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Ibovespa em queda livre: Existe possibilidade de recuperação até o fim do ano?

17 nov 2022, 14:47 - atualizado em 17 nov 2022, 14:47
Ibovespa/Bolsa de Valores B3
Ibovespa opera abaixo dos 110 mil pontos com mercado de olho na PEC da Transição (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

A fase boa da primeira semana pós-eleições durou pouco. As declarações do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o teto de gastos estremeceram os últimos resquícios de confiança que o mercado tinha quanto a um terceiro mandato do petista.

O Ibovespa saiu de uma semana positiva para terminar em outra acumulando perdas de 5%. Nesta semana encurtada pelo feriado da Proclamação da República, o índice caminha para fechar novamente em baixa, tendo recuado 2,57% só nesta quarta-feira (16).

Hoje, quinta-feira (17), o Ibovespa perdia 2,44% por volta das 14h35, em reação à apresentação da PEC de Transição ao Congresso, que confirma que serão necessários R$ 175 bilhões para cumprir todos os compromissos assumidos por Lula em suas promessas de campanha.

Ontem, o relator-geral do Orçamento de 2023, senador Marcelo Castro (MDB-PI), classificou a PEC da Transição como de caráter emergencial e o mínimo para manter o país respirando.

“O que estamos fazendo hoje é de caráter emergencial, o mínimo que estamos fazendo para o novo governo respirar”, disse o relator.

Segundo Castro, o governo de Lula deverá cortar subsídios, fazer a reforma tributária e taxar lucros e dividendos.

Confiou demais?

Na avaliação de Felipe Simões, economista e diretor da WIT Asset, o “benefício da dúvida” concedido pelo mercado a Lula foi prematuro. De acordo com o especialista, o mercado comprou a imagem de um Lula mais pragmático, do início do governo do petista.

“O que está acontecendo nestas duas últimas semanas… A gente está vendo que não é bem assim. O discurso [de Lula] está muito mais alinhado com o segundo mandato dele e com o [governo] de Dilma [Rousseff]”, afirma.

Régis Chinchila e Luis Novaes, da equipe de análise da Terra Investimentos, afirmam que o mercado vive um momento de “expectativas quebradas” com as primeiras ações do novo governo.

“O mercado esperava que o aumento de gastos além do teto fosse apenas para garantir o pagamento adicional dos programas sociais, como prometido em campanha. A PEC indica a possibilidade de que esses gastos com programas sociais sejam inteiramente mantidos fora do teto e por tempo indeterminado, considerando que nenhum prazo foi estipulado”, reforçam.

O que pode melhorar o humor do Ibovespa

Para Simões, da WIT Asset, é difícil cravar em qual patamar o Ibovespa terminará o ano, uma vez que existe muita expectativa sobre a divulgação dos nomes que vão compor os ministérios do governo Lula.

“É isso o que o mercado está monitorando mais agora, quem vai compor o Ministério da Economia“, destaca o economista.

Simões afirma que, tão importante quanto saber quem será o próximo ministro da pasta, o mercado deve olhar para a equipe que vier junto.

“Mesmo se for um nome mais político, ligado ao PT e que desagrade o mercado, se pelo menos a equipe que vier junto for mais coerente, talvez dê uma aliviada na Bolsa neste mês e meio que temos até o fim do ano”, avalia.

Analistas da Terra reforçam que o peso da indefinição de um nome e o que esperar sobre as políticas voltadas à economia do país são o que prendem o Ibovespa a um viés negativo – por isso, a perspectiva de queda no primeiro momento tende a se manter.

“O governo eleito pode reverter essa situação através da sinalização de algumas reformas para os próximos anos, mas é cedo para saber. As projeções só ficarão mais claras depois que o governo assumir o poder e nomes para os ministérios forem anunciados”, comentam Chinchila e Novaes.

Eles destacam, no entanto, que, além do detalhamento da PEC da Transição, o humor do mercado melhorará apenas se um nome com ideias mais voltadas ao mercado e responsabilidade fiscal for anunciado.

“São fatores com potencial para recuperar a valorização da Bolsa no curto prazo”, concluem os analistas.

No médio/longo prazo, é preciso se atentar a dois pontos interessantes envolvendo a Bolsa, segundo o diretor da WIT Asset: (i) o nível de preços que muitas ações estão negociando está extremamente baixo comparado com níveis históricos; e (ii) tem muito investidor de fora.

“Os grandes fundos do Brasil ainda não recompraram de maneira agressiva a posição em Bolsa. O investidor pessoa física só sai, com pouca gente aportando ao longo deste último ano. E o investidor estrangeiro, que era o único que estava comprando de maneira mais agressiva, deu uma saída vertiginosa nestas duas últimas semanas por conta das declarações do Lula. A gente só vê fluxo de saída”, destaca.

Segundo Simões, pensando no longo prazo, o fluxo na Bolsa tem muito mais a crescer do que diminuir.

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