Mercados

Ibovespa futuro sobe com exterior; alta do dólar pode elevar Selic em 2020

27 nov 2019, 9:48 - atualizado em 27 nov 2019, 9:57
Dólar EUA
Foco deve ficar nos rumos que o dólar deve tomar depois de ter registrado um novo valor histórico nominal na véspera (Imagem: Reuters/Beawiharta)

Por Investing.com

Após encerrar no terreno negativo nas duas primeiras sessões da semana, o índice Ibovespa Futuros inicia a sessão desta quarta-feira com valorização de 0,36% aos 107.910 pontos, com o dólar operando estável a R$ 4,2382.

A expectativa de um acordo entre Estados Unidos e China, renovada com declaração positiva do presidente dos EUA Donald Trump, segue no radar dos investidores na quarta-feira e alavanca os índices no exterior para ganhos na véspera do feriado americano do Dia de Ação de Graças.

A exceção foi as bolsas chinesas, influenciadas por mais uma rodada de indicadores negativos no setor industrial, afetado pela guerra comercial com os EUA.

Por aqui, o foco deve ficar nos rumos que o dólar deve tomar depois de ter registrado um novo valor histórico nominal na véspera com ruídos na comunicação do governo se tornando mais um fator que contribui para a escalada da moeda americana em relação ao real neste fim de ano.

A nova máxima do dólar impactou na curva de juros, que subiu e começa a sinalizar que o novo ciclo de alta da taxa Selic pode se iniciar em meados de 2020, contrariando a última estimativa dos analistas de mercado no Boletim Focus, que prevê a taxa básica de juros encerrando o ano que vem em 4,5% ao ano.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Cenário Interno

Câmbio

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a autoridade monetária poderá repetir na quarta-feira intervenções cambiais que fez ao longo da sessão desta terça se observar novos gaps de liquidez no mercado.

Em evento promovido pelo jornal Correio Braziliense, Campos Neto reforçou que o câmbio é flutuante e o BC age apenas em caso de problemas de liquidez ou para atenuar movimentos que estão fora do padrão normal.

(Imagem: Reuters/Amanda Perobelli)

“Se amanhã nós entendermos que de novo existe um movimento disfuncional e que o câmbio brasileiro está destoando de outros países… com gap de liquidez nós vamos voltar a fazer intervenção como fizemos hoje”, disse.

dólar até desacelerou a alta depois de dois leilões extraordinários promovidos pelo BC no mercado à vista, mas ainda assim fechou com folga em nova máxima recorde nesta terça-feira, depois de ao longo do pregão disparar a quase 4,28 reais e cravar novo pico histórico também para o intradia.

Ruídos na comunicação

A disparada do dólar a quase 4,28 reais nesta terça-feira, para novos recordes nominais históricos, é reflexo de novo episódio de ruídos na comunicação de membros do governo, o que começa a contaminar de forma explícita outros mercados locais e eleva riscos quanto ao cenário de juros baixos.

Mesmo agentes financeiros, os quais de forma geral têm elogiado a agenda reformista e as medidas pró-mercado do Executivo, passaram a adotar tom mais crítico em relação a falas de alguns integrantes da equipe econômica. E nem o Banco Central escapa das reclamações.

(Imagem: Reuters/Adriano Machado)

O mais recente fato gerador de instabilidade foi a declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, nos Estados Unidos, de que o câmbio de equilíbrio do Brasil agora é mais depreciado devido ao juro baixo.

“Quando você tem um fiscal mais forte e um juro mais baixo, o câmbio de equilíbrio também ele é mais alto”, afirmou Guedes em entrevista coletiva na embaixada brasileira em Washington.

A interpretação do mercado foi: a alta do dólar não é um problema. Com a sensação de que a moeda acima de 4,20 reais não incomoda, os players viram espaço para reforçar as compras, o que automaticamente empurrou a cotação para acima da máxima histórica anterior, de 4,2482 reais na cotação de compra.

O movimento lembra muito o de 27 de agosto passado –por coincidência, também uma terça-feira–, quando comentário do próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, provocou uma corrida por dólares.

Juros em alta

A maior preocupação do mercado com a recente alta do dólar é o risco de o juro precisar subir antes do esperado.

“Avisa ao Paulo Guedes que se continuar falando… não temos que nos acostumar com dólar alto só não, mas com juros também”, disse Ivo Chermont, sócio e economista-chefe da Quantitas, num momento em que os sinais de retomada econômica ainda são embrionários.

(Imagem: Pixabay)

A curva de DI já mostra Selic média de 5,3% no último trimestre de 2020, acima do patamar atual (5%) e 80 pontos-base acima do nível de 4,50% esperado pelo mercado para o fim de 2019 e de 2020. A curva começa a embutir altas de juros em meados de 2020.

Nesta terça, o DI janeiro 2021 chegou a saltar 12 pontos-base. Esse contrato reflete as expectativas do mercado para o rumo da Selic de hoje até o fim de 2020.

A inclinação entre os DIs janeiro 2025 e janeiro 2021, uma medida de risco, saltava a 1,84 ponto percentual, distante da marca de 1,50 ponto do começo de novembro.

O risco de altas de juros pressionou ainda o mercado de ações, que se beneficia de taxas mais baixas na renda fixa. O Ibovespa fechou em queda de 1,16% (segundo dados preliminares), pouco acima dos 107 mil pontos, descolando de Wall Street, que bateu novos recordes históricos.

Orçamento

O governo revisou os parâmetros macroeconômicos que balizam o projeto do Orçamento de 2020, o que resultou na redução das despesas e receitas previstas para o próximo ano, segundo mensagem modificativa do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) encaminhada nesta terça-feira ao Congresso Nacional.

(Imagem: REUTERS/Ricardo Moraes)

Como a equipe econômica já havia antecipado, a meta de déficit primário, de 124,1 bilhões de reais, não sofreu alteração. Mas, acompanhando a atualização dos parâmetros, houve redução nas estimativas do governo para a receita líquida —de 1,356 trilhão de reais para 1,348 trilhão de reais- e para a despesa total -de 1,480 trilhão de reais para 1,472 trilhão de reais.

O valor do salário mínimo em 2020 foi reduzido para 1.031 reais, de patamar anterior de 1.039 reais, acompanhando redução da estimativa para a inflação.

Reforma Administrativa

O governo do presidente Jair Bolsonaro deve encaminhar apenas no início de 2020 a proposta de reforma administrativa que chegou a ser esperada para este ano, disse nesta terça-feira o porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros.

(Imagem: Valter Campanato/Agência Brasil)

“No tocante à reforma administrativa… o presidente solicitou ao Ministério da Economia que aprofundasse alguns detalhes da proposta encaminhada pelo ministério à apreciação do senhor chefe do Poder Executivo para então deliberar sobre o envio dessa proposta ao Congresso Nacional”, disse o porta-voz em briefing regular à imprensa.

“Então nós temos como uma linha temporal enviarmos a proposta da reforma administrativa no início do ano que vem”, acrescentou o porta-voz.

Cenário Externo

China

Os índices acionários da China recuaram nesta quarta-feira uma vez que dados fracos de lucro industrial destacaram a crescente pressão sobre a economia, compensando a declaração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de um acordo comercial inicial com Pequim está próximo.

Os lucros das empresas industriais da China encolheram em outubro no ritmo mais forte em oito meses, de acordo com dados oficiais.

(Imagem: Reuters/Aly Song)

Os lucros industriais caíram 9,9% em outubro na comparação anual, para 427,56 bilhões de iuanes (60,74 bilhões de dólares), na maior queda desde o período de janeiro-fevereiro e comparado com recuo de 5,3% em setembro.

Trump disse que os EUA estão na “fase final” do trabalho sobre um acordo que pode acabar com 16 meses de guerra comercial com a China, mas também destacou o suporte de Washington aos manifestantes em Hong Kong.

Impeachment de Trump

O apoio popular pelo impeachment do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem crescido de maneira constante nas últimas semanas, à medida que um comitê da Câmara dos Deputados tem conduzido audiências televisionadas, de acordo com uma pesquisa da Reuters/Ipsos divulgada nesta terça-feira.

A última pesquisa, realizada entre segunda e terça-feira, mostrou que 47% dos adultos nos Estados Unidos acreditam que Trump “deveria sofrer o impeachment”, enquanto 40% disseram que ele não deveria.

(Imagem: Reuters/Tom Brenner)

O resultado, combinado com pesquisas Reuters/Ipsos nas últimas semanas, mostrou que o número de norte-americanos que querem o impeachment do presidente vem sendo cada vez maior do que os que não querem.

Pouco antes das audiências começarem no dia 13 de novembro, a pesquisa Reuters/Ipsos mostrou que o “apoio líquido” ao impeachment, que consiste na diferença entre o número dos que apoiam o impeachment e o número dos que opõem, era de 3 pontos percentuais

BOLSAS INTERNACIONAIS

Em TÓQUIO, o índice Nikkei avançou 0,28%, a 23.437 pontos. Em HONG KONG, o índice HANG SENG subiu 0,15%, a 26.954 pontos. Em XANGAI, o índice SSEC perdeu 0,13%, a 2.903 pontos. O índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em XANGAI e SHENZHEN, retrocedeu 0,41%, a 3.875 pontos.

A sessão de quarta-feira mostra-se positiva nos principais mercados de ações da Europa. Em Frankfurt, o DAX tem ganhos de 0,31% aos 13.276 pontos, enquanto que em Londres, o FTSE soma 0,36% aos 7.430 pontos. Já em Paris, o CAC avança 0,03% aos 5.931 pontos.

COMMODITIES

Pelo segundo dia consecutivo, a jornada desta quarta-feira foi marcada por queda nos preços dos contratos futuros do minério de ferro, que são transacionados na bolsa de mercadorias de Dalian, na China.

(Imagem: Bloomberg)

No entanto, desta vez as perdas foram mais expressivas, de 2,14% a 641,50 iuanes por tonelada, nos casos dos ativos com data de vencimento em janeiro de 2020, o de maior volume de negócios. Isso representa uma variação de 14 iuanes em relação aos 655,50 iuanes do valor de liquidação registrado na véspera.

No mesmo sentido a sessão também foi negativa para os papéis futuros do vergalhão de aço, operados na também chinesa bolsa de mercadorias de Xangai. O contrato de maior liquidez, para janeiro do próximo ano, cedeu 45 iuanes para 3.596 iuanes por tonelada. Já os de maio, segundo em volume, perdeu 14 iuanes para 3.360 iuanes por tonelada.

Já para o petróleo, a quarta-feira começa positiva nas principais praças de negociação. O barril do tipo Brent, de Londres, soma 0,33%, ou US$ 0,21, a US$ 63,42, enquanto que em Nova York, o WTI ganha 0,19%, ou US$ 0,11, a US$ 58,52.

MERCADO CORPORATIVO

Magazine Luiza 

A varejista Magazine Luiza anunciou nesta terça-feira que assinou uma parceria para integrar seu marketplace, incluindo a Netshoes, ao sistema Omnichannel da Linx.

(Imagem: LinkedIn da Magazine Luiza)

“Com a parceria, os usuários do sistema Linx OMNI OMS poderão facilmente publicar seu catálogo de produtos online e offline no nosso marketplace e acelerar suas vendas”, afirmou o Magazine Luiza no comunicado.

Além disso, vendedores no marketplace do Magalu e que são usuários do mesmo sistema Linx poderão usar seus próprios pontos físicos como opção de entrega ou retirada de produtos vendidos no Magalu.

Vale 

A Vale afirmou nesta terça-feira que fará uma baixa contábil de aproximadamente 3,2 bilhões de dólares no quatro trimestre, após reavaliar ativos de metais básicos e carvão, e não descartou impairments adicionais ainda em 2019.

No caso de metais básicos, responsável por metade da baixa contábil total, a ação foi necessária após uma revisão das operações da Nova Caledônia, disse a empresa em fato relevante.

(Imagem: Reuters/Ricardo Moraes)

A Vale reduziu os níveis esperados de produção ao longo da vida útil remanescente da mina e registrará um impairment de cerca de 1,6 bilhão de dólares no trimestre, de um total de aproximadamente 3 bilhões de ativos nessas operações, afirmou.

“A revisão anual dos ativos da companhia na Nova Caledônia será concluída até fevereiro de 2020 e ajustes adicionais que necessitam ser implementados estão em avaliação e, consequentemente, impairments adicionais que podem impactar o ano fiscal de 2019 não podem ser descartados ainda”, afirmou.

Mineração

A Agência Nacional de Mineração (ANM) fez nesta terça-feira vistorias em barragens em Minas Gerais para detectar eventual comprometimento de segurança, após tremores de terra de magnitude 3.2 na véspera, informou a autarquia, que não apontou anomalias até o momento.

A ANM vistoriou sete estruturas, da Vale e da CSN, em Congonhas e Ouro Preto, e não foi necessário acionar nenhuma emergência. Outras duas barragens Vigia e Auxiliar do Vigia, da CSN, ainda serão inspecionadas.

(Imagem: Douglas Engle/Bloomberg News.

“A ANM determinou também que as duas empresas intensifiquem a inspeção e o monitoramento diário de todas as barragens envolvidas”, disse em nota o chefe de Segurança de Barragens da ANM em Minas Gerais, Wagner Nascimento.

Procurada, a CSN informou que suas unidades não sofreram impactos e as operações seguem normalmente. Já a Vale respondeu que não foi observada até o momento nenhuma anomalia nas estruturas geotécnicas, que são monitoradas pelo Centro de Monitoramento Geotecnico.

Máquinas e equipamentos

A receita líquida da indústria de máquinas e equipamentos do Brasil em outubro subiu 1,9% sobre o mesmo período do ano passado, para 7,64 bilhões de reais, puxada pela demanda interna, informou nesta terça-feira a associação que representa o setor, Abimaq.

Segundo a entidade, o consumo aparente de máquinas no Brasil disparou 33,7% na mesma comparação, para cerca de 14 bilhões de reais. No ano, o indicador acumula crescimento de 15,9%, a 107,24 bilhões de reais.

(Imagem: Reueters/Ina Fassbender)

A Abimaq citou melhora nas vendas de bens sob encomenda, voltados para grandes projetos e que costumam carregar margem melhor de lucro, principalmente para os setores de celulose e mineração.

Mas as exportações do setor recuaram 21% em outubro sobre um ano antes, apesar do câmbio mais favorável, enquanto as importações subiram 39,7%, para 1,95 bilhão de reais, em meio a medidas tomadas pelo governo federal de redução de imposto de importação para uma série de equipamentos neste ano.

Celulose

Os embarques mensais de celulose cresceram 6,6% em outubro na comparação ano a ano, para 4,210 milhões de toneladas, conforme dados do Conselho de Produtos de Celulose e Papel (PPPC, na sigla em inglês) compilados por analistas em relatórios enviados a clientes nesta terça-feira.

Os embarques de fibra curta avançaram 7,3%, para 1,976 milhão de toneladas, e os de fibra longa cresceram 6%, para 2,096 milhões de toneladas.

(Imagem: Reprodução/YouTube Klabin)

No que diz respeito às regiões, os embarques para a China subiram 32,9%, enquanto para a Europa recuaram 4,1% e para a América do Norte caíram 8,9% em outubro ante outubro de 2018. No caso da fibra curta, houve alta de 47% nos embarques para a China, com quedas de 1% para Europa e 22% para América do Norte.

O movimento corrobora com comentários das produtoras Suzano e Klabin, que citaram recentemente aumento de demanda na China, apesar de níveis de estoques ainda elevados.

BRF 

Analistas do Bradesco BBI cortaram o preço-alvo das ações da BRF para o final de 2020 de 50 para 47 reais, citando preços mais elevados de grãos, mas reiteraram recomendação “outperform”, citando entre outras razões que as papéis negociam a múltiplos atrativos.

“Nós acreditamos que as ações da BRF foram excessivamente punidas pelas preocupações dos investidores sobre os preços/volumes de frango desde o início de novembro”, observaram Leandro Fontanesi e equipe, em relatório a clientes.

(Imagem: REUTERS/Rodolfo Buhrer)

Eles estimam que a recente alta nos preços da carne bovina no Brasil possa permitir que os processadores de frango aumentem os preços em até cerca de 30%, supondo que eles retornem ao desconto histórico em relação à carne bovina – “com isso, estamos incorporando preços mais fortes de frango em 2020”.

A equipe do Bradesco BBI também destaca que as empresas disseram que os recentes volumes mais baixos de exportação de frango foram impulsionados por uma decisão temporária de esperar preços mais altos.

MRV 

Analistas do JPMorgan cortaram a recomendação para as ações da MRV e da Tenda, citando pressões de curto prazo na margem bruta das construtoras voltadas para a baixa renda, conforme relatório a clientes nesta terça-feira.

No caso da MRV, Marcelo Motta e equipe reduziram a recomendação para “neutra”, com o preço-alvo caindo de 22 para 20 reais.

(Imagem: Facebook MRV)

Eles esperam margens bruta ainda pressionadas neste trimestre e começo de 2020, refletindo maior rigor na concessão de crédito no Minha Casa Minha Vida e necessidade da empresa de aumentar o pro-soluto ou diminuir a velocidade de vendas.

“Do lado positivo, apesar de seu foco no programa MCMV, a MRV continuou investindo nos últimos anos para criar uma plataforma que permita lançamentos no SBPE, que fornece à empresa flexibilidade para enfrentar possíveis quedas no programa MCMV.”

AGENDA DE AUTORIDADES

Jair Bolsonaro

O presidente da República começa a quarta-feira participando da Abertura da I Feira de Sustentabilidade do Polo Industrial de Manaus – FesPIM, viajando em seguida para Altamira (PA), onde estará presente na Cerimônia de Inauguração da Usina Hidroelétrica de Belo Monte. No final da tarde, retorna para Brasília.

Paulo Guedes

– Reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) – Eletrônico;

– Audiência com o diretor-presidente do Sebrae, Carlos Melles;

– Audiência com o CEO da TOTAL Eren no Brasil, Pierre Emmanuel Moussafir.