Ibovespa: Gringos compram a rodo; é hora de você comprar também? Veja o que esperar do 2º semestre
O Ibovespa encerra o primeiro semestre de 2023 com saldo positivo de 7,68%. Em pouco mais de um mês, o índice saltou 10%, de 108 mil pontos em 31 de maio para os atuais 118.087 pontos. Nesse meio tempo, a agência de classificação de risco S&P elevou a perspectiva de rating do Brasil de neutro para positivo, coroando a aprovação de medidas como o arcabouço fiscal e a intenção de se aprovar a reforma tributária.
Mais do que isso, indicadores, como o IPCA, o principal índice para medir a inflação, mostrou desaceleração do processo inflacionário que levou o Banco Central a elevar os juros para 13,75%. O discurso de Roberto Campos Neto na última quinta-feira (29) também deu esperanças de que a entidade monetária enxerga cenário melhor daqui para frente.
Diante do cenário, o que esperar do Ibovespa para o segundo semestre? O Money Times conversou com analistas de corretoras, gestoras e casas de análises e a visão é de que alta recente do índice não é um voo de galinha, ou seja, há motivos para que a bolsa tenha disparado 20% desde as mínimas do ano, quando perdeu os 100 mil pontos.
“Produtos de renda fixa estão pagando menos. Então fica uma competição cada vez mais igual, o investidor está mais atento às oportunidades de renda variável. As gestoras gostariam até de aplicar mais”, observa Gustavo Cruz, Estrategista Chefe da RB Investimentos.
Gringos compram a rodo
E um dos principais fatores para a arrancada do Ibovespa é a chegada dos gringos. Em meio aos conflitos geopolíticos, com a guerra da Ucrânia causando estragos e uma China com problemas para crescer, o Brasil surge como ‘porto seguro’. Além da estabilidade das instituições, se tudo se confirmar o país pode ser o primeiro a iniciar o corte dos juros.
Até o último dia 28, o saldo de investidores estrangeiros era de R$ 17 bilhões, sendo que só em junho foram colocados R$ 8 bilhões. Em episódio do podcast Market Makers, o economista Sandro Sobral, head de tesouraria do Santander, explica que houve um pico de otimismo com o Brasil enquanto os investidores locais ‘dormiam’.
“O que está acontecendo agora? Inverteu. Os brasileiros estão no pico do otimismo, e os estrangeiros tirando o pouco o pé porque acham que o nível de preço está um pouco exagerado”, argumenta.
Para ele, há um ‘shy buying’, ou uma compra envergonhada de investidores que enxergavam uma situação mais complicada para o país após a eleição do presidente Lula.
“As pessoas estão comprando o Brasil de forma envergonhada; está todo mundo comprando e não está escrevendo porque muitos deles estavam há 60 dias apregoando o caos. E, agora, como o cara justifica que não comprou a bolsa a 97 mil pontos? Está acontecendo uma alocação envergonhada de Brasil”, diz.
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Por que o Ibovespa pode subir mais?
Um dos argumentos sustentados pelos analistas para afirmar que o Ibovespa tem potencial de alta no segundo semestre é o fato dele estar nas mínimas históricas. E o P/L (preço sobre o lucro) atual do índice se encontra em 5,5 vezes, o mesmo patamar de 2003, que coincidentemente era o primeiro ano do governo Lula 1.
“Historicamente, a relação preço/lucro neste grupo de empresas nunca ficou muito tempo abaixo de
10x, nível que foi observado no final de 2022 e início de 2023”, destaca a Guide em relatório de perspectivas para o Ibovespa.
Outro sinal de que o mercado de ações ainda está no começo da alta, segundo a corretora, é a performance de ativos de menor qualidade ou de empresas pequenas.
“As small caps historicamente tem desempenho melhor quando os juros estão em queda. Contudo, nos últimos 12 meses a performance das small caps ainda é inferior à do Ibovespa como pode ser visto na figura abaixo”, coloca,
Já Phil Soares, da Órama, vê a bolsa acima de 122 mil pontos. “Teremos, muito provavelmente, um novo ciclo de queda. Um pedaço está no preço, mas outro pedaço não. É muito difícil você ver uma situação de mercado em que 100% de um evento está precificado antes de ele acontecer”, discorre.
Ele diz ainda que ações de grande peso do índice, como Itaú e Bradesco, não estão caras. “Potencial de subir 15% a 20%. A Vale (VALE3) super descontando. A mineradora está uma barganha, independentemente se o minério se manter. O preço está acima da média histórica, assegura uma rentabilidade boa para a Vale, a 6x, 7x o lucro”, explica.
Outro setor que pode ter altas é o petróleo, pegando a Petrobras (PETR4), prevê Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos. Ele espera que o preço do petróleo reaja no segundo semestre diante da escassez de produção.
“Petróleo está nas mínimas do ano e Petrobras não para de subir. Imagina quando o petróleo subir?”, questiona. Ele também está otimista com a Vale.
“Se a China fazer incentivos de verdade, com o país mostrando essa enorme fraqueza, com certeza isso favorece Vale, que está em um ponto muito bom de compra com minério lá embaixo”, completa.
Reforma tributária pode fazer preço?
O próximo gatilho que deve animar investidores é a reforma tributária. Até o momento, o projeto está em discussão entre os estados. Falas de autoridades, como Arthur Lira, dão otimismo para o processo.
“Muita gente torce para que ela seja aprovada, mas fico desconfiado porque, ao contrário das outras reformas, sabemos que muitos grupos de interesse já estão organizados para garantir o deles. E só a simplificação não sei se vai convencer o investidor a se posicionar mais”, discorre Cruz, da RB.
Marcelo Boragini, sócio da Davos Investimentos e especialista em renda variável, lembra ainda que é preciso esperar qual reforma será feita, já a depender do texto, é possível que setores sejam prejudicados.
“É mais um aditivo para o país, avanço, vem para simplificar, mas é preciso olhar com lupa. De repente o setor de serviços com aumento de carga pode sofrer. Não é tudo lindo e maravilhoso”, coloca.
Quais setores?
As apostas do Inter Research estão voltadas para ativos com exposição ao mercado interno, como varejo, setor imobiliário, saúde, educação e indústria.
“Estes foram os setores mais prejudicados pelo movimento de alta dos juros. […] Com uma perspectiva mais positiva de queda na inflação e nos juros, além de revisões para cima do PIB, devemos ver um ambiente mais favorável à demanda interna, o que deverá beneficiar também as receitas e os custos dessas empresas, levando a maiores margens”, dizem os analistas.
A grande incógnita é o setor bancário, que pode se beneficiar por um cenário doméstico mais favorável, mas ainda precisa lidar com níveis de inadimplência elevada e crédito restrito.