Ibovespa fecha com maior queda diária desde 1998; Petrobras tomba 30%
A bolsa paulista teve o pior dia em mais de duas décadas nesta segunda-feira, em sessão marcada por circuit breaker e com as ações da Petrobras desabando 30% após decisões da Arábia Saudita derrubarem os preços do petróleo e adicionarem incertezas a um mercado já atingido por temores sobre os reflexos do coronavírus na economia global.
O Ibovespa caiu 12,17%, a 86.067,20 pontos, mínima desde dezembro de 2018 e a maior queda percentual diária desde setembro de 1998, ano marcado pela crise financeira russa. O volume financeiro foi expressivo e somou 43,9 bilhões de reais, ante média diária de 26,8 bilhões no ano.
Após essa segunda-feira, o Ibovespa passou a acumular queda de 25,6% em 2020.
“Ainda estamos passando por um momento perigoso, com extrema volatilidade”, chamou a atenção a equipe do BTG Pactual.
Por volta de 10:30, a bolsa acionou o circuit breaker, quando o Ibovespa tocou 88.178,33 pontos, uma queda de 10,25%. Os negócios foram paralisados por 30 minutos.
A última vez que o circuit breaker foi acionado foi em 18 de maio de 2017, no que ficou conhecido no mercado como “Joesley Day”, após vir a público gravação de conversa entre o então presidente Michel Temer e o empresário Joesley Batista e sua delação relacionada a atos de corrupção envolvendo políticos.
O petróleo Brent fechou em queda de 24,1%, a 34,36 dólares o barril, após a Arábia Saudita ter sinalizado que elevará a produção para ganhar participação no mercado, bem como cortado preços oficiais de venda de petróleo. Na mínima, o Brent caiu 30%, o maior recuo diário desde a Guerra do Golfo, em 1991.
A guerra aberta pela Arábia Saudita no front da produção de petróleo contra a Rússia chegou em um momento no qual o mercado ainda se mostra fragilizado pela rápida disseminação da epidemia do novo coronavírus pelo mundo e promovendo fortes ajustes poucas semanas após renovarem máximas.
O recorde histórico do Ibovespa para fechamento foi registrado em 23 de janeiro deste ano, a 119.527,63 pontos.
“Nesse cenário, a tendência é que o mercado adote postura conservadora e se feche”, afirmou o presidente da corretora BGC Liquidez, Erminio Lucci, alertando que não há solução fácil, mas que os governos devem estudar medidas de estímulo econômico, principalmente fiscal e via compra direta de ativos.
Destaques
Petrobras (PETR4) fechou em queda de 29,7%, o maior declínio percentual diário para um fechamento, a 16,05 reais, mínima desde junho de 2018. Petrobras (PETR3) recuou 29,68%, a 16,92 reais.
Tal desempenho representou uma perda de cerca de 91 bilhões de reais no valor de mercado da petrolífera de controle estata. O ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, descartou nesta segunda-feira medidas emergenciais a serem tomadas pelo governo diante da forte queda do petróleo.
Vale (VALE3) caiu 15,2%, a 37,83 reais, menor cotação de fechamento desde fevereiro de 2018, equivalente a uma perda em valor de mercado de 35,8 bilhões de reais. A mineradora, assim como outras siderúrgicas, foi contaminada pelas vendas generalizadas nos mercados, além da queda do minério de ferro na China.
A Vale também divulgou que o talude norte da cava de sua mina de Gongo Soco, em Barão de Cocais (MG), “continua deslizando para dentro da estrutura”.
Itaú (ITUB4) perdeu 6,93% e Bradesco (BBDC4) caiu 7,2%, também afetados pelo clima negativo no mercado como um todo. BTG Pactual (BPAC11) liderou as perdas entre os bancos do Ibovespa, com queda de 18,07%
Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4) derreteram 17,43% e 17,01%, respectivamente, prejudicadas pela valorização do dólar, além de apreensões sobre o efeito negativo da disseminação global do novo coronavírus na demanda por viagens.
Via Varejo (VVAR3) despencou 17,13%, também entre as maiores quedas, tendo de pano de fundo forte valorização do papel em 2019 e no começo do ano. A rival Magazine Luiza (MGLU3) perdeu 10,96%.
Hypera (HYPE3) caiu 10,4%, tendo no radar resultado divulgado após o fechamento do mercado na sexta-feira, com queda de 22,9% no lucro líquido do quarto trimestre, para 238,8 milhões de reais no quarto trimestre de 2019.
A empresa afirmou em teleconferência sobre o resultado que deve reduzir promoções e descontos em 2020 e contratar hedge para aquisição de parte de ativos latino-americanos da Takeda.
(Atualizada às 18h22)