Medo de ingerência em estatais volta à cena e pressiona Ibovespa
Ameaças explícitas do presidente Jair Bolsonaro de troca no comando da Petrobras (PETR4) reavivaram o receio de ingerência do governo federal, colocando ações de estatais na mira de ordens de venda na Bovespa nesta sexta-feira.
Após ter chegado a flertar com as mínimas do mês, o Ibovespa recuperou-se parcialmente à tarde, antes de fechar em baixa de 0,64%, aos 118.430,53 pontos, com influência positiva de Wall Street e com a queda do dólar beneficiando algumas ações.
Na semana encurtada pelo feriado prolongado de Carnaval, o índice teve perda acumulada de 0,83%.
Manifestações dúbias do presidente, que tenta também evitar ameaça de greve de irados caminhoneiros e a insatisfação popular com a escalada dos preços dos combustíveis, foram insuficientes para evitar uma derrocada das ações da petroleira, assim como de outras estatais federais, como Banco do Brasil e Eletrobras, e empresas de outros setores mais sujeitos a regulação do governo.
Para Leonardo Milane economista da VLG Investimentos, o episódio amplia o leque de preocupações do mercado em relação ao Brasil, num ambiente já tomado por um ambiente fiscal frágil e de dúvidas crescentes sobre o andamento de agendas reformistas no Congresso Nacional.
Um alívio parcial sobre o índice veio de ações que também têm forte peso na composição da carteira, caso de empresas ligadas a commodities metálicas.
Além disso, uma tentativa de recuperação em Wall Street e a queda do dólar contra o real estimularam compras pontuais na bolsa paulista, como de ações de companhias aéreas.
Embora encurtada pelo feriado prolongado de Carnaval, a semana foi marcada por uma nova onda de empresas se preparando para listagem na Bovespa, com cinco pedidos de ofertas iniciais de ações, incluindo dos grupos de saúde, Mater Dei e Caledonia, da produtora de etanol de milho FS, da varejista online Privalia e da fabricante de lâmpada de LED Unicoba.
Além disso, estrearam no mercado Eletromidia, CSN Mineração e Orizon.
A próxima semana começa com o vencimento de opções sobre ações, na segunda.
Além disso, GPA, CSN, Gerdau, Ambev, BRF e Gol, entre outras, dão sequência à temporada de divulgação de balanços do quarto trimestre.
Destaques
Petrobras (PETR4) desabou 6,63%, enquanto Petrobras (PETR3) perdeu 7,92%, com os receios de interferência na política de preços da estatal.
Nesta sexta, Bolsonaro reafirmou que “que teremos mudança sim na Petrobras”, sem dar detalhes, ampliando temor de troca na presidência da empresa.
Banco do Brasil (BBAS3), cujo presidente executivo semanas atrás também foi alvo de ameaça de demissão por Bolsonaro, caiu 1,89%.
Eletrobras (ELET3) retrocedeu 1,32%.
Ibr Brasil (IRBR3) recuou 3,91%, após a atribulada resseguradora ter anunciado prejuízo de 620,2 milhões de reais entre outubro a dezembro, afetada por reversão de crédito tributário no exterior, entre outros fatores. Em 2020, o prejuízo foi de 1,5 bilhão de reais.
B2W (BTOW3) teve ganho de 6,81%, enquanto sua controladora Lojas Americanas (LAME4) subiu 1,39%. Após o fechamento do pregão, ambas anunciaram planos para potencial combinação de negócios.
Santander Brasil (SANB11) subiu 0,62%, mas Bradesco (BBDC4) teve baixa de 0,84%, enquanto Itaú Unibanco (ITUB4) encolheu 1,04%.
GPA (PCAR3), que divulga balanço do quarto trimestre na próxima terça-feira, subiu 3,26%. Sua unidade de atacarejo Assaí, que está sendo cindida, apresenta seus números um dia antes, na segunda, após o fechamento do pregão.
CSN (CSNA3) avançou 3,22%, após a S&P elevar o rating da companhia de “B” para “B+”, com perspectiva positiva. A siderúrgica levantou recursos com a venda de uma fatia na CSN Mineração (CMIN3), que fez sua estreia na bolsa na quinta-feira.
Usiminas (USIM5), cujo rating a S&P elevou de “B+” para “BB-“, cresceu 0,94%.
Locaweb (LWSA3), fora do índice, disparou 14,6%, após ter anunciado na véspera a compra de duas plataformas de e-commerce: Credisfera, de soluções de crédito para pequenas e médias empresas, e Dooca, que ajuda lojistas a montar loja virtual.