Ibovespa despenca 10% e tem pior desempenho anual desde 2021: o que pressionou o índice em 2024?
Em 2024, o Ibovespa (IBOV) frustrou as expectativas do mercado e saiu da casa dos 135 mil pontos do início do ano para o nível dos 120 mil pontos. O índice acompanhou — e foi pressionado — pelas nuances das políticas monetárias local e dos Estados Unidos e o aumento das incertezas sobre o cenário fiscal doméstico.
O principal índice da bolsa brasileira acumulou queda de 10,36% no ano, o pior desempenho desde 2021.
O que mexeu com o Ibovespa em 2024?
O principal índice da bolsa brasileira contrariou as expectativas e fechou o ano em forte queda.
A cautela com o cenário fiscal doméstico e a demora no corte de juros nos Estados Unidos estão entre os motivos que seguraram o Ibovespa no tom negativo.
A tensão aumentou após o anúncio duplo do pacote de contenção de gastos — amplamente esperado pelo mercado — e de um projeto de reforma do Imposto de Renda — que prevê a isenção para salários de R$ 5 mil por mês — no penúltimo mês do ano.
Mesmo com a aprovação dos três projetos que compõem o pacote fiscal pelo Congresso e o adiamento do debate sobre mudanças no IR para 2025, agentes financeiros ainda questionam a efetividade das medidas na contenção das despesas e duvidam da determinação do governo em reduzir a dívida pública.
Com as expectativas de inflação desancoradas e a deterioração do mercado doméstico, o afrouxamento monetário do início do ano foi abandonado pelo Banco Central, que voltou a elevar os juros.
Em uma rápida retrospectiva, a taxa básica de juros, a Selic, iniciou o ano em 11,25%. O BC reduziu 50 pontos-base em março, para 10,75%, e mais 25 pontos-base na reunião de maio— que causou um ‘alvoroço’ no mercado com a divisão entre os colegiados.
A Selic permaneceu a 10,50% por duas reuniões seguidas (junho e julho) e voltou a subir nos três encontros seguintes (setembro: 10,75%; novembro: 11,25% e dezembro: 12,25%).
Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), além de elevar a Selic em 100 ponto-base, a 12,25% ao ano, o colegiado do BC ainda sinalizou que a Selic deve atingir 14% ao ano até março de 2025.
O cenário externo também pesou com a frustração das expectativas por uma série de cortes nos juros nos Estados Unidos, pelo Federal Reserve, o Banco Central norte-americano.
Em janeiro, os operadores projetavam até seis reduções de juros pelo BC norte-americano. Mas a autoridade monetária fez apenas três cortes — de 100 pontos-base acumulados — o que provocou ganhos nos rendimentos (yields) dos títulos do Tesouro dos EUA, os Treasuries, ao longo do ano, valorizando o dólar ante divisas globais.
A moeda norte-americana também foi favorecida pela vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos Estados Unidos, com medidas de protecionismo econômico que devem fortalecer o dólar ainda mais e favorecer o cenário de juros mais altos no país.
Com os juros elevados nos EUA, os investidores tendem a injetar mais capital em ativos como os Treasuries, considerados os títulos mais seguros do mundo, retirando o fluxo de dólares dos países emergentes — principalmente, em investimentos de renda variável.