Ibovespa fecha no zero a zero diante de incertezas fiscais
O Ibovespa (IBOV) fechou com acréscimo discreto nesta sexta-feira, mas acumulou desempenho semanal negativo, diante de um ambiente ainda conturbado no Brasil, sem trégua na tensão político-institucional e nas incertezas fiscais, em meio a uma crise hídrica e preocupações com a inflação e a atividade econômica
Em Brasília, a Câmara dos Deputados aprovou nesta semana a reforma do Imposto de Renda, criando tributação de dividendos e acabando com o mecanismo de juros sobre capital próprio (JCP), o com repercussão negativa na bolsa.
“A reforma tributária tem sido confusa… o que gera imprevisibilidade e receios de investidores”, afirmou o gestor de renda variável da Western Asset, Cesar Mikail.
Ao mesmo tempo, um revés no Senado em votação sobre mudanças de regras trabalhistas trouxe desconforto sobre a capacidade de o governo avançar com reformas, incluindo a segunda fase da reforma tributária que, após passar pelo plenário da Câmara, será apreciada por senadores.
Alguns agentes avaliam que a chance de aprovação do texto do IR pelos senadores não é desprezível, uma vez que os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara, Arthur Lira, buscam um acordo que envolve a votação do Refis pela Câmara e a votação do projeto do IR pelo Senado.
Em paralelo, o presidente Jair Bolsonaro continuou atacando ministros do Supremo Tribunal Federal e chamando apoiadores para protestos em 7 de setembro, quando estão previstas manifestações a favor e contra o governo.
Todo esse ruído político, segundo o sócio e economista da VLG Investimentos, Leonardo Milane, está fazendo com que a curva longa de juros continue abrindo, o que leva a um desinteresse por tomar risco. “E as ações acabam sendo a classe de ativos mais penalizada”, afirmou.
Ao mesmo tempo, dados nos últimos dias mostraram que o PIB brasileiro encolheu no segundo trimestre, frustrando expectativas, com economistas reduzindo a projeção para o ano. A produção industrial no país também começou o segundo semestre com uma queda acima da prevista.
O comportamento dos preços no país também continua minando o sentimento de agentes financeiros, com o Banco Central sinalizando que agirá com mais altas da Selic – pesquisa Focus já estima a taxa em 7,5% no final deste ano e de 2022.
No exterior, Wall Street teve novas máximas do S&P 500 e do Nasdaq na semana, em meio a perspectivas de que o Federal Reserve não deve apressar a redução de estímulos monetários nos EUA, visão que ganhou força após números do mercado de trabalho.
De acordo com Mikail, há um conjunto de eventos domésticos descolando o mercado brasileiro do exterior. Milane acrescentou que, enquanto o ruído político não acalmar, será difícil ver o fechamento da curva de juros longa e a bolsa reagindo.
A semana na B3 ainda refletiu ajustes de posições com a troca de mês e antes da nova composição do Ibovespa, a partir de segunda-feira, que passa a incluir mais sete ações, totalizando 91 ativos de 84 empresas.
Nesta sexta-feira, o Ibovespa subiu 0,22%, a 116.933,24 pontos, após ajuste, mas acumulou perda de 3,1% na semana. Em setembro, mostra um declínio de 1,56%. No ano, a queda agora é de 1,75%.
O índice Small Caps recuou 0,74%, a 2.765,89 pontos, com queda de 5,19% na semana e 2,92% no mês, contabilizando uma perda de 2% em 2021.
O volume negociado no pregão nesta sexta-feira somou 41,3 bilhões de reais.
Veja o comportamento dos principais índices setoriais na B3 no acumulado do mês:
– Índice financeiro: -3,37%
– Índice de consumo: -0,65%
– Índice de Energia Elétrica: +0,04%
– Índice de materiais básicos: -0,92%
– Índice do setor industrial: -1,49%
– Índice imobiliário: -4,45%
– Índice de utilidade pública: +0,07%