Ibovespa espera IPCA-15 para ir para o confronto com o BC e recuperar-se da ‘Super Queda’
O Ibovespa (IBOV) inicia o pregão desta sexta-feira (24) depois de uma sessão para esquecer. A Super Queda no dia seguinte à Super Quarta teve um único culpado: o Banco Central. Os mercados domésticos acreditavam que o Comitê de Política Monetária (Copom) adotaria uma postura mais realista e pragmática frente às mudanças recentes no cenário.
Uma pena que o que se viu foi o contrário. A autoridade monetária optou por manter um tom duro (“hawkish”) em relação à condução da taxa Selic, descartando qualquer chance de corte em breve. O problema é que há mais fatores em jogo do que somente a questão fiscal.
E ao atribuir a possibilidade de retomar o ciclo de alta dos juros básicos devido ao combate à inflação, o Copom simplesmente ignorou a crise bancária no exterior bem como a situação do mercado de crédito por aqui. Caso o IPCA-15 confirme logo mais (9h) a previsão de desaceleração em março, o BC vai acabar ficando sem argumentos.
Daí então vai ficar claro que preferiu iniciar uma nova rodada na queda de braço com o governo. Ainda bem que o Copom tem a chance de descarregar um pouco as tintas na ata, prevista para a próxima terça-feira, se o IPCA-15 realmente vier mais fraco como o esperado hoje.
Ibovespa também olha para o exterior
Aliás, o Deutsche Bank parece ser a bola da vez no exterior. O tombo de cerca de 10% nas ações do tradicional banco alemão nesta manhã dão sinais de que Jerome Powell tinha razão ao dizer que ainda é cedo para afirmar que os riscos de contágio após a quebra do Silicon Valley Bank (SVB) foram contidos.
Com isso, os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram em queda firme, acompanhando as perdas ao redor de 2% das praças europeias. O comportamento lá fora indica mais um dia no vermelho para o Ibovespa. Aliás, as condições financeiras locais também dão sinais de aperto não desprezível.
Não parece ser preciso dizer que esse cenário deve ter impacto relevante no crescimento econômico nos próximos meses, tanto aqui quanto lá fora, respingando, obviamente, na inflação. Daí porque os investidores estão cada vez mais preocupados com os riscos de uma recessão, o que praticamente ofusca o alívio com qualquer fim do ciclo de aperto dos juros pelo Federal Reserve.
Assim, “o maior inimigo do Brasil hoje é o Banco Central”. E essa avaliação não vem de Brasília, mas sim da Faria Lima. “Com dor no coração”, os gestores estão zerando posição na bolsa brasileira, ao mesmo tempo em que buscam proteção no dólar e embutem prêmios nos juros futuros.
O fato é que tanto o Fed quanto o Copom falharam no papel regulador do sistema financeiro, seja em impedir a recente turbulência bancária lá fora ou no agravamento do crédito por aqui. Agora, ambos os BCs não deveriam deixar o restante da luta contra a alta dos preços para o aperto de crédito pelos bancos. Afinal, não cabe ao setor bancário controlar a inflação.
Confira o desempenho dos mercados globais por volta das 8h:
EUA: o futuro do Dow Jones recuava 0,84%; o do S&P 500 caía 0,70% e o Nasdaq cedia 0,39%;
NY: o Ibovespa em dólar (EWZ) tinha queda de 1,70% no pré-mercado; entre os ADRs, os da Vale perdiam 0,94%, enquanto os da Petrobras caíam 1,45%
Europa: o índice pan-europeu Stoxx 600 tinha queda de 1,71%; a bolsa de Frankfurt cedia 2,16%, a de Paris recuava 2,14% e a de Londres caía 1,88%;
Ásia: o índice japonês Nikkei 255 caiu pela segunda sessão, com -,13%, enquanto o Hang Seng, em Hong Kong, interrompeu três altas e recuou 0,67%, e a Bolsa de Xangai teve queda de 0,67%;
Câmbio: o índice DXY tinha alta de 0,67%, 103.22 pontos; o euro cedia 0,97%, a US$ 1,0730; a libra tinha baixa de 0,69%, a US$ 1,2202; o dólar tinha queda de 0,74% ante o iene, a 129,88 ienes;
Treasuries: o rendimento da T-note de dez anos estava em 3,305%, de 3,422% na sessão anterior; o rendimento da T-bill de 2 anos estava em 3,607%, de 3,846% na mesma comparação;
Commodities: o futuro do ouro tinha leve alta de 0,04%, a US$ 1.996,70 a onça na Comex; o futuro do petróleo WTI derretia 3,67%, a US$ 67,32 o barril; o do petróleo Brent despencava 3,49%, a US$ 73,26 o barril; o contrato futuro do minério de ferro (maio) fechou em baixa de 1,04% em Dalian (China), a 855 yuans a tonelada métrica, após ajustes.