório de perspectivas para o Ibovespa.

Outro sinal de que o mercado de ações ainda está no começo da alta, segundo a corretora, é a performance de ativos de menor qualidade ou de empresas pequenas.

“As small caps historicamente tem desempenho melhor quando os juros estão em queda. Contudo, nos últimos 12 meses a performance das small caps ainda é inferior à do Ibovespa como pode ser visto na figura abaixo”, coloca,

Já Phil Soares, da Órama, vê a bolsa acima de 122 mil pontos. “Teremos, muito provavelmente, um novo ciclo de queda. Um pedaço está no preço, mas outro pedaço não. É muito difícil você ver uma situação de mercado em que 100% de um evento está precificado antes de ele acontecer”, discorre.

Ele diz ainda que ações de grande peso do índice, como Itaú e Bradesco, não estão caras. “Potencial de subir 15% a 20%. A Vale (VALE3)  super descontando. A mineradora está uma barganha, independentemente se o minério se manter. O preço está acima da média histórica, assegura uma rentabilidade boa para a Vale, a 6x, 7x o lucro”, explica.

Outro setor que pode ter altas é o petróleo, pegando a Petrobras (PETR4), prevê Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos. Ele espera que o preço do petróleo reaja no segundo semestre diante da escassez de produção.

Petróleo está nas mínimas do ano e Petrobras não para de subir. Imagina quando o petróleo subir?”, questiona. Ele também está otimista com a Vale.

“Se a China fazer incentivos de verdade, com o país mostrando essa enorme fraqueza, com certeza isso favorece Vale, que está em um ponto muito bom de compra com minério lá embaixo”, completa.

Falas de autoridades, como Arthur Lira, apontam dão otimismo para o processo (Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino)

Reforma tributária pode fazer preço?

O próximo gatilho que deve animar investidores é a reforma tributária. Até o momento, o projeto está em discussão entre os estados. Falas de autoridades, como Arthur Lira, dão otimismo para o processo.

“Muita gente torce para que ela seja aprovada, mas fico desconfiado porque, ao contrário das outras reformas, sabemos que muitos grupos de interesse já estão organizados para garantir o deles. E só a simplificação não sei se vai convencer o investidor a se posicionar mais”, discorre Cruz, da RB.

Marcelo Boragini, sócio da Davos Investimentos e especialista em renda variável, lembra ainda que é preciso esperar qual reforma será feita, já a depender do texto, é possível que setores sejam prejudicados.

“É mais um aditivo para o país, avanço, vem para simplificar, mas é preciso olhar com lupa. De repente o setor de serviços com aumento de carga pode sofrer. Não é tudo lindo e maravilhoso”, coloca.

Quais setores?

As apostas do Inter Research estão voltadas para ativos com exposição ao mercado interno, como varejosetor imobiliáriosaúdeeducação e indústria.

“Estes foram os setores mais prejudicados pelo movimento de alta dos juros. […] Com uma perspectiva mais positiva de queda na inflação e nos juros, além de revisões para cima do PIB, devemos ver um ambiente mais favorável à demanda interna, o que deverá beneficiar também as receitas e os custos dessas empresas, levando a maiores margens”, dizem os analistas.

A grande incógnita é o setor bancário, que pode se beneficiar por um cenário doméstico mais favorável, mas ainda precisa lidar com níveis de inadimplência elevada e crédito restrito.