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Ibovespa é ‘lua’ com Bolsonaro? O que esperar do índice no longo prazo?

28 out 2022, 16:30 - atualizado em 28 out 2022, 20:07
Carteira de renda fixa
“São reformas estruturais e demoram mais tempo para maturar sobre os mercados financeiros e a próprio economia real”, coloca (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

O Ibovespa subiu cerca de 30% entre os dias 29 de outubro de 2018, quando Jair Bolsonaro foi eleito, e o fechamento da quinta-feira (27). 

Nesse período, tivemos juros em mínimas e um dos maiores ciclos de cortes do Banco Central da história, pandemia da Covid, guerra na Ucrânia, entre outros eventos. Em 2018, Bolsonaro prometeu uma agenda de reformas liberais e privatização das estatais.

Para um eventual próximo mandato, o atual presidente chega com as mesmas propostas.

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O que o mercado espera de Bolsonaro?

A esperança de parte do mercado é que com um Paulo Guedes fortalecido e um Congresso mais favorável a Bolsonaro, o ministro consiga passar as reformas, como a tributária e a fiscal. Também podem avançar as tão sonhadas privatizações da Petrobras (PETR4) e do Banco do Brasil (BBAS3).

Segundo analistas ouvidos pelo Money Times, hoje, os agentes financeiros preferem Bolsonaro na Presidência porque entendem que o atual mandatário é a continuidade. Por outro lado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva traria incertezas.

Até o momento, o candidato é pressionado a indicar um ministro da Economia.

“O governo Bolsonaro poderá retomar uma agenda que foi deixado de lado pelo mercado por conta da pandemia, mas ainda, sim, existiu”, coloca o analista da Empiricus, Matheus Spiess.

Além disso, o analista afirma que se eleito, Bolsonaro poderá colher os benefícios nas reformas estruturais feitas nos últimos seis anos, incluindo o governo Temer

“São reformas estruturais e demoram mais tempo para maturar sobre os mercados financeiros e a própria economia real”, coloca.

Na visão de Vicente Guimarães, CEO da VG Research, o mercado está disposto a dar o benefício da dúvida para um eventual próximo governo Bolsonaro.

Ele não acha difícil esperar nesse cenário o Ibovespa atingindo os 150 mil pontos e uma apreciação ainda maior do real, com o dólar voltando a ser negociado na faixa de R$ 4,80. 

“O mercado também iria supor redução na Selic já no primeiro semestre de 2023 e voltar para os níveis inferiores a 10% no começo de 2024. Um cenário benéfico para a bolsa brasileira”, completa.

João Guilherme, da Apolo Investimentos, lembra que a tendência do Ibovespa no longo prazo é de alta. “Simplesmente porque, mais hora menos hora, a inflação estará sob controle (acredito que já esteja acontecendo) e abrirá espaço para cortes de juros. Então a renda variável ficará mais atrativa em relação à renda fixa”, discorre.

Estatais em disparada

Petrobras e Banco do Brasil possuem grande participação no Ibovespa e devem andar bem com Bolsonaro eleito, avaliam os analistas. As duas companhias disparam nesse ano em meio aos resultados recordes e dividendos. 

A Levante diz que o BB em um governo Bolsonaro é livre para emprestar e cobrar taxas de juro de mercado, além de ter reportado o maior lucro líquido dos bancos no segundo trimestre de 2022. 

“A ação está subavaliada em 82% do valor patrimonial devido ao risco de intervenção caso Lula e PT sejam eleitos”, coloca.

Já a Petrobras, sem intervenção do governo, pode ser privatizada, possui política de paridade de importação (PPI), investe apenas em projetos que maximizam o retorno do capital na exploração e produção de petróleo e alto retorno em dividendos e JCP.

“Ambas essas empresas estão com múltiplos bastante descontados e isso não condiz com o momento operacional. Mas toda essa incerteza pesa sobre as ações e por isso justifica o múltiplo que olhamos hoje. A continuidade da pauta liberal do Guedes deve ajudar no geral”, afirma o analista da Ouro Preto Investimentos, Bruno Komura.

O teto de gastos é outro ponto de preocupação. As duas campanhas avaliam derrubar a medida e Guedes já a criticou em diversos momentos (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

Desafios fiscais à frente

Apesar do otimismo, uma nova gestão de Bolsonaro não estaria livre de desafios. O primeiro seria desarmar a bomba fiscal que o próprio governo armou com a PEC Kamikaze, que concedeu benefícios para categorias profissionais e elevou o Auxílio Brasil para R$ 600. A expectativa é que o benefício se mantenha em R$ 600, seja quem for eleito.

“Não seria um passeio no parque. A questão fiscal impacta diretamente o orçamento público. É o calcanhar de Aquiles do governo brasileiro. Independentemente do vitorioso, precisará abordar uma questão fiscal importante, reforma tributária. Isso será difícil e estressante”, coloca Spiess, da Empiricus.

Guimarães, da VG Research, coloca que o mercado está definitivamente preocupado com a evolução da dívida pública e Orçamento de 2023. 

“Em um contexto em que arrecadação tende a ser menor (baixo crescimento econômico) e temos muitas despesas adicionais, os juros da dívida irão pressionar o Orçamento”, afirma.

O teto de gastos é outro ponto de preocupação. As duas campanhas avaliam derrubar a medida e Guedes já a criticou em diversos momentos.

“Havia um bom viés de controle de dívida nos últimos anos, mesmo com os gastos do Auxílio Brasil e os planos de apoio durante a pandemia. Apesar disso, a tendência da dívida é de alta e os gastos desse ano podem surpreender negativamente”, ressalta João Guilherme, da Apollo.

Mas para Komura, a não formulação de uma âncora fiscal seria um tiro na própria perna, pois pressionaria o dólar e afastaria investimentos, o que, a longo prazo, poderia afetar a popularidade do presidente.

“Existe um incentivo para que o presidente tenha uma âncora fiscal. A credibilidade é muito importante”, discorre.

Riscos externos

Uma possível recessão mundial poderia jogar um balde de água fria no Ibovespa?

“Se tivermos uma recessão americana muito mais aguda do que o mercado espera, todas as bolsas globais irão performar mal. Seja com Lula na presidência ou Bolsonaro”, discorre Guimarães.

Já João Guilherme, da Apolo Investimentos, argumenta que parte da recessão já está no preço do índice acionário brasileiro.  

“É esperado para o próximo ano uma recessão. O que não está no preço é uma escalada da guerra da Ucrânia, com eventual entrada de outros países e esse parece ser um risco que começa a aparecer no horizonte. Esse fator externo pode impactar de maneira forte todos os mercados novamente”, completa.

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