Ibovespa desaba, perde resistência e pode encontrar os 101 mil pontos; ‘gringo está indo embora’
O Ibovespa cai forte na sessão desta sexta-feira (24) puxado pelo cenário externo e dados do IPCA-15, termômetro tido como uma prévia da inflação oficial brasileira. Por volta das 13h45, o índice recuava 1,37%, a 106.123 pontos.
Já em Wall Street, os índices acionários norte-americanos também tinham quedas pronunciadas: Nasdaq cedia 1,75%; o S&P 500 tinha queda de 1,17% e o Dow Jones caía 1,02%.
Nos Estados Unidos, o aumento nos gastos com consumo e o índice de preços PCE, ambos em janeiro, elevaram os temores de que o Federal Reserve manterá a postura agressiva na política monetária por mais tempo.
O índice de preços de despesas de consumo pessoal (PCE), o indicador de inflação preferido do Fed, subiu 0,6% no mês passado, após alta de 0,2% em dezembro. Nos 12 meses até janeiro, o índice PCE acelerou 5,4%, após alta de 5,3% em dezembro.
“Os dados, querendo ou não, trouxeram uma aversão de risco mais forte. Os indicadores ainda mostram um mercado de trabalho extremamente aquecido, enquanto os últimos números revelam uma inflação ainda elevada, e principalmente, acima da meta”, coloca o estrategista da Ajax Asset, Rafael Passos.
Ainda segundo ele, tudo leva a crer que o Fed manterá os juros altos por mais tempo, próximo a 5,25%. “Esse movimento contrapõem a visão que havia em janeiro”, completa.
Ibovespa vê gringo indo embora
Além disso, Passos pondera que com o cenário de juros mais altos nos EUA, os investidores estrangeiros estão saindo do Brasil. “E quanto o gringo sai, ele sai com os papéis mais líquidos da bolsa, como setor financeiro e de commodities“, diz.
Aliás, entre as maiores perdas do Ibovespa hoje, estão justamente CSN (CSNA3) e Itaú (ITUB4).
Dados atualizados até a sexta-feira passada (17) mostram que o ritmo de retirada de capital externo da B3 foi bem mais intenso. Os gringos sacaram mais de R$ 3,5 bilhões em apenas em ações dois dias, às vésperas do carnaval.
As vendas maciças inverteram o saldo dessa conta no acumulado em fevereiro, para o negativo, e reduziram o superávit no ano.
De acordo com Victor Benndorf, da corretora que leva o seu nome, os dados norte-americanos deram um banho de água fria nas expectativas de que haveria algum tipo de redução na política restritiva tanto aqui quanto lá fora.
Já no Brasil, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15) ficou em 0,76% em fevereiro, após alta de 0,55% em janeiro, informou nesta sexta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado ficou acima da mediana das projeções de mercado, que estimavam alta de 0,72% na prévia da inflação. Em fevereiro de 2022, o IPCA-15 subiu 0,99%.
“Os mercados estavam criando expectativas otimistas demais, de que o cenário irá mudar em breve, mas não vai. A economia americana ainda está rodando muito forte”, argumenta.
Ibovespa perde resistência
Com o cenário macro mais desafiados, merece atenção alerta da equipe gráfica do Itaú BBA. Segundo eles, com o Ibovespa abaixo dos 106.700 pontos, há o risco de entrar em tendência de baixa, com próximos suportes em 103.800 e 101.600 pontos.
“O índice segue pressionado no suporte e se perder essa região entrará em tendência de baixa no curto prazo”, diz, em relatório. “Somado a isso, os índices acionários norte-americanos perderam a tendência de alta de curto prazo, o que aumenta a aversão a risco”, completa.