Mercados

Ibovespa em queda: Temor com postura mais agressiva do Fed atropela expectativa sobre Copom

14 jun 2022, 15:39 - atualizado em 14 jun 2022, 16:07
B3 Ibovespa 56
Movimento da Bolsa brasileira nos últimos dias é “100% global”, diz especialista (Imagem: Divulgação/B3)

O Ibovespa (IBOV) abriu esta semana como terminou a última: em queda. No fechamento desta segunda-feira (13), o maior índice da Bolsa brasileira derreteu 2,73%, caindo para o menor patamar desde 10 de janeiro deste ano. Hoje, terça-feira (14), o mercado segue em baixa e está próximo de voltar à marca dos 100 mil pontos.

A aversão a risco não afeta somente o Ibovespa, mas também os mercados globais. A China ainda tenta conter o surto de Covid-19 no país, enquanto o Banco Central Europeu (BCE) sinalizou que começará a elevar os juros em julho. No entanto, as preocupações recaem especificamente sobre a decisão de política monetária nos Estados Unidos.

Alex Lima, estrategista-chefe da Guide Investimentos, diz que o movimento da Bolsa brasileira nos últimos dias é “100% global”.

“O que está acontecendo é uma reprecificação das expectativas de aumento de juros nos EUA. Em três dias, o S&P 500 caiu 9%. Quando o movimento é forte assim, não interessa o que está acontecendo no Brasil; puxa para baixo mesmo”, comenta o especialista.

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Impacto do Fed na Bolsa

Sócio e economista-chefe do Banco Modal, Felipe Sichel afirma que a pressão dos mercados se deve à perspectiva em relação à dinâmica inflacionária nos EUA.

Autoridades monetárias dos EUA anunciarão amanhã o resultado da reunião de dois dias sobre as taxas de juros do país. Os mercados, que esperavam uma alta de 0,5 ponto percentual, amargaram suas expectativas para um aumento ainda mais agressivo, de 0,75 ponto percentual, após a divulgação de dados de inflação acima do esperado na semana passada.

Os últimos números indicam que o Fed precisará fazer um esforço maior do que estava sendo precificado, avalia Sichel, ao passo que a confiança sobre a maneira como o banco central norte-americano está guiando a atividade econômica do país para uma desaceleração perde terreno.

Igor Cavaca, diretor de gestão de investimentos na Warren Asset Management, explica que o evento é importante para determinar a intensidade desse ciclo contracionista nos EUA, uma vez que a decisão trará impactos para a economia mundial, incluindo o Brasil.

Quando o Fed sobe os juros, em geral, existe um transbordamento dessa subida para o Brasil”, diz. “Se, vamos dizer, o Fed sobe 2 pontos percentuais, pelo menos 30-40% desse aumento vão atingir o país”.

Cavaca comenta que ativos de risco sempre levam em conta a taxa de juros do momento. Com juros muito elevados, os mercados acabam colocando preços mais baixos para ativos de risco, pois entendem que eles não estão pagando retorno excedente tão interessante em comparação com a renda fixa.

Outro ponto levantado por Cavaca é que os mercados precificam o futuro. Com a expectativa de mais aumento de juros no exterior, é normal que uma boa parcela de investidores estrangeiros saia do Brasil para acessar outros ativos lá fora, afirma o especialista.

Além disso, a temida recessão global voltou a ser discutida, trazendo mais incertezas sobre o desempenho das empresas de capital aberto.

“Como os juros estão muito altos, isso pode acabar gerando impacto negativo na economia nos próximos dois anos, e isso pode fazer com que empresas passem a rentabilizar menos seu capital”, afirma Cavaca.

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Copom em segundo plano?

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BCB) também divulga nesta quarta-feira (15) a decisão sobre a Selic, taxa básica de juros do Brasil.

Segundo o estrategista-chefe da Guide, embora a divulgação do resultado da reunião do Copom tenha efeito na dinâmica do setor financeiro no Brasil, o tom negativo predominante nos mercados globais acaba se sobrepondo aos efeitos do mercado doméstico.

Consenso do mercado é de que o BC comunique uma elevação de 0,5 ponto percentual nesta semana, elevando a Selic a 13,25% ao ano (Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Lima destaca que o Brasil vive um ciclo diferente da economia norte-americana.

“A gente está falando de um ajuste residual, até porque o último número de inflação no Brasil veio melhor que o esperado. Em tese, é até positivo para a Bolsa. Mas o movimento lá fora foi tão forte que acabou atropelando qualquer expectativa”, diz.

Sichel, do Modal, diz que o posicionamento do Copom parece “bem sedimentado” em relação ao que foi apresentado na reunião do mês passado.

O consenso do mercado é de que o BC comunique uma elevação de 0,5 ponto percentual nesta semana, elevando a Selic a 13,25% ao ano. Em agosto, espera-se que o Copom aumente mais 0,5 ponto percentual dos juros, a 13,75%.

O patamar dos 13,75% deve ser um gatilho para o BC indicar que está pausando o ciclo de altas, afirma o economista-chefe do Modal.

Mais queda pela frente?

No curto prazo, o Ibovespa deve seguir pressionado, avaliam os especialistas. Eles até levantam a possibilidade de o índice cair abaixo dos 100 mil pontos, visto que uma elevação de 0,75 ponto percentual pelo Fed pode assustar o mercado.

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Por outro lado, assim que o BC do Brasil determinar o nível de equilíbrio dos juros, o Ibovespa pode ver um ponto de inflexão, afirma Cavaca, da Warren.

“Quando se inicia o ciclo de redução, os ativos de risco vão ficando mais atrativos. E o ponto principal: o mercado está sempre olhando o futuro. Então, uma vez que viu que o futuro pode começar a reduzir os juros, ele já começa a entrar no mercado de Bolsa agora”, comenta o especialista.

Lima, da Guide, acredita que o momento atual se traduz em bom ponto de entrada no mercado de ações brasileiro.

Principalmente abaixo dos 100 mil pontos. Aí a Bolsa ficará com múltiplo abaixo de 7 vezes o lucro, que é historicamente um bom ponto para entrar”, explica.

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